Brasília, 7
de setembro de 2015.
Mais uma
vez, uma medida do atual (des)governo federal marcou a história do país.
Lamentavelmente, mas é fato. Fruto de um atavismo intelectual e moral sem
precedentes foi determinada a (re)construção dos “muros” da vergonha, nas
imediações do Palácio do Planalto, para separar o povo, de sua principal
mandatária, a Presidenta da República. Com isso, desfez-se, por si só, um
autofágico discurso de que era possível reunificar o Brasil e haver uma
reunificação. O (des)governo que tanto se dizia popular expôs a céu aberto sua
total impopularidade.
É uma
constatação: o nível deste atavismo intelectual e moral desafia senão a
história do Brasil, a história de um dos países mais civilizados do primeiro
mundo. Se em 1789 a França derrubou os muros da Bastilha do Ancien Régime,
através do que representou (e ainda representa) o movimento intelectual da
Revolução Francesa, o (des)governo federal do Brasil, na contramão da história
e da evolução, determinou a (re)construção destes “muros”, de modo a
transformar o habitat do Palácio do Planalto, numa verdadeira Bastilha. Uma
espécie de ode intempestivo ao absolutismo. Algumas diferenças são visíveis
neste retrocesso, com mais de 225 anos, é claro. A primeira é que na Bastilha
brasileira não se encontram intelectuais aprisionados para serem salvos, tal
como havia na Bastilha francesa. Pelo contrário, os intelectuais brasileiros
estão, aos milhões, do lado de fora, e clamam pela salvação, mesmo que em
liberdade. Um paradoxo. A segunda é que as armas existentes dentro da Bastilha
brasileira são, consideravelmente, mais leves e mais letais que as encontradas
na Bastilha francesa do século XVIII. Vai ver são os sinais dos tempos. Em vez
de pólvora, fuzis e canhões, simplesmente as armas brasileiras são canetas
utilizadas para “dar canetaços”, por dezenas de mãos que detém o poder e que
estão manchadas de tinta, pela prática reiterada, ao longo de 12 anos, de toda
espécie de crimes, seja por ação, seja por omissão, seja com intenção ou culpa,
destaco, contra a soberania do país, contra o povo brasileiro ou contra a
Administração Pública.
No papel,
consta que somos uma república federativa e que vivemos em uma democracia, “só
que não”. Isso foi tornado visível com claridade solar, através da maior estrela,
a Soberana Dilma Rousseff, a qual fez questão de registrar na íris dos cidadãos
brasileiros a existência de um gigantesco hiato entre o discurso e a prática.
Hiato este bem traduzido pela distância imposta a cada brasileiro, do
Rolls-Royce presidencial, do qual a Soberana acenava, não se sabe para quem,
como se nada estivesse acontecendo ou por acontecer. Eis o retrato do desfile
da Independência: um (des)governo manifesto, isolado, distante, incapaz,
apático, esfacelado, sitiado dentro de si mesmo e completamente dependente de
tudo que engendrou. A (re)construção dos “muros” da vergonha é o símbolo desta
ideologia. Sobrou até para os militares, que no dia seguinte, tiveram de
engolir um “canetaço Dilmático”, qual seja, o Decreto nº. 8.515/15. Em síntese,
com tal ordem, as Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) foram
tratadas como aspirantes a escoteiros do Ministro da Defesa. Sim, pasmem, este
mesmo que usa boné vermelho do MST.
São milhares
de outros “muros” já instalados pelo (des)governo federal. “Muros” que
representam a existência de uma verdadeira fábrica federal para instalação em
série, de tudo que se tenha por inefetivo, em termos de gestão. Contanto que na
gestão ocorra o locupletamento ilícito de verbas públicas, a fábrica federal de
“muros” não apenas possui expertise, como é hors concurs. “Muros” simbolizados
pelo tamanho de tantas mentiras contadas e concretizadas pelas autoridades, das
quais se infere que informações oficiais, hoje, se tornaram apenas a acepção do
que se concebe como pífio. “Muros” de uma organização criminosa travestida de
ParTido PolíTico. “Muros” de corrupção, de improbidades, de imoralidades, de
fraudes, de ilegalidades das mais diversas. “Muros” que ao serem instalados em
série afetaram a geografia do território brasileiro, ensejando em um passe de
mágica, a construção de mansões ou de castelos e de novos xeiques. A altura e
extensão destes “muros” faz a muralha da China passar vergonha, quando vista do
espaço sideral. “Muros” para delimitar as plantações de “laranjas” que
frutificaram de norte a sul, como seus “empresários bem sucedidos”, ou
“doutores com trânsito político”; ilustres desconhecidos que viraram
celebridades, do dia para a noite, ostentando patrimônios completamente
incompatíveis com seus vencimentos. Um misancene da ilicitude ou da
volatilidade de suas vidas, uma e outra dissolvidas logo na próxima
investigação policial ou no próximo processo, tal como se dissolve um monte de
açúcar, com o primeiro jarro de água. Milhares de famílias se beneficiaram (e
ainda se beneficiam) direta ou indiretamente deste “negócio” imoral e
criminoso, às custas de milhões de brasileiros, através de um engodo
apresentado ao mundo, com ares de nobreza ou como produto de um exemplar
processo democrático, como se todos fossemos milhões de Cândidos. Só o Brasil
mesmo para se tornar uma universidade de autoridades Panglossianas. Autoridades
estas, das mais diversas, agraciadas como as respectivas moedas de trocas, de
modo que cada uma, tal como quem se vende, certamente, recebeu mais do que
realmente vale. Ministros se reunindo a portas fechadas com lobistas e
empreiteiros que eram investigados e réus em processos. Quanta deferência para
alguns, não é Excelências!
Até
percentuais foram fixados, conforme o vulto de cada “negócio”, nos contratos da
Petrobrás, para este ou para aquele partido, como propina. E quando tudo veio à
tona, fomos “bombardeados” com propagandas em horário nobre, tentando nos fazer
crer, que o sentimento que embalou os sonhos de gerações de um país, quando a
referida Estatal foi fundada, nas promessas de uma nação com futuro próspero, é
o mesmo que está nos corações de todos que agora. Uma manobra midiática, a
duros golpes televisivos, tentando causar nos brasileiros um ufanismo, do
inufanável, como se não soubéssemos discernir a mentira, da verdade. Os
corações sabem ter pagado tributos por muito tempo, mais do que podiam e, por
nada, porque os gestores do (des)governo foram os próprios usurpadores do
poder. Não fosse isso, por que se cogita ainda novos tributos? Por que
(re)implementar a CPMF? Por que aumentar a carga tributária? E por que não
reduzir a carga atual? E os “muros” seguiram sendo construídos e sustentados
não por nós brasileiros, porque nós jamais saberemos, com exatidão, as cifras
do que revelou seja o mensalão ou a operação lava-jato. Não porque elas são
imensuráveis, mas porque em se tratando de absolutismo, ou seja, de Brasil,
somos inigualáveis na aplicação da Lei... a Lei do laissez faire, laissez
aller, laissez passer (deixar fazer, deixar ir, deixar passar). Uma panaceia da
irresponsabilidade das autoridades constituídas.
Se nos
reportarmos ao período eleitoral, quando a Soberana postulava a reeleição, o
povo já tinha ficado atônito ao assistir o conselho dado a uma economista (com
MBA) que para se recolocar no mercado de trabalho e ter um emprego deveria
fazer os cursos do Senai ou do Pronatec. Não bastasse isso, o povo sabe e sente
na carne imperar a falta de empregos no Brasil, a despeito da Soberana ter
afirmado não existir desemprego no país, em plena campanha de reeleição. O povo
já sentia náuseas da Soberana ter posado com ares de indiferença, quando soube
do agradecimento pelos “relevantes serviços prestados à nação”, a quem estava
no Conselho de Administração da Hidrelétrica de Itaipú, sendo que este cidadão
ao deixar o cargo, o fez sob as mais pesadas investigações da operação
lava-jato. Que serviços foram estes e que nação foi esta é que gostaríamos de
saber. Certo que não eram serviços recomendáveis. Mais certo ainda que a nação
não pode ter sido o Brasil. Aliás, também é certo que este “companheiro de
alguns” foi reconhecido por muitos dos investigados na referida operação, como
“Moch”, dada a perfeita identidade com os traços e as funções do carregador de...
tcham, tcham, tcham... mochilas de dinheiro ilícito, para todos os cantos do
país. Como se se já não bastasse seu antecessor na tesouraria do ParTido ter
sido condenado, pelos mesmos crimes em que é investigado. O povo, até hoje não
entende como ficava sabendo de tudo pelos meios de comunicação de massa e a
Soberana, mesmo sendo detentora do poder e de todas informações da
Administração Pública, inclusive as reservadas, as restritas, as confidenciais,
as sigilosas, e as de segredos de estado, alegava levianamente, ou melhor, de
forma trêfega, que não sabia de nada, seguindo a descompostura exemplar de seu
antecessor, com “auréola de santo”, em outros tempos. O povo não tem mais
condicionamento físico, para suportar as tantas “pedaladas fiscais”. Sente-se traído,
quando dia a dia, desembrulha o pacote das promessas de campanha, todas sem
exceção, reveladas como mentiras e provas cabais da violação axiológica do teor
de cada voto computado. Se é que houve lisura no processo eleitoral, pois o
sistema adotado pelo Brasil foi rejeitado pelo Paraguai, pasmem, por falta de
segurança e credibilidade. Pelo Paraguai! É dose! O povo foi subestimado com as
tentativas do (des)governo de tentar proibir a CPI do BNDES, para que não
viessem à tona negócios escusos, a exemplo dos feitos com o governo de Cuba,
bem como diante da prevaricação e da omissão da Soberana, dado o “êxito dos
negócios” de um comerciante que, em um ano, não passava de alguém que atuava no
ramo de fechamento de varandas e, do dia para noite, apareceu com duas empresas
de engenharia (mesmo sem ser engenheiro) estabelecidas em Angola, só que agora,
seus negócios eram enlaçados com a Odebrecht, via BNDES, simplesmente, por ser
conhecido na Corte, como “sobrinho de Lula”. Não cabe mais a Soberana culpar o
tomate da sexta básica pela inflação, nem saudar a mandioca, como uma das
maiores conquistas do Brasil. Verdade seja dita, não cabe mais muita coisa. E o
que principalmente não cabe mais é esperar, porque se tudo continuar como está,
não restará mas Brasil dentro de poucos meses.
“Muros” que
pareciam muralhas. Aos olhos de quem os construiu e de quem os permitiu
construir, pareciam intransponíveis. Aos olhos de quem sentiu na carne,
realmente, o impacto da construção de cada um, seus construtores sempre foram
pequenos, muito pequenos. “Muros” que não servem para edificar um país. Estes
“muros” nos separam e nos destroem e não podem ser tratados como uma empreitada
que nos enriquece.
Impõe-se
cassar as canetas deste absolutismo e defenestrar, pelas vias constitucionais,
democráticas e republicanas, estas autoridades da vida pública brasileira.