O jornal O Estado de S. Paulo revelou neste sábado que relatório de análise de mídia elaborado pela Polícia
Federal revela os bastidores de um jantar em São Paulo, na residência do
empresário Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, em 28 de
maio de 2012, do qual participou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Também foram convidados o ex-ministro Antonio Palocci, empresários, banqueiros,
o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e dois sindicalistas
mencionados na Operação Lava Jato.
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"Através da leitura das mensagens acerca deste
evento foi possível inferir, grosso modo, que: a) O jantar foi realizado a
pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva", aponta o relatório da
PF. "d) Foram enviadas mensagens individuais para cada um dos convidados
por I.B.G."
A relação entre Lula e a construtora Odebrecht é alvo de
um procedimento investigatório criminal (PIC) aberto pela Procuradoria da
República no Distrito Federal. A suspeita é de que a empreiteira teria obtido
vantagens com agentes públicos de outros países por meio de suposto tráfico de
influência do petista, que deixou o Planalto no fim de 2010. A Odebrecht nega
ter sido favorecida. Lula não é investigado na Lava Jato.
Nas buscas que realizou na casa do empreiteiro, na manhã
de 19 de junho, durante a 14.ª etapa da Lava Jato, a PF apreendeu documentos,
correspondências e mídias. Um HD que estava em um cofre no quarto de Marcelo
Odebrecht armazenava troca de mensagens sobre o jantar.
"Emílio e Marcelo Odebrecht têm o prazer de
convidá-la para um jantar com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, no qual será discutida a situação da economia brasileira face a
conjuntura internacional", diz o e-mail enviado pela presidência da
Odebrecht para Juvandia Moreira Leite, presidente do Sindicato dos Bancários de
São Paulo, em 17 de maio de 2012. "Confirmo a minha presença no jantar com
a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Saudações
sindicais", respondeu Leite.
Ontem, o relatório de análise de mídia foi anexado aos
autos da Lava Jato. No documento, a PF aponta para a presença de Juvandia Leite
e Sergio Aparecido Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
"Os dois sindicalistas convidados para o evento são
também sócios da Editora Gráfica Atitude, empresa apontada pelo empresário
Augusto Ribeiro de Mendonça Neto como intermediária de pagamentos de propina
destinados ao Partido dos Trabalhadores", registra a PF.
Juvandia Leite e Sergio Nobre são administradores da
Editora Gráfica Atitude. Segundo denúncia do Ministério Público Federal, uma
parte da propina paga para o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque
na Diretoria de Serviços foi direcionada por empresas do grupo Setal Óleo e
Gás, controlado por Augusto Mendonça - delator da Lava Jato - para a Editora
Gráfica Atitude Ltda.
O pagamento teria sido feito a pedido do então tesoureiro
do PT João Vaccari Neto. Os procuradores da força-tarefa sustentam que existem,
ainda, "vários indicativos de ligação da Gráfica Atitude com o PT".
O Instituto Lula afirmou, por meio de nota, que "é
de conhecimento público que o ex-presidente tem por hábito reunir pessoas de
diversos segmentos para debater a conjuntura nacional". A Odebrecht
informou que repudia "o vazamento seletivo e malicioso de informações que
buscam cobrir de suspeitas até mesmo um evento absolutamente comum no meio
empresarial e político".
A defesa de Lula entrou ontem com uma reclamação
disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público para requerer apuração
da conduta do procurador Valtan Timbó Mendes Furtado - autor do pedido de
Procedimento de Investigação Criminal (PIC) contra Lula por suposto tráfico de
influência em favor da empreiteira Odebrecht no exterior. O Instituto Lula
pediu "nulidade de inquérito"