De dezembro de 2014 a dezembro de 2015, os gabinetes dos
desembargadores que integram a 8ª Turma de julgamento do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (TRF4) tiveram um ritmo de trabalho muito mais intenso do
que o normal.
Em 2015, os três desembargadores federais que atuam na turma
especializada em matéria criminal julgaram aproximadamente 300 processos
relacionados à Operação Lava Jato.
O número refere-se aos recursos decorrentes das decisões
proferidas pela 13ª Vara Federal de Curitiba, nos quais os réus buscam um novo
julgamento, que no tribunal é realizado por um colegiado. O TRF4 analisa os
recursos cabíveis de todas as determinações do juiz federal Sérgio Moro, desde
as sentenças de primeiro grau aos mandados de busca e apreensão, interceptações
e os decretos de prisão. Mais da metade dos processos foi de habeas corpus, com
pedidos de liberdade para os réus presos e exceções de competência, por
exemplo.
“No final do ano passado o ritmo passou a ser frenético.
Foi a fase da Lava Jato em que começaram as prisões de empreiteiros e um número
muito grande de habeas corpus”, explica o relator dos processos no TRF4,
desembargador federal João Pedro Gebran Neto,
Gebran salienta que os julgamentos são realizados por todos os integrantes da
8ª Turma, composta também pelos desembargadores federais Victor Luiz dos Santos
Laus e Leandro Paulsen..
Complexidade dos processos
e volume de trabalho
O tamanho dos processos da Lava Jato reflete a
complexidade dos casos. Uma das apelações tem mais de 400 páginas, processos
com sete réus com acusações de muitos crimes diferentes, que geram cerca
de mil eventos no eproc – o processo eletrônico da Justiça Federal da 4ª
Região. “O exame dos processos demanda muitas horas de trabalho para análise de
provas, escuta de áudios e recebimento de advogados, num esforço extraordinário”,
relata Gebran, que coordena uma equipe de 10 servidores e três estagiários.
A média de tempo de julgamento dos habeas corpus, incluindo os
da Lava Jato, é de 22 dias. Em alguns casos de maior complexidade, a decisão
chegou a levar no máximo 40 dias. Dos cerca de 164 HCs analisados, somente um
referente a prisão foi deferido: o segundo pedido de liberdade do dono da
empreiteira UTC, Ricardo Pessoa.
Lava Jato
no TRF4 em 2016
Paulsen chama a atenção que no próximo ano perfil dos
julgamentos da Lava Jato no TRF4 deve mudar. “Num primeiro momento, foram
julgados, principalmente, os incidentes das investigações, como os habeas
corpus buscando a liberdade das prisões. Com muitos processos já julgados, com
sentenças de primeiro grau, vamos ter um volume maior de apelações”, considera
o magistrado.
Até agora o tribunal julgou três apelações da Lava Jato.
A primeira foi em setembro, mantendo as condenações de Renê Luiz Pereira e
Carlos Habib Chater por crimes de tráfico de drogas, evasão de divisas e
lavagem de dinheiro. Os julgamentos das outras duas apelações criminais
aconteceram em dezembro. No dia 9, o TRF4 confirmou a condenação da doleira
Nelma Kodama por organização criminosa, evasão de divisas e corrupção ativa e
de mais outros quatro réus por diferentes crimes. E na última quarta-feira
(16/12), a 8ª Turma manteve, por unanimidade, a condenação do ex-diretor
internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, a cinco anos de prisão, em regime
inicial fechado, pelo crime de lavagem de dinheiro.