Marcos Leôncio Ribeiro: MP priorizou investigação de 10
nomes na Lava-Jato
Ele relatou que, em reunião entre procuradores, policiais
e membros da Receita Federal, representantes da Procuradoria Geral da República
pediram prioridade para os alvos
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postado em
06/09/2015 08:00 / atualizado em 06/09/2015 09:57
Denise Rothenburg
, Eduardo Militão
Jirlan Biazatti/Divulgação
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Os delegados rejeitaram a proposta, narrou. “Nós, da PF,
não trabalhamos dessa forma”, teriam respondido os colegas de Leôncio. “Nós não
elegemos 10 nomes. Nós vamos trabalhar.” Mas a estratégia foi atuar sem o apoio
da polícia, segundo o presidente da entidade. As denúncias contra o presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o ex-presidente da República e senador,
Fernando Collor (PTB-AL), foram feitas antes mesmo de a PF concluir seu
trabalho. “A denúncia do Eduardo Cunha e a do Collor demonstram que houve um
esforço para conclusão desses procedimentos apuratórios.”
Leôncio diz que os inquéritos deles ainda serão
relatados, em consonância do que o jornal já havia apurado com fontes do
próprio Ministério Público. A estratégia da PGR não é inédita. No mensalão, a
denúncia chegou ao STF em 2006, o relatório da PF foi fechado em 2011 e, em
2012, a Justiça condenou 25 réus por corrupção, quadrilha e lavagem de
dinheiro. Procurada, a assessoria de Janot não informou se a reunião e o pedido
de prioridade foram feitos. Entretanto, afirmou que o Ministério Público atua
de forma técnica.
Conflito
Quando tem a parte de investigação, que há uma crise, o
governo lembra que o ministro Cardozo é o chefe da Polícia Federal. Ele é muito
chamado, sofre muitas reclamações do governo que não controla a Polícia
Federal. Só que, na parte administrativa, lutar pela reestruturação da PF,
melhores condições de trabalho, salários, nessa hora o governo diz que ele não
é o chefe e que isso tem que ser resolvido com a área econômica.
Diálogo
Ele tem clareza dos limites que o cargo possui. Não posso
dizer que ele tenha ultrapassado a linha de interferência, né? Uma ressalva que
a gente faz é a falta de empoderamento dele para que possa resolver questões
estruturais da PF. Isso é algo ruim, que o próprio culpado é o governo. O
ministro tem um bom diálogo com a cúpula da Polícia Federal, mas precisaria ter
um melhor diálogo com os delegados de Polícia Federal. As grandes mudanças
estruturais da PF foram feitas por ministros que foram empoderados. Márcio
Thomas Bastos fez uma profunda reestruturação porque era muito empoderado pelo
presidente Lula. Ele é empoderado para resolver questões políticas, de crise,
mas não é empoderado para resolver questões estruturais, administrativas de
gestão.
Incoerência
O que colocamos é: em termos de investigação, ele pouco
pode fazer. Agora, em termos de gestão administrativa, ele muito pode fazer.
Essa que é a incoerência do governo: o governo espera que ele atue fortemente
numa área cujas as limitações dele são impostas pela própria lei. Ele não pode
exercer nenhum tipo de controle sobre a parte investigativa da Polícia Federal.
Por exemplo, o PT, as empreiteiras fizeram uma série de representações ao
ministro da Justiça. Se for relativo à parte de atividade de investigação, o
que ele pode fazer? Nada. Se houve excesso ou abuso, ele manda apurar. Agora,
se é uma questão investigativa, esses excessos e abusos, a quem as empreiteiras
e o partido deveriam recorrer? Ao juiz.
Investigados
Temos informação de que havia um esforço para se eleger
alguns nomes. Um esforço em um número maior do que os outros. E a Polícia
Federal não aceitou. Eu não gostaria de confirmar isso porque não participei da
reunião. O que posso dizer é: houve uma reunião no início. Membros da PGR,
Receita Federal e delegados da Polícia Federal na Lava-Jato. Nessa
oportunidade, nessa reunião, foram listados dez nomes que não sei quais são.
Seriam dez nomes mais prioritários de serem investigados. Nomes que a Receita
deveria investigar em questão de bens. Nomes para se procurar contas no
exterior. Qual foi a posição dos delegados da Polícia Federal? “Nós, da PF, não
trabalhamos dessa forma. Nós não elegemos dez nomes. Nós vamos trabalhar”. Não
sei se Janot estava nessa reunião. Existiu a reunião e foi pautada essa
questão. A partir disso, deu aquela confusão. Se não posso contar com a Polícia
Federal para fazer o que eu quero, eu vou fazer do meu jeito. Participei da
reunião? Não.
Desestímulo
Há um sentimento dos delegados, se estou correspondendo
às expectativas do governo e ainda assim sou desvalorizado, é porque não há
interesse que essa instituição continue a desempenhar suas atividades. Há
dentro do governo quem deseje a queda do ministro da Justiça. Talvez esses
segmentos não tenham interesse em fortalecer a Polícia Federal, em valorizá-la.
Demandas da PF
Levamos algumas demandas para o legislativo porque o
Executivo não atende. Por que fomos nos socorrer do Legislativo? Porque o
Executivo protela, não resolve.
Autonomia
A autonomia da PF está na Comissão de Constituição e
Justiça da Câmara, é um tema polêmico no Congresso. Quando você fala sobre essa
autonomia, sem controle, há resistências muito grande. Mas quando você fala de
autonomia no sentido de órgão isento, técnico, que ela nem persegue e nem
protege, ela é bem aceita pelos parlamentares. O que a PF procurou firmar
nesses anos é que não somos uma polícia de governo. Somos uma polícia de
Estado. O parlamentar pode ter certeza de que o inquérito será o mais isento e
técnico possível. O exemplo que posso falar da Lava-Jato no Supremo: o trabalho
da Polícia Federal foi feito com a mesma velocidade, sem eleger alvos
prioritários.
Eduardo Cunha
Todos os relatórios da Lava-Jato têm sido entregues ao
mesmo tempo. Não temos afetos e nem desafetos. Não investigamos pessoas.
Investigamos fatos. Não elegemos um mais importante do que o outro. Quando a
gente fala em autonomia, a gente pode ter a tranquilidade de dizer o seguinte:
Não atuamos para oposição, nem para governo, nem partido A ou B. O que queremos
deixar bem claro é que a denúncia do (senador) Fernando Collor (PTB-AL) e do
Eduardo Cunha foi uma estratégia, uma definição da Procuradoria-Geral da
República. A Polícia Federal, desde o primeiro momento, deixou bem claro que
não existe investigado mais ou menos importante. O Cunha, por ser presidente da
Câmara, ou Renan, por ser presidente do Senado, ou Collor, para nós, da Polícia
Federal, o trabalho desenvolvido foi o seguinte: todos são parlamentares e
merecem o mesmo tratamento. A ação penal é do procurador-geral da República.
Ele entendeu por bem que já era suficiente para oferecer a denúncia. O que
posso dizer é que tanto o inquérito do Collor quanto o de Cunha não estavam
concluídos.
Estratégia
O Ministério Público resolveu por bem dedicar esforços
àquilo que ele achou que estava mais próximo de estar maduro (denúncias contra
Collor e Cunha). A Polícia Federal não fez isso. Tivemos inclusive algumas
críticas à Polícia Federal, que optou por esse critério: distribuir os mesmos
esforços de forma equilibrada entre todos. Tanto é que os relatórios estão
chegando quase todos ao mesmo tempo. São seis delegados, cada um com número xis
de casos. É errado concentrar? Não. É uma estratégia. Cada um escolhe.
Esperamos que nos próximos meses todos os casos sejam entregues. Acho que toda
a semana estão entregando relatórios. O que estamos pedindo à direção geral é
que divulgue quantos inquéritos estavam com os delegados e quantos relatórios
já foram entregues.
PF X MP
O que temos notado na Procuradoria-Geral da República?
Tanto na denúncia do Collor, quanto na do Eduardo Cunha não há uma só
referência do procurador-geral da República, li as 85 páginas do Cunha, ao
trabalho da Polícia Federal, ao inquérito. Você lê e percebe como se o trabalho
fosse exclusivo do Ministério Público. Temos percebido certa intenção de dizer
que não houve a contribuição da Polícia Federal. Isso é uma coisa que a gente
se preocupa. Tanto é que estamos pedindo à direção da PF que torne público os
números. Estamos percebendo que, da parte da PGR, o trabalho da PF não será
divulgado. E precisamos que seja divulgado para não dar a impressão que não se
está fazendo nada. Isso aconteceu na ação penal 470.
Prazos
Quando peço prorrogação de prazos ao STF, às vezes,
demora semanas só para receber de volta. A equipe da Lava-Jato que atua aqui no
STF assumiu ano passado. Os relatórios, eu acredito, estarão concluídos até o
final deste ano. Começou no segundo semestre do ano passado. Tem os do STJ, dos
governadores, daqueles três deputados do PP, de Minas e do Rio Grande do Sul,
teve agora do Benedito Lira, e vão chegar novos. Esse tipo de dado é que a
gente precisa realmente. A tendência é que nas próximas semanas, praticamente
todas as semanas, os relatórios dos parlamentares começarão a sair.
Interferência
Não há hoje ministro da Justiça e diretor-geral capaz de
interferir numa operação. Se chegar uma ordem do ministro e do diretor-geral de
interferência, toda a equipe da Lava Jato entrega os cargos. Como a sociedade
brasileira vai ver isso? Não vai aceitar. Chegamos a um nível de evolução
política da democracia que não permite isso. Interferência não, controle nós
devemos ter.
Condenações
Eu acredito que virão condenações porque o
material do Supremo é muito calcado no que foi produzido a partir do Paraná.
Quando o STJ e o STF negam um habeas corpus, mostra que o trabalho foi muito
benfeito
4 comentários:
E O FEZ DE 'CARTA MARCADA' PARA DEPOIS DAR EM NADA.
SE "VERO" MENOS MAL.
Janot ... Janot .... apoiado por 26 x 1 ... supõe-se que o "1" é o Collor. Um petista para enquadrar petistas! Quem vai acreditar nisso. As "instituições" no Brasil são, por assim dizer, para inglês ver ...
Já deram autonomia para a PF, assim com deram ao MP/ MPF que, junto com os juizes, viraram verdadeiros reizinhos, basta ouvir as denuncias do Dep Fed Marquezan Jr, do PSDB. Se abrirem para a PF, vai ser uma festa só. Outra coisa, o MPF, segundo a Lei, pode oferecer denuncia sem IP, vide o parágrafo primeiro do art. 46, do CPP.
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