Artigo, Fernando Albrecht - Os tempos do Armando

Morreu aos 75 anos uma pessoa de fino trato e um gentleman: Armando Coelho Borges, que, entre outras coisas, revolucionou os até então (a maioria até hoje) insossos relatórios de diretoria de empresas. Armando era diretor do então poderoso grupo multinacional argentino Bungue y Born, cuja ponta mais visível aqui era a esmagadora de soja Samrig. Pois foi nos balanços desta empresa que ele mexeu – no bom sentido.

Os números e bla bla bla eram praticamente apêndices. Ele escolhia um tema um ano antes, contratava artistas plásticos, pintores, fotógrafos, jornalistas e escritores para desenvolver o tema. Lembro do “Mar de Dentro”, as lagoas gaúchas, escrito pelo talentoso escritor, compositor e pesquisador Barbosa Lessa com ilustrações do não menos talentoso Nelson Jungbluth, que era ilustrador da house da antiga Varig. 
Mas era na apresentação do relatório que a Samrig caprichava. Tinha fila de gente querendo convite para o almoço, normalmente no Plaza São Rafael. Comida e bebida de primeiríssima qualidade, se tivesse que vir de São Paulo, no problema. Licores, champã, charutos cubanos, a festa costumava terminar só às seis, sete ou mais horas da noite. Que tempos, meus amigos, que tempos. Sem trocadilho, tínhamos tempo para curtir espetáculos visuais e gastronômicos como os que Armando Coelho Borges criava. Parecia banquete da Roma antiga.

* Fernando Albrecht é colunista do Jornal do Comércio, Porto Alegre. O texto acima é do Facebook dele, deste final de semana. 

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