Artigo, Jorge Adelar Finatto - Violência crua no bairro Menino Deus

Ao lado, a família chora a morte estúpida de Adam.

Sob o título “Passos para o abismo”, o artigo a seguir é de autoria do escritor Jorge Adelar Finatto, juiz aposentado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. O texto foi publicado originalmente em seu blog “O Fazedor de Auroras“. (*).e replicado na edição de hoje da Folha de S. Paulo. 

Leia: 

O bairro Menino Deus, em Porto Alegre, é um dos mais tradicionais e bonitos da cidade. Um lugar de ruas antigas, onde havia um belo casario, que aos poucos foi sendo derrubado e substituído por edifícios. Um bairro de vizinhos, de pessoas que se conhecem e convivem.
O escritor Caio Fernando Abreu viveu num desses sobrados em seus últimos anos de vida junto da família. Costumava dizer que morava no Menino Deus e não em Porto Alegre. Porto Alegre era apenas o que estava no entorno. Caetano Veloso fez uma música para o Menino Deus. Além das ruas arborizadas e interioranas, há o Guaíba que navega perto.
Tenho uma ligação afetiva com o bairro. Morei lá alguns anos na juventude. Foi lá que conheci a namorada com quem me casei. Dois de meus filhos nasceram quando morávamos no Menino Deus. Perdi a conta das vezes em que os levei a passear por suas praças e ruas. No Menino Deus eles aprenderam a andar de bicicleta e descortinaram, pela primeira vez, as águas, os barcos e as gaivotas do rio. Infelizmente, esse tempo ficou para trás, em todos os sentidos.
Em meio ao colapso da segurança pública que assola o Rio Grande do Sul, este bairro querido já não é e nem poderia ser uma ilha. Muitos de seus habitantes estão entre as incontáveis vítimas da violência crua e cotidiana, que invade as ruas e as casas, na forma de furtos, roubos e homicídios, entre outros crimes.
Um triste exemplo foi a morte do comerciante Elvino Nunes Adamczuk (49 anos), atingido por uma bala perdida na sexta-feira passada (4/9), enquanto passeava com seus dois cães. Por volta das 22h, sua mulher ouviu um tiroteio e saiu da padaria Santo Antônio, na Av. Getúlio Vargas, que pertencia ao casal, na qual ela, o marido e os três filhos trabalhavam. Queria se certificar de que Elvino estava bem.
Um dos cães correu até ela, solto da coleira, e o outro estava ao lado do dono, atingido com um tiro no abdômen. O pequeno empresário foi levado ao Hospital de Pronto Socorro e operado, mas não resistiu e morreu na terça-feira (8/9).
Conforme registra o jornal Zero Hora, edição desta quarta-feira (9/9), teria havido na ocasião uma troca de tiros entre policiais e assaltantes.
A reportagem dos jornalistas Adriana Irion e José Luís Costa esclarece que o comerciante costumava acordar às 4h e abria seu estabelecimento às 7h. Tinha uma clientela fiel e era estimado por todos na vizinhança.
Moradores de rua escreveram uma carta destinada à família, testemunhando que Elvino Adamczuk era uma pessoa “que sempre esteve junto a nós” (foto acima). Vários deles eram clientes da padaria Santo Antônio. Ele costumava ajudá-los, inclusive dando comida. Também auxiliava entidades assistenciais. Um homem bom, exemplar.
Os salários em atraso do funcionalismo público estadual, atingindo integrantes da área da segurança pública, geram paralisações e precariedade no atendimento da população. Os atrasos agravam uma realidade que, muito antes disso, já estava no limite. A criminalidade fugiu do controle.
Os salários pagos aos policiais civis e militares não estão à altura de sua difícil missão, com risco da própria vida. Além de tudo, esses profissionais enfrentam dificuldades de toda ordem, entre elas a falta de pessoal e a deficiência de equipamentos. Do lado oposto, os criminosos agem em toda parte e a qualquer hora. Com os atrasos, a situação torna-se desumana.
Este foi apenas mais um caso, mais uma vítima fatal, num Estado e num país que estão se deteriorando assustadoramente. A falta de segurança é apenas um dos sintomas.
Nunca vi antes o Brasil e o Rio Grande numa situação como essa. Vivemos um momento de densa escuridão, estando o Brasil entre os países mais violentos do planeta. Já escrevi aqui sobre corrupção, desgoverno, violência, indiferença, gastos bilionários com copa do mundo e olimpíadas, e não vou cansar os poucos leitores voltando a esses assuntos. Ninguém suporta mais tamanha incompetência e insensibilidade dos governantes.
Só quero dizer que a perda de pessoas como Elvino Adamczuk é uma barbaridade que nos remete a um imenso vazio de sentidos e a incertezas sobre se ainda estaremos vivos no dia de amanhã. Uma certeza, contudo, existe: sair de casa, nos dias que correm, é um passo em direção ao abismo.
Quando os nossos vizinhos são mortos gratuitamente, como estamos habituados a ver, é sinal de que não existem mais ilhas e de que há muito habitamos o território do medo, da injustiça e da barbárie.
____________
(*) http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/

10 comentários:

Anônimo disse...

JÁ FOI COMENTADO. POPULAÇÃO DEVERIA FICAM UMA SEMANA EM CASA. AS EMPRESAS TODAS DEVERIAM ADERIR A ISSO. SEM PRODUÇÃO, SEM MOVIMENTO, SEM GERAR IMPOSTO.

Anônimo disse...

Pois e', lindo o texto do rapaz ai, mas infelizmente em quem este povo ira votar nas proximas eleicoes? Luciana, Maria, Manu...... ta ruim? Ficara pior!

Anônimo disse...

Políbio,

A violência esta intimamente ligada ao consumo de crack que foi LIBERADO PELO PT no Brasil inteiro.

Os principais produtores são AMIGOS do Foro de São Paulo e do PT.

O resto é mimimi....

JulioK

Anônimo disse...

Políbio,

Complementando:

Após o populista Mujica afrouxar ainda mais o consumo de maconha e sua produção doméstica, no Uruguay, a VIOLÊNCIA EXPLODIU.

Nos USA, o primeiro contato com a maconha aumentou 40% na escolas dos estados que liberaram o "uso recreativo".

JulioK

Anônimo disse...

Bota na conta do Tarso...Polibio demagogo....culpa do Tarso ter perdido as eleições pro Sartori...Polibio a culpa é só do PT...poupemos o teu super tiririca sartori...o pior da história

Anônimo disse...

O RS é a cara da grande maioria dos políticos que tem eleito, reeleito e aclamado nos últimos 20 anos. Onde só existem baratas e ratos nunca se pode esperar o surgimento de um beija-flor! Nas décadas de 60 e 70, qualquer pessoa podia passear e se divertir a qualquer hora do dia em qualquer lugar do RS, inclusive em Porto Alegre. Os ratos tomaram conta de nossa política e agora a peste negra (ou será vermelha?) tomou conta de nossos pagos. Tenho vergonha, noje e raiva do que vejo ao meu redor, o que transformaram o RS e boa parte do Brasil também! Curioso, somente bandidos temiam a revolução, e agora somente os bandidos se divertem nas ruas com apoio explícito de nossas autoridades, principalmente as bem vermelhas. Canalhas!

Ubiratan disse...

Está passando da hora de fazer um choque de gestão, onde sejam reduzidas as despesas excedentes, para equilibrar as receitas e despesas. Administrar é para administradores e não políticos. O socialismo é bom, enquanto dura o dinheiro dos que produzem. Assim tem sido a administração do RGS, na mão dos socialistas, gastar gastar e gastar. Saudades da ex-gov. Yeda.

Anônimo disse...



Volta, Yeda!!!

Anônimo disse...

Tarso, seu trouxa, ignorante das 20:30, só queria ser governador uma só vez, para ganhar renda vitalícia e hereditária, já que ele não conseguiu dinheiro da roubalheira chamada anistia. Esta renda segura, é muito melhor do que dinheiro ganho com reclamatórias trabalhistas sobre as estatais que estão quebradas.





Anônimo disse...

Tarso, seu trouxa, ignorante das 20:30, só queria ser governador uma só vez, para ganhar renda vitalícia e hereditária, já que ele não conseguiu dinheiro da roubalheira chamada anistia. Esta renda segura, é muito melhor do que dinheiro ganho com reclamatórias trabalhistas sobre as estatais que estão quebradas.





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