Venezuela foi maior beneficiária dos empréstimos de pai para filho do BNDES

Os financiamentos concedidos a países estrangeiros, para abrir caminho a empreiteiras brasileiras no exterior, embutem bilhões de dólares em subsídios oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo contou o repórter Alexis Salomão em reportagem especial do jornal "O Estado de S. Paulo". 

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A cifra beira os US$ 4,5 bilhões, segundo cálculos feitos pelo professor João Manoel Pinho de Mello, do Insper. O valor é quase metade do volume de recursos que o banco emprestou desde 2007, que foi de US$ 11,9 bilhões.

Os chamados financiamentos à exportação de serviços de engenharia têm um padrão. Não são concedidos diretamente às empreiteiras. São feitos, em dólar, com os países onde as obras vão ocorrer. Quem se responsabiliza pelos pagamentos são os governos estrangeiros. O dinheiro, porém, é liberado para a construtora brasileira, em reais, aqui no Brasil, pela cotação da moeda americana. A empresa se compromete a usar o dinheiro na aquisição de produtos e de serviços brasileiros destinados ao empreendimento no exterior. Segundo o BNDES, os desembolsos ocorrem à medida que a obra vai avançando.

Para fazer o cálculo, Mello utilizou uma métrica padrão para identificar subsídios: comparou as taxas dos financiamentos do BNDES com as taxas de emissões de títulos públicos que os países tenham feito em datas e prazos similares.

Lógica
No mundo das finanças, quanto maiores são os prazos e os riscos, maiores são as taxas cobradas. Os financiamentos do BNDES nem sempre seguem essa lógica. Veja o exemplo de seis financiamentos concedidos entre março e abril deste ano. Foram liberados em meio às discussões sobre cortes de investimentos no Brasil para se fazer o ajuste fiscal, e beneficiaram uma única construtora, a Odebrecht, que, como outras de grande porte, está sob investigação na Operação Lava Jato.
A operação com o valor mais elevado, de US$ 656 milhões, foi para a construção de uma termoelétrica a carvão na República Dominicana. O contrato de financiamento entre o BNDES e o governo daquele país foi assinado em 9 de março deste ano. Por coincidência, a República Dominicana fez uma emissão de títulos públicos uma semana antes. Os números destoam. A emissão teve uma taxa de 10,38% para um prazo de 7 anos. O financiamento do BNDES teve mais que o dobro do prazo - 16 anos -, mas menos da metade da taxa exigida pelo mercado - 4,14%. Por causa dessas disparidades, o subsídio ficou em US$ 330 milhões, praticamente metade do financiamento.
Os outros cinco financiamentos somam US$ 4,4 bilhões para um sistema de abastecimento de água na Argentina. Ocorre que a Argentina, que passa por séria crise financeira, travou uma queda de braço na Justiça americana para renegociar títulos de sua dívida e está fora do mercado de emissões. Recorreu ao BNDES justamente porque não conseguia tocar a obra com recursos próprios. Ainda assim, as taxas dos financiamentos são baixas: entre 3,9% e 4,6%.

Jayme Gomes da Fonseca Júnior, diretor financeiro na Odebrecht para a América Latina, defende a lógica das operações. "Primeiro, a Odebrecht pode estar sob investigação, mas não foi indiciada e tem acessado sem problemas linhas de financiamentos", diz. "Segundo, o mercado na região está ultra competitivo e 'subsidiadíssimo': concorremos com países da Europa e com a China e sem o apoio do BNDES perderíamos contratos em países como a República Dominicana, que está dedicada a um ajuste fiscal que limita sua capacidade para financiar grandes obras."

Apoio
Pelos números, o BNDES não mediu esforços para apoiar empresas brasileiras nesses países mais complicados. A Venezuela, por exemplo, recebeu o subsídio mais gordo: US$ 1,4 bilhão em quatro operações. O país fez uma emissão de títulos em agosto de 2010, com prazo de 12 anos. Na época, já seguia a cartilha controversa de Hugo Chávez (falecido em 2013), como medidas intervencionistas no mercado interno e um discurso anti-imperialista na cena internacional. Por ser considerado um país arriscado, a taxa de juros da emissão foi de dois dígitos: 12,75%. Em dezembro daquele ano, o BNDES assinou um empréstimo, com prazo idêntico ao da emissão. A taxa, porém, foi bem menor: 4,45%.

Taxas generosas também foram oferecidas a países africanos. Gana é um exemplo ilustrativo. Fez uma emissão de títulos em julho de 2013, com prazo de dez anos. O mercado aceitou o título a uma taxa de 8%. Por coincidência, naquele mesmo ano e mês, o BNDES deu um financiamento a Gana com o mesmo prazo, dez anos. A taxa, porém, foi de apenas 2,80%.


"O presidente do BNDES já argumentou várias vezes que concorrentes como a China levariam contratos em países emergentes se o BNDES não fizesse essas operações, mas fica a pergunta: o Brasil quer entrar na disputa por subsídios lá fora quando há tantas obras a fazer aqui?", diz Mello.

9 comentários:

Anônimo disse...

E A PONTE DE LAGUNA NÃO TA PRONTA.

Anônimo disse...

Políbio, como vão ficar as prestação compra imóvel minha casa minha vida, com proposta de redução de 30 por cento do salário ???

Anônimo disse...

Secretário Tonetto gostou da Europa, ainda mais de graça: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/portal_pmpa_novo/default.php?p_noticia=178505&COMITIVA+BUSCA+EM+BARCELONA+MODELO+DE+PROJETO+PARA+O+4O+DISTRITO

Anônimo disse...

Agora a pouco foram sitiados no aeroporto e apedrejados.

Como seria bom se ainda tivéssemos forças armadas . . .

Anônimo disse...

Coloca que que o governo do FHC também emprestou dinheiro para o Chaves fazer o metro de Caracas.

Anônimo disse...

Financiamento da DITADURA.

Anônimo disse...

Certo o editor, não só a Venezuela, mas cuba também.....

PSDB diz que é escândalo emprestar a Cuba. Esqueceram de perguntar por que FHC emprestou

O PSDB não dá para ser levado a sério.

Perdeu completamente qualquer compostura e racionalidade na hora de criticar o governo Dilma.

Só não é exposto ao ridículo porque a mídia brasileira também é ridícula e simplesmente repete o que as “notas oficiais”aecistas publicam no site do partido.

Depois do “mico aéreo” e do “mico da conta do restaurante”, agora o PSDB parte para o “mico cubano”, publicando – com farta reprodução nos jornais – um comunicado em que critica os empréstimos do BNDES às obras do porto de Mariel, em cuba e diz que os “recursos que vão para a ilha da ditadura castrista – e também para a Venezuela chavista e para outros países, notadamente os ideologicamente alinhados – são os mesmos que faltam para obras estruturantes no Brasil, em especial as de mobilidade urbana nas nossas metrópoles.”

Ontem eu tratei a sério disso, aqui, mostrando que o dinheiro é emprestado – tem sido pago em dia – para aquisições de mercadorias e serviços no Brasil.

Mas tem limite a cara de pau.

Qualquer dia eu vou começar a imprimir e guardar as notícias das coisas que o governo tucano fazia e a posição “indignada” do PSDB sobre as mesmas coisas no governo petista.

E esta é uma delas.

Fernando Henrique diretamente e o BNDES, sob seu comando fizeram empréstimos a Cuba, aliás muito corretamente.

Aqui está o memorando de entendimento entre Brasil e Cuba para financiar a compra de alimentos com recursos orçamentários – reparem, orçamentários, diretamente da União – através do Proex (leia-se Banco do Brasil) em US$ 15 milhões, firmado em 1998.

Mas foi comida, aí era humantário? E o que dizem do financiamento a ônibus de turismo para a ilha de Fidel, como está consignado no relatório de atividades do BNDES do ano de 2000?

“(…)o apoio do BNDES a exportações de ônibus de turismo e urbanos para Cuba somou cerca de US$ 28 milhões. Cabe destacar o financiamento concedido para a aquisição de 125 ônibus Busscar com mecânica Volvo, utilizados na dinamização da atividade turística desse país, no valor total de US$ 15 milhões”

Mas teve também para a “Venezuela chavista” de que fala a nota do PSDB:

“Projeto da Linha IV do Metrô de Caracas (Construtora Norberto Odebrecht S.A.) – Construção do primeiro trecho, com extensão de 5,5 km. O investimento total do projeto soma US$ 183 milhões, sendo o financiamento do BNDES de US$ 107,5 milhões, correspondentes a 100% das exportações brasileiras de bens e serviços e ao seguro de crédito às exportações.”

Uai, igualzinho ao Porto de Mariel? E com a mesma empreiteira, a Odebrecht?

É verdade que os tucanos fazem uma ressalva: “Fosse o Brasil um país que esbanjasse dinheiro e com questões de infraestrutura e logística resolvidas, poderia até ser compreensível.”

Fico imaginando a cara de Aécio Neves diante de algum repórter que lhe perguntasse se no governo FHC podia-se emprestar dinheiro à Cuba e à Venezuela porque não existiam problemas de logística e infra-estrutura no Brasil dos tucanos.

Xii, parece que não é de hoje que a Venezuela recebe $ do Brasil, vem do tempo de FHC, do PSDB, de Aécio, aluisio, serra, Alkmin e Yeda. Cala-te boca, na época de fhc estava libertinado, digo, libegado.

Arno Edgar Kaplan disse...

São dólares, que agora, são contra nós.

Anônimo disse...

FHC, Lula, Dilma...
Nenhuma diferença entre eles. Todos só pensam em poder. Prejudicaram e muito trabalhadores e aposentados que estão sob regime da CLT.
Não esquecer que o Fator Previdenciário, agora novamente discutido, foi aprovado por FHC sob a condição de que fosse aprovada a reeleição. Assim FHC ganhou seu segundo mandato.
A eliminação do Fator ficou engavetada por anos e só voltou agora porque os poderes estão em conflito.
Dizer que a previdência é deficitária não é verdade. Contribuímos por longos anos para ter direito a ela. Seus recursos são mal geridos ou utilizados para outros fins. Mais um governo enganando os trabalhadores.
Portanto, nenhuma diferença entre eles, só a semelhança de serem iguais quando estão no governo.

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