Crise econõmica chinesa dispara o dólar

O repórter do jornal Brasil Econômico, Luiz Sérgio Guimarães, avisa que a perda de mercado das empresas chinesas, calculada pela desvalorização das suas ações, já beire os US$ 3 trilhões. Ou seja, a Bolsa de Shangai perdeu em um mês o equivalente a dez Grécias, cujo PIB está em US$ 243 bilhões

Leia a reportagem completa:
  
O dólar tinha ontem tudo e mais um pouco para disparar:

1) Não estão dando resultado as sucessivas medidas adotadas pelo governo chinês para salvar o seu mercado de ações;

2) O circo europeu está armado para a expulsão da Grécia da eurolândia no próximo domingo;

3) Continua pesado o fluxo de saída de capitais estrangeiros de portfólio do Brasil;

4) O Banco Central já começou a mandar o recado de que a alta da Selic que o Copom irá fazer no dia 29 é a última do longo ciclo de aperto monetário, só não sabe ainda se será de 0,25 ponto ou de 0,50 ponto; e

5) Temor de os EUA estarem sendo alvo de um ataque cibernético. O dólar fechou cotado em R$ 3,234, em alta de 1,61%. De todas as justificativas, a mais forte é a primeira.

A bolsa de Shangai viveu uma feroz bolha especulativa até maio. A alta de 125% obtida no acumulado de oito meses até maio estava desvinculada dos fundamentos. As operações alavancadas (investidores tomavam dinheiro emprestado para comprar ações) ignoravam o encolhimento da economia.

Não dá mais. Na semana que vem, o governo vai divulgar o resultado do PIB no segundo trimestre e a previsão é de um crescimento anual abaixo de 7%. A bolha já não estoura com estrépito porque o governo baixa uma medida depois da outra para dar alguma sustentação.

Depois de tentar a redução dos juros básicos, cortes nos compulsórios bancários e variadas injeções de liquidez, agora os dirigentes agem diretamente por meio da suspensão de novos IPOs, criação de um fundo de estabilização (aplicação compulsória de US$ 19 bilhões) e ordens diretas, ao feitio chinês, para que fundações e estatais comprem ações.

Mas ontem Shangai caiu 5,9%, ampliando para 32% o tombo acumulado nos últimos 30 dias. Acredita-se que a perda de mercado das empresas chinesas já beire os US$ 3 trilhões. Ou seja, Shangai perdeu em um mês o equivalente a dez Grécias, cujo PIB está em US$ 243 bilhões. Como já se disse aqui, o problema para o mundo – e, principalmente, para o Brasil — é a China, não a Grécia.

Por falar em Grécia, não demorou muito para a Troika reagir. Desafiada pelo anúncio e depois pelo resultado do plebiscito de domingo, a Troika impôs um ultimato ao premier Alexi Tsipras.

Os gregos precisam apresentar esta semana propostas que sejam consideradas viáveis a um acordo definitivo, porque, domingo, uma reunião de cúpula irá decidir o destino do país. Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, encostou Tsipras na parede ao revelar que já possui um plano detalhado para viabilizar o Grexit.

Trata-se de fato de um ultimato, um basta às protelações gregas. Tsipras promete apresentar hoje uma proposta que seja satisfatória para ambas as partes.

A impressão dos analistas é de que tudo isso é um jogo de cena: os países líderes da zona do euro sabem que o Syriza não irá até onde eles querem (uma capitulação irrestrita) e já decidiram pela expulsão. Isso é muito fácil: basta o BCE suspender as linhas emergenciais de crédito aos bancos gregos.

O motivo número três para a alta do dólar é relevante. Depois de contabilizar um déficit de US$ 2,08 bilhões em maio, o fluxo cambial foi negativo em US$ 4,69 bilhões em junho, divulgou ontem o BC. Visto assim até que não parece muito grave. Acontece que o déficit “só” foi de US$ 4,69 bilhões porque a conta comercial (contratação de câmbio de exportação e importação) foi superavitária em US$ 2,94 bilhões.

O dado que importa é este: a conta financeira (investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamento de juros, entre outras operações) foi negativa em US$ 7,63 bilhões.
Em maio, o rombo financeiro tinha sido de US$ 5,56 bilhões. Ou seja, em dois meses foram embora do país pela conta financeira US$ 13,19 bilhões. Traduzindo: não basta pagar o maior juro real do mundo, o Brasil precisa ser viável no longo prazo para atrair capitais de fora.

A fuga de capital a despeito do ganho proporcionado pela Selic desmancha a argumentação de alguns operadores de que o dólar subiu ontem também por causa dos sinais de que o BC vai parar de subir a Selic. Não confere. O plano do Copom parece ser o de congelar a taxa básica em 14% até o primeiro semestre de 2016. A Selic continuará muito alta enquanto a inflação estiver caindo. Isso ampliará o juro real ex-ante, o projetado para 12 meses à frente, atualmente na casa de 7,5%. Trata-se de rendimento para nenhum hedge fund reclamar.

O severo aperto monetário do BC, cujo objetivo é de desacelerar a economia e deprimir o mercado de trabalho para que a inflação do ano que vem convirja para a meta central, parece já estar surtindo efeito no curto prazo mesmo. Tanto é que, apesar de elevado (0,79%), o IPCA de junho veio abaixo da mediana das expectativas, de 0,84%.

O BC pode dar a sua missão monetária como concluída com êxito, apesar de os economistas ainda teimarem em projetar para o ano que vem uma inflação cerca de um ponto acima da meta.


Esse sentimento de fim de ciclo fez o mercado futuro de juros da BM&F ignorar a alta do dólar. As taxas caíram em bloco. O DI para janeiro de 2016 foi de 14,12% para 14,06% e o contrato para janeiro de 2017 caiu de 13,72% para 13,65%.

7 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mordaz disse...

Tudo tão simples. O que os eleitores do Bolsa Família não entenderam para votar na Dilma?

Anônimo disse...

Outro país de economia forte que foi pego de surpreso pelos seus próprios gastos.

Anônimo disse...

Senhores a China continua sendo a maior investidora em títulos Americanos, Tem tanto dinheiro que pode jogar pra cima.... Crise só quando a grana acabar.... como se diz lá em Torrinhas " praga de urubu magro não mata Cavalo gordo " ..

Anônimo disse...

Aqualito e Pingo de Cristal
A partir de 2008 se instalou um “crash” na economia capitalista mundial (EUA e Europa) que só não foi pior por causa da locomotiva chinesa. Mas agora a crise se instalou confortavelmente na sala de estar do mercado asiático. Porém, não deu tempo suficiente para os EUA e a Europa saírem do estado de estagnação em que se encontram. Mais uma vez os livros de administração e economia são absolutamente inúteis. Não existe nada disso nos manuais da Universidades renomadas, que pegou todos os seus teóricos, intelectuais e gurus de surpresa. Eles não sabem realmente o que fazer para mudar os rumos dessa economia capitalista titubeante e decrépita...

Anônimo disse...

Qual crise? A bolsa de xanguai esteve em baixa uma vez, depois voltou a subir.

Lucaspsb disse...

Aqualito e Pingo de cristal, como assim? Quer dizer que a China segurou o resto do mundo? E os países que se recuperaram? CRISE só no Brasil por ignorância econômica.

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