Alguns
acontecimentos recentes colocam mais certeza sobre a percepção de que a
economia continuará fraca e que o custo de enfrentamento desse cenário será
maior que o esperado anteriormente. A decisão de abandonar a política fiscal,
sob a alegação de que, com isso, se ganha em credibilidade, na verdade,
representa a chancela da incapacidade de gestão. A desculpa é a queda da
arrecadação, o que é verdade, afinal de contas, foi 3% a menos nos sete
primeiros meses do ano, já descontada a inflação, o que dá R$ 17 bilhões. Mas
está longe de ser o álibi do maior déficit da história do Brasil. De outro
lado, o Governo foi incapaz de reduzir os gastos, que se elevaram 0,7%. E isso
tem duas resultantes que preocupam. A primeira está relacionada à política
econômica. Muitos analistas e diversos outros profissionais aplaudiram a
decisão, sob a alegação de que não seria justo penalizar a economia com mais
corte de gastos. Mas essa é uma análise de apenas parte dos impactos. É claro
que o gasto público, representado pelos 22% do peso do Governo do PIB, ajuda a
ativar ou desaquecer a economia. Mas será que a decisão de não conter gastos
irá resolver todos os nossos problemas? Vejamos onde está o erro dessa análise.
A pressão inflacionária é tanto de oferta quanto de demanda e, além disso, tem
características de choque temporário e permanente. Por exemplo, o aumento de
preço de energia é classificado como um choque de oferta e de cunho permanente.
A combinação mais perversa que existe. Nesse grupo também estão preços da
gasolina e outras commodities. Se o repasse de preços não é disseminado, o
resto da economia pode absorver esse impacto. Por exemplo, podemos ter maior
produtividade e queda no preço de outros produtos, como roupa, calçado,
alimentos e etc. Nesse caso, não há necessidade de ativar o botão da política
monetária e nem se preocupar com a política fiscal. Mas, há um movimento no
Brasil diferente. O choque de oferta ultrapassou o grupo das “commoditites” e
adentrou em produtos diversos, como automóveis, vestuário, cosméticos e tudo o
mais. Porque essa alta de preços é disseminada se a economia está em recessão e
com queda de renda? O leitor que viveu na década de 80 levante a mão e pule
para o próximo parágrafo. Para os demais, sim, precisamos retomar a lembrança
de mais de 30 anos para explicar esse resultado. O Brasil é fechado para o
mundo. Sempre nos foi vendida a ideia de que importar é feio. A eterna tese dos
desenvolvimentistas e alguns empresários que querem ter vantagem de mercado via
menor concorrência. Por isso que da lista de 373 produtos do IPCA apenas 48
tiveram queda de preço em 2015. A produção e venda de automóveis está em queda,
mas o preço subiu 5,2% no ano. Mas e a concorrência com a China? Perdeu-se com
a desvalorização de mais de 50% do câmbio em um ano. Uma das maiores
maxidesvalorizações da história do Brasil e pouco se comenta sobre ela.
Portanto, nossa inflação tem choques de oferta e esses são permanentes. Menos
mal então que não temos choque de demanda? Claro que temos, senão o preço dos
serviços não continuaria subindo na casa dos 8,5%. E essa pressão vai continuar
em 2016. Em todos os cantos do Brasil escutamos as pessoas querendo reposição
da inflação e o salário mínimo terá reajuste gigantesco, o que deve alimentar
ainda mais essa demanda.
divida Tudo isso
para dizer que, se abandonamos a política fiscal para ajudar a conter os
preços, resta pedir ajuda para a política monetária. Um bom teste para saber se
o Banco Central é independente ou não. Se sim, teremos juros a 16% ou mais. Se
não for, teremos mais inflação e crescimento lento por um longo período, um
típico formato de L. Façam suas apostas, mas a atual Autoridade Monetária não
passa tanta credibilidade assim. Acho que o Governo jogou a toalha no combate
aos preços e viramos torcedor para que tudo dê certo daqui em diante.
Essa avaliação
nos conduz a segunda resultante da análise: a tese de que podemos ter a troca
do Ministro da Fazenda mais cedo do que se esperava. Em minha opinião o mesmo
já era um corpo estranho no Governo dado sua origem de formação ortodoxa e com
suas propostas de política fiscal. E agora fica claro que não irá entregar o
que prometeu, nem em 2015 nem em 2016. E, de quebra, ainda pode ficar carimbado
como o responsável pela atual crise sem ter feito nada. É difícil acreditar que
o Ministro está lá apenas pelo salário ou pelo poder. Ainda mais em um Governo
politicamente falido. Uma nova rodada de números ruins da economia, somada a
perda de grau de investimento, pode fortalecer a percepção de sua saída. Não
tenha dúvida de que os últimos eventos contribuem para reduzir as incertezas
para onde estamos indo. Desaceleração pelo menos até o primeiro trimestre de
2016 e por ali ficamos um bom tempo, conjugado com continuidade de inflação
alta, juros acima de 14% e câmbio podendo se estabilizar perto de 3,8. Ao final
teremos maior custo para a dívida interna, pagando cerca de R$ 450 bilhões de juros
por ano e que devem fazer nossa dívida ultrapassar facilmente os 70% do PIB. É
um patamar considerado de risco pelas agências internacionais. A captação de
dívida ficará mais cara, tanto para empresas quanto para governos, e veremos a
piora dos indicadores sociais. Já vimos esse filme: “aperte dos cintos, o
piloto sumiu”.
CLIQUE AQUI para ler mais no blog de Igor Morais, economista e presidente da Fundação de Economia e Estatística do RS.
3 comentários:
Em números absolutos, em junho de 2015, a dívida bruta do governo central estava em R$3.377.644.000.000,00 e a dívida externa US$699.298.000.000,00, segundo o banco central brasileiro:
http://www.bcb.gov.br/pec/sdds/port/sddsp.htm?perfil=1
Situação insustentável para a economia brasileira.
Triste verdade. O Brasil vai mal e o RS está ainda pior.
Pro buraco eu sei que não porque já estamos dentro dele, a tendencia é escorregar mais para dentro.
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