Artigo, Percival Puggina - Esplêndidas teimosias

Há exatos trinta dias um grupo de jovens partiu de São Paulo, a pé, rumo a Brasília, onde deverá chegar no próximo dia 27. Feliz a Pátria que os gerou! Marcham por nós. Esplendidamente teimosos, têm as mochilas cheias de amor à sua terra, anseios por mudanças e sadia indignação contra a praga de gafanhotos que infestou os altos escalões da República. São simbólicos seus passos e admirável sua irresignação. A imprensa os ignora. Cai sobre sua teimosia o silêncio dos acomodados e dos acumpliciados. No entanto, através das redes sociais, multidões os acompanham e chegarão com eles à capital federal, onde ensinarão civismo aos que não sabem o que é isso. Cobrarão das instituições o cumprimento do dever. Haverá, dia 27, o encontro da honra com a desonra. Do amor ao Brasil com seu oposto - a lascívia do poder. Representam-me ante os que deveriam me representar.
Se somarmos as três parcelas - tudo que se sabe, o que se suspeita, e o que tratam de manter oculto - há um camburão de motivos para que a omissão oposicionista seja ofensiva à dignidade nacional. Quando a oposição não faz o que deve, ou faz o que não deve, ou se muda para Nova Iorque, quebra-se uma das duas pernas da democracia. Em sua esplêndida teimosia, a pequena marcha que saiu de São Paulo pretende tirar o carro da oposição da vaga para cadeirante onde parece estar impropriamente estacionado.
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São as pesquisas de opinião que comprovam: se você reunir os adeptos de posições liberais e conservadoras, você congregará bem mais da metade da população brasileira. Majoritariamente, amamos as liberdades e sabemos que há valores que devem ser preservados para o bem de todos. No entanto, não existe no STF um único ministro em sintonia com qualquer das duas posições. O PT ainda não completou seu serviço e ali já puxam, todos, para o mesmo lado. Não bastasse a dissonância com a opinião pública e com o Congresso, é comum ouvir-se nos votos de Suas Excelências libelos contra essas duas posições. E não é só no STF que isso acontece. O estranho hábito de dar aulas à opinião pública se reproduz em boa parte da mídia, onde as palavras "conservador" e "liberal" são pronunciadas entre sorrisos tão maliciosos quanto parvos. O mesmo se reproduz com status professoral nas salas de aula do país. Têm, todos os mencionados e outros mais, a pretensão de agirem como corregedores das nossas opiniões. Mas nós temos, também, essa esplêndida teimosia do livre pensar.
ESPLÊNDIDAS TEIMOSIAS
por Percival Puggina. Artigo publicado em 24.05.2015
 Há exatos trinta dias um grupo de jovens partiu de São Paulo, a pé, rumo a Brasília, onde deverá chegar no próximo dia 27. Feliz a Pátria que os gerou! Marcham por nós. Esplendidamente teimosos, têm as mochilas cheias de amor à sua terra, anseios por mudanças e sadia indignação contra a praga de gafanhotos que infestou os altos escalões da República. São simbólicos seus passos e admirável sua irresignação. A imprensa os ignora. Cai sobre sua teimosia o silêncio dos acomodados e dos acumpliciados. No entanto, através das redes sociais, multidões os acompanham e chegarão com eles à capital federal, onde ensinarão civismo aos que não sabem o que é isso. Cobrarão das instituições o cumprimento do dever. Haverá, dia 27, o encontro da honra com a desonra. Do amor ao Brasil com seu oposto - a lascívia do poder. Representam-me ante os que deveriam me representar.

Se somarmos as três parcelas - tudo que se sabe, o que se suspeita, e o que tratam de manter oculto - há um camburão de motivos para que a omissão oposicionista seja ofensiva à dignidade nacional. Quando a oposição não faz o que deve, ou faz o que não deve, ou se muda para Nova Iorque, quebra-se uma das duas pernas da democracia. Em sua esplêndida teimosia, a pequena marcha que saiu de São Paulo pretende tirar o carro da oposição da vaga para cadeirante onde parece estar impropriamente estacionado.

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São as pesquisas de opinião que comprovam: se você reunir os adeptos de posições liberais e conservadoras, você congregará bem mais da metade da população brasileira. Majoritariamente, amamos as liberdades e sabemos que há valores que devem ser preservados para o bem de todos. No entanto, não existe no STF um único ministro em sintonia com qualquer das duas posições. O PT ainda não completou seu serviço e ali já puxam, todos, para o mesmo lado. Não bastasse a dissonância com a opinião pública e com o Congresso, é comum ouvir-se nos votos de Suas Excelências libelos contra essas duas posições. E não é só no STF que isso acontece. O estranho hábito de dar aulas à opinião pública se reproduz em boa parte da mídia, onde as palavras "conservador" e "liberal" são pronunciadas entre sorrisos tão maliciosos quanto parvos. O mesmo se reproduz com status professoral nas salas de aula do país. Têm, todos os mencionados e outros mais, a pretensão de agirem como corregedores das nossas opiniões. Mas nós temos, também, essa esplêndida teimosia do livre pensar.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Realmente virou moda dar aulinhas e passar pito na opinião pública .
E o pior, dão pito na MAIORIA da opinião pública.
Dissonância total tanto por parte da mídia, quanto dos políticos e do Judiciário.
E o grande feito de Joaquim Barbosa foi mostrar que o Judiciário pode, sim, julgar de acordo com os anseios da sociedade mas, infelizmente, tá tudo dominado.

Anônimo disse...

Marcharam... comeram... beberam... tudo isso sustentado apenas com a venda de algumas camisetas, sem trabalho nem faculdade, uma façanha liberal! Mas ao chegarem lá o senador disse-lhes: impeachment, não... Fim

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