Demissões na Embraer mostram que o governo tem que parar de fazer marolinha

O editorial a seguir é do jornal O Estado de S. Paulo deste sábado. Ele trata do caso das demissões em massa na Embraer. Lula se fez de surpres e mostrou indignação nesta sexta-feira. Puro jogo de cena, porque ele foi avisado do infausto ato na segunda. O editorial toca num ponto central sobre os desdobramentos da crise no Brasil, porque o governo do PT terá que parar de fazer marolinha, encarar a crise, elaborar um diagnóstico e implementar um programa inteligente, com lógica interna, aplicado ao longo do tempo, porque a coisa só tende a piorar daqui para a frente. Até agora o governo do PT tem demonstrado incapacidade e inaptidão para lidar com a crise.

Cortes na Embraer.

Volume de demissões na 4ª fabricante de aviões do mundo causa surpresa e desafia o governo a agir com mais abrangência.

UMA ONDA de choque correu a opinião pública com o anúncio da demissão de mais de 4.000 funcionários da Embraer. Algum ajuste na empresa-símbolo do dinamismo tecnológico nacional era de esperar, mas causou estupefação que alcançasse 20% de seus quadros. A decisão suscita dúvidas sobre a dose aplicada do remédio, por natureza amargo.A Embraer ressalva que mantém a maior parte do corpo de engenharia responsável pela área de inovação. Mesmo assim, as demissões assumem um caráter simbólico por abalar um raro caso de sucesso de empresa brasileira num mercado internacional movido por pesquisa e desenvolvimento. A quarta maior fabricante de aviões do mundo lidera o segmento de jatos até 120 lugares e figura até agora como terceiro maior exportador do país, depois de Petrobras e Vale.Ninguém duvida da gravidade da situação, mormente para uma companhia que depende em 90% das receitas de exportações para regiões como EUA e Europa, os focos do incêndio nos mercados mundiais. Das 270 aeronaves que contava entregar neste ano, a Embraer reduziu sua previsão para 242. O faturamento em dólar deve cair 13%, e os investimentos previstos, de US$ 450 milhões para US$ 350 milhões.Cabe questionar, porém, se não haveria meios menos drásticos de efetuar o corte na Embraer, como negociações para redução de jornadas e salários, demissões voluntárias incentivadas ou férias coletivas.De todo modo, isso é assunto a ser tratado exclusivamente entre empregador e sindicato. A Embraer é uma empresa privada, com 47,8% das ações pulverizadas nas Bolsas de São Paulo e Nova York. O governo federal, com o BNDES, detém 5,5% da empresa. A fatia da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, é 10,5%.A ação especial -"golden share"- mantida pela União só lhe dá poder de veto em decisões como a transferência de controle de capital, não em medidas administrativas, caso da demissão de pessoal. Ter atuado para capitalizar a companhia com fundos públicos tampouco dá ao Planalto o direito de intervir no dia-a-dia dos negócios. Reduzem-se, assim, a bravatas as promessas de interferência da parte do governo federal.Em lugar de retórica, o poder público precisa oferecer ao país as medidas que de fato lhe cabe tomar para melhorar a competitividade das empresas nacionais. Pode começar promovendo uma nova rodada de desoneração e incentivo às exportações. Reduzir encargos sobre a folha salarial para todas as empresas é outra medida óbvia. Por fim, mas não menos importante, redobrar as iniciativas para a redução das taxas de juros ao tomador final.No que toca ao desemprego em alta, tendência nacional confirmada ontem pelo IBGE, o governo também possui margem de ação. Para aliviar o impacto social dessa sequela da crise, deveria aumentar a cobertura do seguro-desemprego de todas as categorias profissionais, sem entregar-se a uma bizantina discussão sobre quais setores proteger. O corte na Embraer, por exemplo, afeta toda uma cadeia de fornecedores e serviços, e não só seus empregados diretos
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Um comentário:

Anônimo disse...

Não é a 4ª (quarta) e sim a 3ª (terceira) empresa fabricante de aviões no mundo (tem fábricas até na China). Só perde para Boeing e Airbus.

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