Presidente da Fundação Zoobotânica conta as razões da sua saída do governo do RS

Qual foi o motivo da sua saída?
Quebra de confiança com o secretário do Meio Ambiente [Otaviano Brenner de Moraes].

Por quê?
Fui até o secretário apresentar o diagnóstico ambiental, coordenado por nós a pedido pelo secretário, que é um trabalho de referência envolvendo vários órgãos do Estado, quando fui surpreendido com algumas cobranças indevidas.

Quais?
O secretário me questionou sobre a participação de funcionários da Fundação em uma audiência pública o Ministério Público, que ingressou com uma ação civil pública em relação ao zoneamento ambiental. O secretário cobrou que eu teria liberado dois funcionários, em horário de serviço, para irem participação desta audiência pública. Disse que estava esperando a degravação dos seus depoimentos para tomar uma atitude em relação aos funcionários e à Fundação Zoobotânica. Deixou claro que eu seria responsabilizado imediatamente. Mas, na verdade, eles foram intimados pelo Ministério Público, pela procuradora Ana Marchezan, a prestarem depoimento.

Ocorrem outras cobranças deste tipo?
Sim. O secretário me cobrou que outro funcionário (contador da instituição) teria participado de uma audiência pública na Assembléia, onde teria feito críticas à Secretaria do Meio Ambiente. O contador me garantiu que jamais participou de qualquer reunião e que nunca entrou na Assembléia. Outro funcionário, segundo ele, teria dado entrevista a um jornal de Brasília questionando as concessões de licenciamentos e o zoneamento ambiental no Estado. Outro funcionário ainda teria feito críticas ao zoneamento ambiental ao jornal Ecologia Já.
E o senhor respondeu o quê?
Dei a versão dos funcionários e disse que o secretário deveria acreditar em mim, ter confiança em mim, sob pena da nossa relação ficar comprometida.

Antes deste episódio, como era a sua relação com o secretário?
Eu senti, ao longo da minha gestão, um certo distanciamento da Secretaria do Meio Ambiente, especialmente do secretário. A fundação, que é referência nacional e internacional, não tem recebido a atenção que merece.

Por que o senhor diz isto?
Olha, falta gente pra trabalhar, há problemas com diárias, o nosso projeto de tratamento das águas está praticamente paralisado. A Fundação Zoobotânica tem uma equipe de 40 pesquisadores, todos com mestrado e doutorado, que não estão sendo chamados para contribuir nas ações do Estado. Isso é uma pena.

O senhor é contra ou a favor o zoneamento ambiental do RS?
Totalmente a favor. Eu sou favorável a estes investimentos, porque são fundamentais para o desenvolvimento do Estado e sobretudo para a Metade Sul. Acho que o desenvolvimento deve andar junto com a consciência ambiental.

E os técnicos têm qual posição?
O que os técnicos questionam é a existência de um parâmetro e a definição de objetivos claros para amanhã ou depois não serem taxados de omissos. Mas nós estávamos conduzindo um bom debate sobre o assunto. Entre os vários pontos a serem discutidos, somente dois ainda necessitavam de consenso. O tamanho e o distanciamento das áreas plantadas. O restante estava acertado entre todas as partes. Precisamos ter critérios claros e não subjetivos.

Luiz Gheller é do PP. Foi prefeito de Casca de 1977 a 1983. Também foi subchefe da Casa Civil para Assuntos do Interior no governo Jair Soares e foi, por muitos anos, chefe de gabinete de Francisco Turra na Câmara dos Deputados e indicado seu na Conab e no Ministério da Agricultura
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