Lula não convence ONU sobre vantagens do etanol

O apaixonado discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor do etanol derivado da cana-de-açúcar, pronunciado ontem na Cúpula sobre Segurança Alimentar, não convenceu o mundo, se por mundo se entender a Organização das Nações Unidas.
Vinte e quatro horas depois de Lula afirmar que os biocombustíveis "são decisivos no combate ao aquecimento global e podem jogar um papel importantíssimo no desenvolvimento econômico e social dos países mais pobres", o secretário-geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, disse ser necessário "aprofundar a investigação" em matéria de biocombustíveis para chegar a um consenso, que ele considera "chave" para as políticas de produção de biocombustíveis.

A avaliação do secretário-geral coincide quase literalmente com o que deverá constar do comunicado final da cúpula, a ser divulgado hoje. Conforme a Folha já informou, o esboço do texto fala da necessidade de "estudos em profundidade" sobre biocombustíveis e propõe um "diálogo internacional" sobre eles.

Tanto as afirmações de Ki-moon como o esboço do texto final refletem a controvérsia que cerca os diferentes tipos de etanol. Há virtual consenso de que o etanol derivado do milho, produzido pelos Estados Unidos, é o equivalente ao "mau colesterol", na comparação feita por Lula.

Há apoio majoritário ao etanol derivado da cana-de-açúcar, o do Brasil, mas a praxe tem sido a de não separar o milho da cana, o que provoca a falta de consenso apontada pelo secretário-geral da ONU.

Falta de consenso que se estende ao mundo das ONGs (organizações não-governamentais), que fazem em Roma sua cúpula paralela, batizada de "Terra Preta".
Andrea Ferrante, presidente da Associação Italiana de Agricultura Biológica, criticou ontem as políticas agrícolas internacionais, que "favorecem a produção de agrocombustíveis, em vez de cultivos para a alimentação".

Lula cansou-se de dizer que, no caso do etanol derivado da cana-de-açúcar, não há essa substituição. Cresceram, no Brasil, tanto a produção de açúcar como a de álcool.
O que ajuda a fazer com que os dois etanóis se misturem é que monopolizam a produção mundial: representam, juntos, 80% da produção mundial e 90% do uso para fins energéticos.

. As informações acima são da Folha.

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