Nesta entrevista para o repórter Marcus Meneghetti, o prefeito de Tapejara, Seger Menegaz, PMDB, no final do mandato como presidente da Federação das
Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), avaliou que, neste ano, mais de 20% das
prefeituras gaúchas correm o risco de fechar as contas no negativo, por causa
do efeito dos cortes de gastos do governo federal e estadual nos municípios.
Diante da gravidade da situação, como explanou ao longo
desta entrevista ao Jornal do Comércio, Menegaz acredita que a solução
para os municípios - ou, pelo menos, um alívio - poderia vir de duas medidas
que aumentariam a receita das cidades. Uma delas é uma proposta da Famurs,
entregue à Secretaria Estadual da Fazenda em janeiro deste ano, sugerindo uma
parceria entre Estado e os governo municipais para combater a sonegação de
impostos, aumentando a arrecadação de ICMS - um tributo cuja arrecadação é
dividida entre Estado e municípios.
A outra medida depende do Judiciário em nível federal,
pois se refere a uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) que está
parada no Supremo Tribunal Federal (STF). Trata-se do processo que avalia
a constitucionalidade da lei que determinou a partilha dos royalties do
petróleo entre todos os entes federados. O avanço no processo foi uma das
reivindicações da XVIII Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, evento
tradicional organizado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), semana
passada, reunindo municipalistas de todo o Brasil.
O presidente da Famurs - que é conselheiro da região Sul,
na diretoria da CNM - participou do evento e acredita que, entre as propostas
da marcha, a que mais aumentaria a receita dos municípios gaúchos seria
justamente a partilha dos royalties Entretanto, apesar da pressão dos
prefeitos, não há previsão de quando a matéria será julgada pela
Corte. Menegaz avaliou ainda que a marcha deste ano foi diferente, pois,
em vez de "estar focada no Executivo federal, focou no Legislativo e
Judiciário".
Jornal do Comércio - Qual a avaliação que faz da Marcha
dos Prefeitos neste ano?
Seger Menegaz - A marcha teve um foco diferente
neste ano. Nas outras, os prefeitos iam a Brasília com o foco no Executivo, com
uma abordagem específica, fosse a educação, fosse o FPM, que foi a grande pauta
dos últimos anos. Neste ano, fomos deixados de lado pelo Executivo, a
presidente Dilma Rousseff (PT) não compareceu, simplesmente foi viajar. O
governo foi representado pelos ministros. Por isso, o foco está mais no
Congresso Federal e no Supremo Tribunal Federal (STF), que está para julgar a
distribuição igualitária dos royalties do petróleo. Ou seja, o foco está mais
no Legislativo e no Judiciário. A questão dos royalties, por exemplo, não
depende do Executivo, depende de o STF julgar a Adin (ação direta de
inconstitucionalidade) que os estados produtores moveram contra a lei que
distribuiu os royalties entre todos os entes federados. Já no caso do
Legislativo, há pautas importantíssimas. Por exemplo, a PEC 172, que determina
que não se crie mais nenhuma despesa, mais nenhum compromisso aos municípios, sem
ter a fonte de recursos. Isso vem acontecendo sistematicamente e contribuiu
muito para complicar as contas dos municípios. Outro ponto importante é o
projeto de lei que modifica as regras do Issqn. Ou seja, queremos que esse
imposto, que incide sobre as compras com cartão de crédito, seja pago na cidade
onde ocorre a transação. Esse é um imposto para as prefeituras, mas hoje se
você usar o cartão para fazer uma compra em Tapejara, por exemplo, o imposto
vai lá para Barueri (SP), onde a empresa administradora do cartão está
instalada.
JC - Qual reivindicação pode auxiliar os municípios
gaúchos de uma maneira mais imediata?
Menegaz - Talvez, a única saída para termos recursos
a mais ainda neste ano seja a distribuição dos royalties. Hoje, só não temos royalties
aqui no Rio Grande do Sul por pressão dos governadores de dois ou três estados
que se articularam e conseguiram deixar o processo no STF na gaveta há dois
anos. O Rio Grande do Sul já perdeu mais de R$ 800 milhões que nós poderíamos
já ter recebido em royalties. Esse é um valor significativo, e estamos vendo
que buscar mais FPM é uma bandeira difícil de trabalhar, porque neste ano o
governo já se comprometeu em pagar 0,5% a mais agora em junho, e mais 0,5% em
julho de 2016, o que deve somar R$ 300 milhões a mais para as cidades gaúchas.
Essa foi uma conquista da marcha do ano passado.
JC - Qual o impacto dos cortes do governo federal nos
municípios gaúchos?
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