Retirar do mundo dos fatos o estouro do orçamento da
União foi uma proeza como poucas. "Cadê o déficit que estava aqui?",
perguntava, zelosa, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). "O gato
comeu", respondeu o Congresso, em sessão comandada por Renan Calheiros. A
estatura moral desse senhor foi decisiva para seu retorno ao cargo no ano
passado. E a longa jornada dos dias 3 e 4 de dezembro justificou plenamente a
escolha do situacionismo. Renan cumpre contratos, seja para vender boiadas em
Alagoas, seja para conduzi-las em Brasília. E tudo foi feito às claras, com as
galerias vazias. Pudor exagerado. Até para entrar em cinema pornô basta ter
mais de 18 anos.
. Assisti pela tevê boa parte da sessão. Havia algo
incomum nos discursos governistas. Raramente, os defensores do PLN 36 exaltaram
os méritos do projeto. Foi como se reconhecessem que não os tinha. Sua
aprovação era uma necessidade prática e urgente. Tratava-se de impedir que a
oposição, fazendo uso daquela coisa perversamente neoliberal que é a LRF,
acusasse a presidente de crime de responsabilidade. Esse era o resumo da pauta.
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