Neste artigo publicado ontem pelo Valor, intitulado "Assustador primitivismo político", o ex-ministro Delfim Neto desfecha críticas consistentes contra a atual política econômica, se é que se pode chamar assim. O editor não gosta de Delfim, acha que ele colaborou de maneira incondicional com a ditadura militar e depois com o governo Lula, mas nunca deixou de considerá-lo um dos quadros mais competentes dos estamentos superiores da burguesia paulista vinculada aos capitais internacionais.
O editor leu, releu e recomenda a leitura atenta deste material:
Com os números das Contas Nacionais Trimestrais
publicados no dia 28/8, o quinquênio da presidente Dilma Rousseff vai
provavelmente encerrar-se com um medíocre crescimento total do PIB da ordem de
6%, ou seja, qualquer coisa como 1,2% ao ano. Compara-se muito mal com o
crescimento da economia mundial no mesmo período, que foi cerca de 19%.
Se considerarmos que o crescimento da população
brasileira no período foi de 0,9% ao ano, o crescimento per capita da nossa
renda terá sido de apenas 0,3% ao ano. Isso nos afastou dramaticamente do
crescimento das economias emergentes neste tumultuado quinquênio da economia
mundial que, de alguma forma, reverbera sobre todas elas.
Mesmo antes da posse do segundo mandato era visível a
necessidade de um profundo "ajuste fiscal estrutural". Em 2014, o
déficit fiscal dobrou (6,2% do PIB contra 3,1% em 2013) e o superávit primário
virou um déficit primário de 0,6% do PIB. Disso resultou um aumento de 6% na
relação dívida bruta/PIB, além de dúvidas sobre a sua sustentabilidade, com
todas as suas consequências devastadoras. A presidente reeleita reconheceu,
intimamente, tal fato e selecionou um competente ministro para fazê-lo. Por
que, então, não funcionou?
A resposta é de múltipla escolha. Temos a impressão que
foi um conjunto de fatores previsíveis, mas não considerados, que geraram o
sentimento, hoje generalizado na sociedade brasileira, que, por mais honesto e
bem intencionado que tenha sido o esforço de Dilma, ela conduziu o país a um
impasse social, econômico e político.
1) A falta de reconhecimento imediato e explícito da
presidente de que subestimara sistematicamente os inconvenientes: a) do seu
excesso de voluntarismo; b) das tentativas de violar as identidades da
contabilidade nacional; c) da recusa de usar o sistema de preços na legítima
busca da "modicidade tarifária" à custa de leilões mal feitos, das inevitáveis reestruturações
contratuais e da garantia de financiamento público; d) do abuso do direito da
maioria nas empresas estatais à custa da violação do direito da minoria e,
finalmente, e) da tragédia do controle de preços, particularmente da taxa de câmbio,
para o ilusório controle da inflação.
Mas por que esse reconhecimento era imprescindível?
Porque só ele poderia racionalizar a mudança de 180 graus da política econômica
que Dilma fez com coragem e a honesta intenção de voltar a produzir o crescimento
social e econômico inclusivo e equânime. Quem precisa convencer a sociedade que
mudou o seu entendimento sobre a política econômica não é o ministro
"sombra" da Fazenda, mas o titular verdadeiro, isto é, a própria
presidente. Essa era a condição necessária (ainda que não suficiente) para
criar as condições mínimas de credibilidade da nova administração, que foi
legitimamente eleita, gostem ou não seus opositores.
2) Houve uma evidente subestimação do que precisava ser
feito e da complexidade da tarefa, porque a condição necessária sugerida no
parágrafo anterior nunca foi criada. Era clara a sinalização que, sem uma
profunda mudança da confiança dos empresários - o que talvez fosse possível com
um bem racionalizado "mea culpa", que não veio -, o aumento do nível
de investimento (a Formação Bruta de Capital Fixo, que era negativa desde o
terceiro trimestre de 2014) não aconteceria, como de fato, não aconteceu. É
isso que revela a dramática queda do PIB (2,1%) entre o 2º trimestre de 2015 e
o seu homônimo de 2014, o que tornou crível um encolhimento de 2,4% do PIB em
2015. E pior, lança uma dúvida muito séria sobre o crescimento de 2016.
3) Criou-se, assim, a condição suficiente para que, se
não tomarmos as medidas necessárias para subordinar as despesas ordinárias
correntes do governo (que dependem de vinculações e indexações que destroem a
flexibilidade da administração) à receita ordinária corrente (que depende,
basicamente, do crescimento real do PIB), caminharemos para o
mesmo desconforto fiscal que, lentamente, foi a causa eficiente da
nossa hiperinflação no passado não distante.
Para o cidadão comum, a solução é rudimentar: ou se reduz
a despesa, ou se aumenta a receita, ou talvez melhor (com garantias adequadas)
se faz um pouco das duas coisas. Para os pensadores mais profundos, sempre há
uma saída na mística da "suficiente vontade política", que é capaz de
fazer, dialeticamente, 2+2=6! É evidente que devemos estar abertos para
todas as soluções possíveis e escrutinar todas elas, mas só tomar uma decisão
quando existir um razoável grau de consenso dentro da base política do governo.
Francamente, é difícil acreditar que a tumultuada proposta de recriação da CPMF
não tenha sido aprovada pela presidente. Retirá-la na calada da noite exibiu um
primitivismo político assustador.
Mais grave: ajudou a revelar - pela insólita repulsa
universal - que a cidadania empoderada não tem mais a menor disposição de dar
ao governo seu voto de confiança. Lembremos, de novo, que a situação fiscal é
dramática e muito, muito, muito delicada! Cada passo mal pensado e mal
combinado que termine em mais uma frustração, pode ser, afinal, o precipício...
*Antonio Delfim Netto é economista e professor.
Formou-se, em 1951, pela Faculdade de Economia e Administração (FEA) da
Universidade de São Paulo (USP). Foi secretário de Finanças de São Paulo,
ministro da Fazenda, ministro da Agricultura; ministro-chefe da Secretaria de
Planejamento da Presidência da República e embaixador do Brasil na França.
Participou da elaboração da Constituição de 1988. É professor-emérito da FEA e
sua área de especialidade é economia brasileira.
6 comentários:
Políbio,
O Delfim, no artigo, explicita o "óbvio".
Infelizmente, a Esquerda Tupiniquim reimplantou a "escravidão" no Brasil e o grande parcela da população permitiu-se escravizar.
O Brasil vai explodir com a Dillma no comando, sustentada por estadistas vaidosos com o FHC.
JulioK
Fala sério. Mentir numa eleição não torna o vencedor legitimo.
Que ele tenha colaborado com o governo militar eu até acho louvável, mas saber que ele colaborou com a ditadura petista me faz pegar nojo dele.
DELFIM sabe que LULA foi cria do Governo militar, entendemos o seu apoio ao nojento.
LULA, tal qual tudo acertado nos anos 70, enrolou as esquerdas verdadeiras da época e depois enrolou parte da direita. LULA vendeu a sua alma para o diabo já faz tempo, hoje acertou a venda do Brasil. No negócio DELFIM e os militares foram o seu avalista.
Acharavam que tinham expurgado os comunistas do Brasil. Erraram muito, no Brasil nunca existiu comunistas e nem capitalistas, os brasileiros são MERCANTILISTAS. Getúlio percebeu isto e se manteve no poder por longos anos, sem antes ter dito que foi roubado nas eleições para justificar o golpe. Getulio foi roubado e roubou do Brasil a democracia, até hoje não devolvida.
Conclusão: Tempo passa e nada muda para melhor.
Balela. Tudo baseia-se no fato que este partido comunista chamado PT quer fazer o comunismo internacional no terceiro mundo com o nosso dinheiro. Uma mentalidade anterior a 1917.
Este Delfim perdeu toda credibilidade.
Até a pouco tempo estava bajulando o PT, agora que o barco tá fazendo água, vem dar uma de engenheiro de obra pronta.
Deveria ter se pronunciado antes, quando o PT estava fazendo todo esse estrago.
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