Jovens festejam na noite o fato de não terem o que
festejar, embalados numa felicidade compulsória
Mônica Manir
Numa usina elétrica desativada, cenário de máquinas,
fiações e tubos da era do nazismo, uma boate vira a noite sem fechar. É a
Berghain/Panorama Bar - vulgo Paranoia, para os brasileiros que habitam o circuito
techno -, apontada por alguns como o melhor clube do mundo, ainda que seja para
turista ver. Tales Ab’Sáber foi um que lá baixou, numa estada em Berlim. E de
lá saiu com a certeza de que tinha material valioso para uma perícia sobre a
grande noite da diversão industrial, traduzido em A Música do Tempo Infinito,
livro lançado em outubro pela Cosac Naify.
Na Berghain a celebração rola das 23h59 de sábado para além
das 21h de domingo: dança sem fim
"É uma festa intensa, que deseja não terminar
jamais", diz o psicanalista sobre a balada alemã, que pulsa quase
diariamente a partir das 23h59 e que, de sábado para domingo, entorpece o
público com música eletrônica até a noite seguinte. Nessa perspectiva, o único
sentido do dia é acionar o GPS para a próxima noitada, algo instantâneo de se
fazer em Berlim, considerando a fábrica de entretenimento que é.
Depois da tragédia em Santa Maria, as blitze que se
espalharam pelo País atrás de boates-ratoeiras escancarou uma noite brasileira
também alucinada, que por nada festeja tudo. Antes do incêndio, somente na
cidade gaúcha eram pelo menos cinco baladas por dia, de quinta-feira a sábado.
Em São Paulo capital, 500 casas noturnas foram licenciadas no ano passado e
cerca de 600 esperam na fila por um alvará, enquanto outros milhares se
espalharam feito gripe pelo País.
Tales Ab'Sáber é psicanalista, professor da Unifesp, autor de A Música do Tempo Infinito.
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