A seguir o resumo da análise que você pode ler no link a seguir. A elaboração é do economista Cesar Maia. O estudo foi apresentado ao Banco Itaú.
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Contexto da Constituição de 1988: o mundo ainda sonhava
com o ideal socialista e a sociedade brasileira demandava melhor distribuição
de renda após anos de hiperinflação. O Índice de Gini (abaixo) mostra que
estávamos no pico da desigualdade.
2. Com o Plano Real e a estabilização macro, os governos
social-democratas puderam elevar as despesas públicas a um ritmo bem acima do
PIB. Para financiar o aumento da despesa, recorreu-se a uma elevação da
carga tributária.
3. O governo federal foi perdendo a flexibilidade dos
gastos. Mais de 70% das despesas federais é composta por transferências diretas
à famílias. Tirando saúde e educação, sobram apenas 11.4% do orçamento para
gastos discricionários.
4. A agenda de estabilização macroeconômica não foi
completada. No início do Plano Real, houve descuido com a questão fiscal.
A falta de austeridade fiscal, conjugada aos juros altos da fase pós
estabilização, levou a uma mudança de patamar da Dívida/PIB mesmo com as
privatizações.
5. No 2o FHC, foi construído o tripé macroeconômico:
câmbio flutuante, austeridade fiscal e metas de inflação. No entanto, o medo do
PT atropelou a estabilidade em 2002. A inflação subiu muito em 2002/03 e
de forma muito rápida, fruto da falta de confiança na estabilidade macro. Ainda
não estamos nesse ponto agora mas..
6. A mudança de preços relativos ainda não ocorreu: a
inflação de tradables está abaixo da inflação de não tradables. No primeiro
governo Lula, com a ajuda do boom de commodities, chegou-se o mais perto de completar
a estabilização. Faltou zerar o déficit nominal. Isso é impensável agora.
7. O governo Dilma adotou o lema “gasto é vida” e
abandonou a austeridade fiscal. Nova matriz macroeconômica: intervenção
governamental, esvaziamento das agências reguladoras, proteção tarifária e
juros baixos. Resultado: inflação mais alta. Outro resultado da
Nova Matriz: baixo crescimento.
8. Problema adicional: com a transição demográfica, a
população está envelhecendo. A população aposentada cresce a 3.5% a.a. enquanto
a PEA cresce a 1% a.a. O Brasil transfere 10 vezes mais recursos públicos para
idosos (saúde e previdência) do que para crianças (educação) em termos per
capita.
9. Soluções passam por reformular o modelo de
crescimento. O bem estar social não cabe mais no PIB. Os gastos do governo
crescem todo ano em termos reais. A poupança está em queda e o
investimento é cada vez mais financiado com déficit em conta-corrente. Com a
desvalorização do câmbio, o investimento vai cair ainda mais.
10. Nosso cenário base contempla o déficit em
conta-corrente de 3% do PIB em 2017. É uma melhora muito tímida em face de um
cenário de crescimento tão baixo. A falta de produtividade é um entrave
para o crescimento. Nos últimos anos, a produtividade está negativa!
11. Vai ser preciso piorar? Ou surge um consenso político
capaz de equilibrar as contas públicas e redefinir o modelo de crescimento ou
caminharemos para o downgrade. Uma visão sobre o curto prazo: o ciclo de
aperto monetário deve ter chegado ao fim. Tudo indica que será possível cortar
um pouco a taxa de juros em 2016.
12. No entanto, as novas metas fiscais não garantem
estabilização da relação Dívida/PIB, o que gera um risco de dominância fiscal.
O risco de cauda está aumentando. Cenário de cauda: o câmbio se desvaloriza
muito, gerando inflação mais alta e crescimento menor. A taxa de juro não cai e
a deterioração do quadro fiscal é mais rápida.
13. A piora do ambiente macroeconômico pode se tornar
aguda a ponto de provocar um rompimento político. A combinação de (i) baixo
crescimento, (ii) aumentos reais de salários sem a contrapartida da
produtividade e (iii) carga tributária ascendente resultou em grande
queda de margens.
14. Tal efeito pode ser visto também pela ótica do lucro
como % do PIB, que apresentou forte queda, especialmente nas empresas abertas,
desde 2010. Por outro lado, não houve uma redução equivalente dos
dividendos nem dos investimentos, o que indicava um certo otimismo e pressionou
o caixa das empresas. Tais fatores, combinados com o crédito farto e barato dos
bancos públicos, resultaram em um aumento da alavancagem das empresas a partir
2010.
15. Porém, a queda das margens foi tão relevante que,
desde 2012, o ROIC (retorno sobre o capital investido), está menor que o custo
da dívida, implicando em destruição de valor com o aumento da
alavancagem. A combinação das dinâmicas descritas culminou na queda
expressiva do ROE (retorno sobre o patrimônio), chegando a níveis muito abaixo
do custo de capital. As empresas só sobrevivem porque o grau de competição é
limitado. Em grande parte dos setores, as cinco maiores empresas detêm mais de
70% de market share.
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