Artigo, José Giusti Tavares - Reflexões sobre a encíclica Laudato Si

Invocando Francisco de Assis, o Papa Francisco publicou recentemente, dirigindo-a a católicos, a cristãos e a todos os homens de boa fé, mas especialmente aos empresários, aos proprietários do capital financeiro e aos estadistas de toda o planeta,  a Encíclica Laudato Si, que retoma a advertência dramática já feita pelos quatro  Papas que o haviam precedido, João XXIII, Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI: trata-se de um vigoroso apelo para conter os processos de deterioração crescente e cada vez mais rápida da natureza, pela indústria humana  cuja virtude é pervertida pela voracidade. Com um sólido argumento, a encíclica reúne em comovente linguagem poética a totalidade da tradição cristã e a ciência moderna.
      
O próprio Papa Francisco sintetiza o seu argumento em duas citações de Bento XVI. A primeira, do Discurso ao Corpo Diplomático Acreditado junto à Santa Sé, de 2007,  enuncia a necessidade de "eliminar as causas estruturais  das disfunções da economia mundial e corrigir os modelos de crescimento que parecem incapazes de garantir   o respeito do meio ambiente". A segunda, que se encontra na encíclica  Caritas in Veritate, de 2009,  afirma desassombradamente a evidência que a acomodação ideológica do espírito humano com muita frequência quer negar: "a degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana".
  
Os Santos Padres sabem muito bem que as causas da desintegração do ambiente natural – que incluem não só a poluição da água e da atmosfera, mas a emissão descontrolada de gás carbônico,  o aquecimento global e o efeito estufa –  não são naturais mas inequivocamente antrópicas, antropogênicas, e decorrem de que,  na trajetória evolutiva do espírito humano, há um descompasso entre o desenvolvimento da consciência  científica, tecnológica e política, e o amadurecimento da consciência moral, em prejuízo desta última. Pois negar esse dado teria como corolário culpar a obra da Criação,  concordando com a afirmação do  poeta comunista russo Maiakóvski, de que " a natureza é imperfeita e deve ser transformada".
         
Contudo, o apelo do Papa Francisco deve enfrentar complexos e poderosos desafios.    
        
Um bom número entre os economistas liberais modernos  observam que o mercado por si só não consegue responder aos três maiores desafios da economia contemporânea: não consegue prover bens públicos, isto é, aqueles bens de cujos benefícios é tecnicamente impossível ou economicamente inviável excluir qualquer consumidor potencial, desde que integre o universo do mercado, e para cujo provimento, portanto, ninguém contribuirá voluntariamente, quer pagando o preço quer assumindo os encargos que lhe cabem para provê-los, do que resulta que, numa sociedade livre, devem ser providos pelo método público que só a coerção fiscal permite financiar; não consegue evitar ou mesmo compensar externalidades negativas, ou deseconomias, que prejudicam terceiros não envolvidos, sobretudo aquelas irreparáveis ou dificilmente reparáveis porque concernem ao meio ambiente; e, finalmente, não consegue evitar a ociosidade simultânea de capital e trabalho e gerar níveis minimamente satisfatórios de emprego.
            
Os economistas referidos observam, enfim, que os processos ora descritos têm como resultado final a falha do mercado e dela derivam a necessidade de que o Estado funcione como instância de intervenção, embora estritamente regulatória, no ciclo econômico.
          
Entretanto, enquanto os Estados são nacionais a economia moderna é internacional e nela competem entre si não apenas corporações industriais,  mas agências de capital financeiro e os próprios Estados nacionais, cada um desses atores agindo segundo a expectativa de que, se pelo menos uma parte significativa dos demais  cessar ou pelo menos reduzir a produção de deseconomias,  ele ganhará mais continuando a produzi-las. E, neste caso, a racionalidade de cada um converter-se-á na irracionalidade de todos e na doença ou na morte de um ou de muitos povos. Certamente, o  Estado mundial não proveria uma solução, mas um desenlace extremamente perverso. Uma instância de regulação e de arbitragem internacional, desde que mais eficaz do que a Organização das Nações Unidas, talvez pudesse provê-la.


7 comentários:

Mordaz disse...

O Papa parece que está propondo o GRANDE IRMÃO. O caso da Grécia mostra que é impossível de pensar num governo mundial quando nem mesmo um grupo democrático como a União Europeia consegue que seus membros trabalhem com responsabilidade em comum. Isto que a região é pequena frente ao globo e os interesses comuns. Nem assim.

Anônimo disse...

NO FUNDO QUEREM QUE VOLTEMOS A IDADE DA PEDRA PARA ELES TEREM MAIS PODER.

QUE COMEÇEM ELES PRÓPRIOS PELOS CEMENTÉRIOS . . .

Mordaz disse...

O Papa fez um comentário de que a própria governança da Igreja não deveria ser vitalícia mostrando a falibilidade do seu formato. Apenas focando os últimos escândalos da Igreja se verifica que ela é muito frágil para ser boa conselheira.

z disse...

Santo blá,blá,blá...

Anônimo disse...

O Papa parece que está adotando a agenda globalista da ONU, ele deveria se preocupar com outros assuntos mais importantes como, por exemplo, o massacre de cristãos pelos radicais muçulmanos, ou a destruição da sociedade cubana que vive na miséria, pela ditadura dos Castros em mais de meio século!

Anônimo disse...

A única forma das gerações futuras terem a possibilidade de um futuro digno e tranquilo é com forte controle de natalidade, nosso planeta é como um fusquinha em que insistem colocar 30 passageiros!

Luiz Vargas disse...

"....que retoma a advertência dramática já feita pelos quatro Papas que o haviam precedido, João XXIII, Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI: trata-se de um vigoroso apelo para conter os processos de deterioração crescente e cada vez mais rápida da natureza, pela indústria humana cuja virtude é pervertida pela voracidade. Com um sólido argumento, a encíclica reúne em comovente linguagem poética a totalidade da tradição cristã e a ciência moderna".
Notaram que sub-repticiamente se excluiu o único Papa, após Paulo VI, decente e com propósitos sérios e honestos para a igreja católica e para com o futuro da raça humana? Por que será?
Quem seria ele?
João Paulo I (Albino Luciani), este sim deveria ser santificado, que foi assassinado em seu quarto dentro dos muros do Vaticano, a mando de uma máfia instalada no seio desta instituição secular.
É um sofisma querer combater as consequências e nem sequer citar a causa: a superpopulação, que faz os meios de produção, para atender as demandas, destruir cada vez mais o meio ambiente e necessitar cada vez mais de recursos naturais.
João Paulo I tinha consciência disto e um de seus objetivos era derrubar um dos maiores dogmas da santa madre igreja: não aceitação do uso de métodos contraceptivos.
Outro de seus objetivos era colocar ordem na esbórnia em que havia se transformado a Igreja (Banco Ambrosiano, Banco do Vaticano, Máfia e Loja Maçônica P2).
Antes que conseguisse seu intento foi assassinado, e pelo que vemos agora, apagado da história. A solução Celso Daniel teve precedentes.
Qualquer discussão sobre a deterioração da natureza, a exploração desenfreada de recursos naturais e os danos ao meio ambiente que não leve em conta algo chamado de controle de natalidade no mundo (ops, na linguagem PolíTicamente correta: planejamento familiar) será uma discussão inócua, servindo somente para encher os bolsos de gente aboletada em ONG's criadas por vigaristas.
A igreja nunca foi e nunca será verdadeira em seus propósitos.
O que será que eram as chagas de São Francisco de Assis, que a igreja diz serem estigmas? O que será que era? Por que seu corpo foi escondido após sua morte?

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