Ex-diretor da Simpala sobre Feijó; "Ele é um pouco complicado"

CLIPPING / Jornal Zero Hora, Porto Alegre / 26 de maio, terça-feira.

“Pessoalmente não doei nada.”

Entrevista: Aroldo Sartori, EX-DIRETOR DA SIMPALA.

Depois de passar uma semana em silêncio, o ex-diretor da Simpala Aroldo Sartori disse ontem que não entregou R$ 25 mil em dinheiro vivo ao vice-governador Paulo Afonso Feijó no primeiro turno da campanha de 2006. A interlocutores, o vice tem dito que apanhou o dinheiro com Sartori, colocou-o numa mochila de sua academia com brindes e remeteu-o por um portador ao tesoureiro de campanha de Yeda Crusius, Rubens Bordini, que nega ter recebido os valores. O dinheiro não consta da prestação de contas de Yeda aprovada pela Justiça Eleitoral.

Sartori retornou dos Estados Unidos na noite de sábado e conversou ontem com Zero Hora na recepção de um prédio, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

A seguir, a síntese da entrevista:

Zero Hora – O senhor doou R$ 25 mil para a campanha da governadora Yeda Crusius?
Aroldo Sartori – Pessoalmente não doei nada.

ZH – E em nome da empresa?
Sartori – Não. Eu saí de lá há quase dois anos. A empresa não tem esse costume, e nem daria dinheiro para políticos desse tipo.

ZH – Segundo versão do vice-governador Paulo Feijó, ele apanhou pessoalmente o dinheiro com o senhor. Isso ocorreu?
Sartori – Não duvido que um dia tenha falado com ele. Já falei com ele na Federasul. Na Simpala, atendia milhares de pessoas. Se tivesse dado o dinheiro, haveria registro na empresa.

ZH – Feijó sustenta que houve essa conversa. Ele mente?
Sartori – Não tenho a mínima ideia. Não sei qual é a intenção dele. Ele é um pouco complicado, convenhamos. Não sei se ele está mentindo. Não sei por que essa preocupação da imprensa em saber se recebeu ou não recebeu. Eu te contei tudo. Agora, tu podes concluir (se Feijó mentiu ou não).

ZH – Outro funcionário da Simpala deu dinheiro ao vice?
Sartori – Acho que não. Eu tomava conhecimento de quase tudo que ocorria lá. Liguei para a Simpala, perguntei, e não tem registro nenhum lá. E quem puxaria R$ 25 mil do bolso?

ZH – O senhor nunca conversou com Feijó na Simpala?
Sartori – Acho que não. Só se tiver sido numa rodinha, até porque nem o conhecia bem. Se fosse dar dinheiro a Yeda, não seria por meio de Feijó. Eu mesmo levaria. Sou amigo da governadora. Faz muito tempo que não falo com ela.

ZH – O gerente de Relações Institucionais da GM, Marco Kraemer, lhe encaminhou Feijó?
Sartori – Atendia muita gente que Kraemer mandava. Pode ter mandado Feijó tratar de automóvel.

ZH – A GM repassou dinheiro para o senhor doar à campanha?
Sartori – Não. A GM não dá dinheiro nem para Jesus. Para conseguir qualquer patrocínio, tem de chorar. Eles não dão nada.

ZH – O senhor sofreu pressões?
Sartori – Não sofro pressão porque não aceito isso de ninguém.

ZH – O senhor teme ter sido gravado por Feijó?
Sartori – Como gravar uma conversa que não existe? Não teve nada. É deselegante conversar com as pessoas e gravar. Não é muito honesto. Se ele conseguiu fazer gravação, vamos ver. Não falei com ele. Não pode ter feito nada. Não tenho receio. Vai forjar gravação? Se vier à tona, vamos discutir de onde saiu. Vamos ver se consegue fabricar uma.

ZH – Há possibilidade de existir gravação?
Sartori – Acho que não. Não ia fazer uma bobagem dessas, inventar. Se ele recebeu dinheiro sem comprovante, é ilegal. Vou dar um emprego de detetive para ele.

ZH – Os R$ 25 mil existem?
Sartori – Se ele (Feijó) diz que existem, devem existir. Mas não sei onde estão. Não sei de onde saíram. Mas não deve existir.

ZH – O senhor aceitaria ser acareado com Feijó?
Sartori – Não sei. Não é problema meu. Uma CPI seria um desgaste muito grande. A Assembleia perderia tempo em uma bobagem como essa, R$ 20 mil?