Clipping
Editorial do jornalm Folha de S. Paulo
Terça-feira, 24 de fevereiro
O dilema de Obama
Governo dos Estados Unidos, que resistia a estatizar bancos, é levado a rever seus planos diante da gravidade da crise
ESTATIZAR ou não estatizar grandes bancos; esta é a questão que divide a opinião de acadêmicos renomados e assombra a equipe econômica do presidente norte-americano, Barack Obama. Enquanto os cães ladram, a caravana da crise avança...
Na prática, bancos americanos já estão sendo "nacionalizados" -o eufemismo que designa estatização nos EUA. Como noticiou ontem esta Folha, a agência do governo que fiscaliza o sistema financeiro fechou, em média, duas instituições por semana nos primeiros 40 dias do ano; 7 delas na primeira semana de fevereiro. Em 2008, o ritmo de extinção de casas bancárias foi de duas por mês.
Os bancos liquidados por motivo de insolvência, todos médios e pequenos, foram tomados pelo governo, parcela de sua dívida foi quitada, seus ativos ruins, absorvidos pelo contribuinte (na expectativa de que os prejuízos sejam atenuados com o tempo) e a parte saneada, separada para ser vendida no mercado. É justamente isso, uma intervenção firme mas temporária, abrangendo as maiores instituições do país, que os defensores da medida nos EUA entendem como estatização.
O que seria mera aplicação de um princípio consensual -bancos insolventes, pequenos ou grandes, precisam ser saneados para o bem do sistema financeiro- torna-se, contudo, uma batalha campal dada a dimensão assumida pela crise. Interessa aos grandes bancos americanos manter a disputa em terreno ideológico, embora a clivagem entre economistas que defendem e rejeitam a ideia não respeite esse critério.
Trata-se, mais propriamente, de um embate na elite do poder americano. Como aconteceu na maior parte do planeta, os grandes bancos dos Estados Unidos aumentaram sua penetração na esfera das decisões políticas ao longo das últimas décadas. Além do impacto desse fenômeno nas finanças de campanha e no lobismo, aprofundou-se o intercâmbio de quadros entre o setor público e o sistema financeiro privado.
Nesse contexto, desenha-se uma nova solução de compromisso, intermediária, entre um desses grandes bancos, o Citigroup, e o governo norte-americano. Em seriíssimas dificuldades, o banco pleiteia mais dinheiro do Tesouro, mas numa quantidade e num formato que ainda mantenham o atual controle da instituição. Citi e Bank of America, as maiores casas bancárias dos EUA, já receberam US$ 180 bilhões (cerca de 13% do PIB brasileiro) em auxílio direto do governo.
Uma nota das autoridades econômicas americanas publicada ontem indica, entretanto, que a abordagem de dar dinheiro público a bancos privados sem intervir na sua estrutura de controle está prestes a ser abandonada. A rápida deterioração provocada pela crise coloca o governo Obama diante da opção entre preservar os acionistas e os clubes de comando dos grandes bancos.
Um comentário:
Eu adorava tanto o capitalismo...
Postar um comentário