Da universidade ao palanque e do palanque ao botequim, o ignorante perdeu a consciência da ignorância, ao ponto de questionar o conhecimento erudito e minimizar e afrontar os profissionais do saber.
Historicamente, no Brasil, ignorância é um juízo de valor e manifestação de poder de quem, em posição de mando, não se considera ignorante. Era a definição que os poucos escolarizados davam aos muitos não escolarizados nas primeiras décadas do século passado..
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Mas a concepção de que é socialmente mais decisivo parecer do que ser se difundiu, criou uma cultura, definiu valores e regras de penosos esforços de apresentação e de conduta. A forma aparente incluiu socialmente os excluídos. A superficialidade tornou-se democrática e, mesmo, decisiva, para incluir enganosamente o ignorante. Há uma função terapêutica no uso desses recursos numa sociedade que enfrenta, cada vez mais, limites no acesso à cultura erudita e que, cada vez mais, oferece recursos de dissimulação da ignorância. A sabedoria popular foi confrontada com a frágil sabedoria de ocasião.
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Nos anos 1970, as chamadas classes populares emergiram no cenário político brasileiro. Em alguns anos elegeriam um presidente da República. A intelectualidade dos movimentos populares produziu racionalizações que na essência asseguravam que o ignorante é sábio, na contramão dos valores da própria classe trabalhadora que, desde sua constituição entre nós, sempre valorizou a escola. Ignorância e poder se encontraram. Difundiu-se aqui a raiva como fundamento dos confrontos sociais, uma concepção antipolítica da luta de classes. O novo saber superficial e manipulável amalgamou-se com a raiva política, a incultura tornou-se prepotente. Durante quase um século a consciência da ignorância levou à busca da escola, à valorização da escola. Agora, a nova ignorância elegeu a escola como inimiga.
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José de Souza Martins é sociólogo. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, autor de “O Coração da Pauliceia Ainda Bate” (Ed. Unesp/Imprensa Oficial)
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6 comentários:
Acreditem ou não - e o tempo, uns 2 anos - isso mudará radicalmente!
Já existem sintomas claros disso... por enquanto, somente sintomas, mas logo virão as evidências.
Um novo conservadorismo - sem ranço - já se instala lentamente (vide o caso Santander) e com ele vem a noção de saber deixando de lado o fazer de tudo para "se dar bem".
Acabou! It's over...
O Blog " Ataque aberto" reproduz um texto sob o titulo " Patriotas, sim senhor " , de autoria de Olavo de Carvalho , com quem não concordo em muitas coisas. Mas este texto vale a pena lê-lo , pois é verdadeiro, genuíno e faz pensar. Até hoje não entendo porque grande número de brasileiros vêem os SÍMBOLOS NACIONAIS como motivo de zombaria, de chacota. Será problema de baixa auto-estima , de deformação cultural e educacional ? Vivenciei isto nas Escolas Públicas que frequentei, nos anos 50 e 60, em que cantar o HINO NACIONAL era visto, por grande parte de meus colegas, como breguice , como motivo de zombarias. Nunca entendi, desde aquela época, porque o nosso nível de civismo, de amor ao BRASIL é tão baixo. Isto não é nada inteligente , pois o BRASIL somos todos nós , independentemente de classe social, religião ou ideologia.!!! Tia GLÓRIA.
Verdade.A ignorância fez até surgir os tais doutores honoris causa própria, símbolos da ignorância igualada à sabedoria.
Todo o poder vem do alto, a lição que Pilatos não entendeu. A "teologia" da libertação prega o contrário: Das bases é que surge o poder. Doutrina satânica gerando costumes e leis iníquas.
Muitas são as causas da decadência nacional. Mas elas tem uma orquestração. Nos costumes: estes dias de carnaval falam por si. Na educação, tema do artigo, busquem a causa em Paulo Freire. E a quem servia Paulo Freire?
Queremos instrução e conhecimento! Educação é para as massas manipuladas!
Escola sem Partido já !
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