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Uma tarde chuvosa daquelas bem desagradáveis, que seria
melhor nem fazer parte da vida da gente. Os sapatos estavam molhados, a cada
passo sentia aquela espuminha gosmenta quando os dedos dos pés tornam-se sujeitos
do verbo chafurdar. Desceu do ônibus e ficou pleonasticamente parado na parada,
com vontade de nada, gostaria de desaparecer. Olhou para o lado e viu um
sorriso de mulher, instintivamente respondeu e ofereceu carona no seu guarda
chuva.
Atravessaram a rua bem juntos para evitar a chuva, da
qual falaram com queixas. No trajeto até o prédio dela a conversa e a
proximidade resultaram no convite para entrar e acabou evoluindo para uma
intimidade inesperada, numa tarde em que os prognósticos eram os piores. O que
confirma a genial frase do Machado: “o imprevisto é uma espécie de deus
avulso, ao qual é preciso dar algumas ações de graças; pois pode ter voto
decisivo na assembleia dos acontecimentos”...
Dias depois os amigos reunidos falavam do período
chuvoso, que deixava todos com baixo astral e sem programa. Então o Rafa narrou
sua aventura, que começou ao descer do ônibus e terminou no apartamento. Surgiu
a pergunta desnecessária, se era bonita. A vacilação e breve silêncio do Rafa
já significava uma resposta negativa, que foi suavizada com o
comentário: “bem legal, mas um pouco narigudinha”.
Depois de alguma bebida o Cebola entusiasmou-se e contou
o que houve com ele e a Red Bull, que ganhara este apelido por ser atarracada,
agitada, dinâmica e ter cabelo crespo e bem ruivo. Ela sabia que a mulher menos
desejada deve estar em permanente disponibilidade, e, naquela tarde, funcionou.
Fosse um dia ensolarado e ele nem teria dado assunto, mas ficaram conversando à
toa, e depois foram para a casa dele ouvir música. Lá, ao som do primeiro
trovão, ela se agarrou nele dizendo-se amedrontada; terminaram na cama em
frenética atividade, sonorizada pelas trovoadas e iluminada pelos flashes
estroboscópicos dos relâmpagos.
Quando os amigos quiseram ironizar as escolhas dos dois,
o Rafa e o Cebola reagiram quase ao mesmo tempo, como um jogral improvisado:
“Pô, mas com essa chuva! Queriam o que”?
A partir daí, foi instituído o ATENUANTE METEOROLÓGICO...
Um comentário:
Se este sujeito tem esta opinião do Cunha, é porque o acordo é bom, afinal tudo que o Tarso diz não é bom.
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