Clipping/ Revista Veja
O ministro da Justiça, Tarso Genro, tem uma tremenda capacidade de se envolver em barulhentas e inúteis polêmicas. A última delas, na semana passada, conseguiu interromper o descanso de dezenas de militares, que trocaram o pijama por terno e gravata e se reuniram para protestar contra a idéia do ministro de retomar a discussão sobre a possibilidade de punição para os torturadores do regime militar. Reunidos no Rio de Janeiro, os militares classificaram a iniciativa como extemporânea, imoral e fora de propósito. "Foi um desserviço prestado ao Brasil", diz uma nota conjunta dos aposentados. Se o ministro estivesse falando em nome do governo, a discussão teria ingredientes suficientes para desembocar numa bela crise. Tarso, porém, já foi desautorizado pelo presidente Lula, criticado pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e não contou sequer com o apoio formal de colegas do partido, inclusive de alguns que conheceram de perto as masmorras da repressão.
Percebendo o efeito bumerangue da proposta, na quarta-feira da semana passada o ministro convidou os deputados do PT para um encontro que simbolizaria o apoio do partido à proposta de rever a Lei da Anistia. Orientados pelo governo, os parlamentares declinaram do convite e a reunião acabou cancelada. A bancada passou então a espalhar a notícia segundo a qual o presidente Lula estaria incomodado com a sucessão de confusões criadas pelo ministro nos últimos meses. Tarso já criticou a provável candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência, criou atritos com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e, agora, ressuscita um debate inoportuno e estéril. Como lembraram os militares de pijama, rever a Lei da Anistia significa rever os crimes praticados pelos militantes de esquerda, que também seqüestraram e mataram durante o regime militar. A anistia foi um pacto que poupou de punição os responsáveis pelas atrocidades praticadas pelos dois lados.
"Eu não sou polêmico. Os temas do Ministério da Justiça são polêmicos. São polêmicas reais, com as quais compartilho. Discussão de conteúdo é o meu dever de ministro. Faço isso sem atacar ou ofender quem quer que seja", explicou Tarso Genro.
Além de enfrentar as críticas dos militares, o ministro abriu flancos para o avanço de uma guerrilha bem mais ameaçadora para ele do que a turma do pijama. Autorizados pelo Palácio do Planalto, parlamentares do PT conversam abertamente sobre a possibilidade de entregar o ministério ao PMDB como parte de uma engenharia política visando às eleições à presidência do Congresso no ano que vem – tudo, garantem, com o aval do presidente. Tarso vai ter de buscar sua própria anistia.
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