O sistema só existe em um lugar do mundo, o Butão, país
que apenas em 2008 deixou de ser uma monarquia absolutista e realizou suas
primeiras eleições.
Mas o financiamento público de partidos e/ou candidatos,
em pequena ou larga escala, é adotado em 118 países, de acordo com um
monitoramento realizado pelo Instituto Internacional pela Democracia e
Assistência Eleitoral (Idea, na sigla em inglês). Em alguns deles, como México,
Colômbia, Itália e Espanha, chegam a representar mais de 80% dos gastos das
campanhas.
No Brasil, os partidos têm acesso a doações privadas e a
recursos públicos - prevendo dificuldades de obter financiamento de empresas
após a Operação Lava Jato, senadores e deputados decidiram triplicar a verba do
fundo partidário neste ano, para R$ 867,56 milhões, há duas semanas.
Leia mais: Quase
40 países já proíbem doações de empresas a candidatos
Mas quais as vantagens e desvantagens de aumentar o
financiamento público no Brasil? A BBC Brasil preparou um guia sobre o assunto.
Confira abaixo.
Qual o princípio do financiamento público?
O objetivo do financiamento público é contrabalancear -
ou mesmo anular - a influência do poder econômico nas eleições. Os defensores
de um modelo majoritariamente ou totalmente público argumentam que doações
privadas desvirtuam a democracia, pois as grandes corporações são muito mais
ricas que os indivíduos e, assim, têm mais recursos para influenciar nas
eleições.
O PT defende que o financiamento seja exclusivamente
público, ou seja, que nem mesmo pessoas físicas possam doar. A proibição de doações
de empresas também é defendida por centenas de movimentos sociais (como UNE,
CUT e MST) que integram a Campanha pela
Constituinte - proposta de convocação de um Assembleia exclusiva para votar uma
reforma política. Mas não há consenso entre eles sobre doações de pessoas
físicas.
"Para nós, o financiamento privado é a base da
corrupção. Empresas de diversos setores financiam os políticos e depois cobram
seus interesses no Congresso. Isso é totalmente antidemocrático porque o voto
da empresa passa a valer mais que o do eleitor", afirma Paola Estrada,
integrante da coordenação nacional da campanha.
Quais seriam as desvantagens?
Entre os defensores do financiamento público, há também
quem aponte potenciais riscos nesse modelo. Para o Instituto Internacional pela
Democracia e Assistência Eleitoral (Idea, na sigla em inglês), uma dependência
excessiva de recursos públicos pode levar os políticos e seus partidos a se
afastarem da sociedade.
"Quando administrado e distribuído de forma
adequada, o financiamento público dos partidos políticos pode ser um bom
contrapeso para doações privadas e também pode aumentar o pluralismo político.
No entanto, os partidos políticos não devem perder o contato com seus
eleitores, ou tornar-se excessivamente dependentes de financiamento
público", nota um documento de janeiro do instituto.
O diretor da área de Partidos Políticos do Idea, Sam van
der Staak, defende um modelo que equilibre recursos públicos e doações de
membros dos partidos, empresas e pessoas físicas - limitadas a um teto baixo,
para evitar que um grupo tenha mais peso que outro.
Como distribuir os recursos?
Outro risco do modelo de financiamento essencialmente
público é dar pouco espaço para o surgimento e crescimento de novos partidos,
na medida em que a distribuição dos recursos tende a ser proporcional ao
tamanho das bancadas no Congresso.
Por outro lado, dividir igualmente também não é
considerada a melhor maneira de distribuição. "Essa abordagem (divisão
igualitária) cria o risco de que partidos sejam criados apenas para obter
financiamento do Estado. Além disso, também pode ser um desperdício
significativo usar recursos públicos para apoiar partidos e candidatos que não
têm nenhum apoio entre o eleitorado", nota o relatório do Idea.
A opção para contornar isso, aponta o instituto, é
repartir parte dos recursos públicos igualmente e parte proporcionalmente.
Manter a possibilidade de doações de pessoas físicas ou mesmo de empresas, sob
um limite baixo, é também uma forma de permitir que o financiamento eleitoral
tenha mais dinamismo.
No Brasil, a distribuição de recursos públicos via fundo
partidário se dá da seguinte forma: 5% são repartidos igualmente entre os 32
partidos existentes, e 95% são distribuídos na proporção dos votos obtidos na
última eleição para a Câmara dos Deputados.
Leia mais: As
medidas de Dilma serão eficientes no combate à corrupção?
Como isso tem funcionando em outros países?
Entre os 180 países monitorados pelo Idea, apenas um tem
financiamento de campanha exclusivamente público: o Butão. Essa pequena nação asiática,
espremida entre China e Índia, realizou suas primeiras eleições em 2008, quando
o sistema político passou de monarquia absoluta para monarquia constitucional.
Outros países, embora não adotem o modelo 100% público de
financiamento, tem níveis altos de participação pública nos fundos de campanha.
No México, por exemplo, 95% das campanhas às eleições presidenciais de 2012
foram bancadas com recursos do Estado. Esses índices também foram altos nos
últimos anos na Colômbia (89%) e no Uruguai (80%). Em países europeus como
Espanha, Bélgica, Itália e Portugal, os fundos públicos também respondem por
mais de 80% dos custos das campanhas.
Existem vários modelos de distribuição desses recursos.
Há países, como Alemanha, em que o Estado transfere para o partido um euro para
cada euro arrecadado de doadores (prática chamada de matching funds). Já na
Holanda, os repasses dependem do número de pessoas filiadas ao partido.
Na França, a lei institui um teto para os gastos de
campanha, que varia de acordo com o tipo de eleição. A partir desse teto é
calculado o reembolso com dinheiro público das despesas eleitorais do
candidato. No caso da eleição presidencial, por exemplo, em 2012 foi definido
que cada candidato poderia gastar até 16,8 milhões de euros (R$ 58,8 milhões,
na cotação atual) no primeiro turno e 22,5 milhões de euros (R$ 78,75 milhões)
no segundo. A título de comparação, a campanha da presidente Dilma Rousseff em
2014 consumiu R$ 350 milhões.
Na França, cada candidato que conseguisse 5% dos votos, poderia
receber 50% do valor gasto em reembolso. As regras determinam que o candidato
que ultrapassar o teto de gastos da campanha, não pode receber o financiamento
público de parte de suas despesas. Foi exatamente o que ocorreu com o
ex-presidente Nicolas Sarkozy, que teve suas contas da campanha presidencial de
2012 rejeitadas pelo Conselho Constitucional.
Quanto dinheiro público os partidos já recebem no Brasil?
Partidos políticos já recebem hoje dinheiro público no
país, mas a maioria dos recursos que bancam as campanhas eleitorais vem de
doações de empresas.
Nas últimas eleições, partidos e candidatos arrecadaram
cerca de R$ 5 bilhões de doações privadas, quase na sua totalidade feitas por
empresas. Além disso, receberam no ano passado R$ 308 milhões de recursos
públicos por meio do Fundo Partidário, enquanto o tempo "gratuito" de
televisão custou R$ 840 milhões aos cofres da União por meio de isenção fiscal
para os canais de TV.
Em 2015, porém, haverá um salto expressivo na verba do
Fundo Partidário. O Congresso aprovou neste mês que o orçamento previsto
inicialmente pela União fosse triplicado, passando de R$ 289,56 milhões para R$
867,56 milhões.
O aumento teria sido motivado pela dificuldade que os
partidos estão enfrentando para se financiar após a operação Lava Jato - que
investiga desvio de recursos na Petrobras - ter colocado no banco dos réus
executivos de grandes empresas doadoras.
O relator do Orçamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR),
disse que o aumento refletiu uma demanda de diversos partidos e que representa
um teste para a tese do financiamento público de campanha.
Quanto custaria um modelo com mais financiamento público?
O PT não tem hoje uma estimativa de quanto seria o custo
de um financiamento exclusivo de campanha, de acordo com a vice-presidente
nacional do PT, Gleide Andrade, responsável por coordenar as discussões sobre
reforma política dentro do partido. Segundo ela, isso dependerá de outras
alterações que podem ser feitas no sistema eleitoral, como por exemplo
modificar a forma de eleger os deputados.
"Mas uma coisa é certa: será um campanha bem mais
barata do que a que temos hoje", afirmou.
Outro projeto de lei que já tramita no Parlamento - o PL
268, apresentado em 2011 como conclusão dos trabalhos de uma comissão de
reforma política no Senado - sugere que o financiamento de campanha será
exclusivamente público e que o valor total a ser distribuído seguirá o seguinte
cálculo: total de eleitores inscritos até 31 de dezembro do ano anterior vezes
R$ 7,00 a valores de janeiro de 2011.
Atualizando esse valor pela inflação até 2014 (R$ 8,40) e
considerando o número de eleitores que puderam votar no ano passado (141,8
milhões), as últimas eleições teriam consumido R$ 1,2 bilhão, segundo a regra
do PL 268/2011.
Aumentar o peso do financiamento público exigiria outras
mudanças?
Mudar o sistema de financiamento não é algo trivial.
Especialistas no assunto dizem que extinguir as doações por empresas e aumentar
o peso do dinheiro público obrigaria necessariamente a alterar as regras das
eleições para o Legislativo.
Claudio Abramo, ex-diretor da Transparência Brasil, diz
que teria que ser adotado a eleição em lista - método em que o voto vai para o
Partido, que decide qual será a ordem dos deputados e vereadores eleitos pela
legenda. Tal mudança seria necessária por causa da dificuldade de distribuir e
fiscalizar os recursos para todos os candidatos. Dessa forma, os partidos que
centralizariam a gestão dos recursos públicos.
O filósofo e cientista político Marcos Nobre discorda da
tese de que o financiamento exigiria lista fechada. "É perfeitamente
possível fiscalizar (a distribuição de recursos) desde que você torne os partidos
responsáveis pela atuação de cada um de seus candidatos", argumenta
7 comentários:
CHEGA !!! QUE CADA CANDIDATO FINANCIE SUA PRÓPRIA CAMPANHA.... ESTÃO É PROCURANDO FORMAS DE AUMENTAR E INVENTAR IMPOSTOS PARA QUEM TRABALHA "DIGNAMENTE", PAGAR MAIS PATOS!!!
Tá bom só dinheiro público?O PT com Sindicatos,Ongs,MST e outos movimentos ficarão sobre a carne seca né?Mamar no boi ninguém quer né bebé?
Será mais dinheiro público jogado no lixo! O financiamento público de campanha irá acabar com o financiamento aberto e limpo, ou por ideologia ou simpatia, e pelo contrário se manterá e até aumentará o financiamento escuso, ilícito e escondido, porque quem financia por interesse continuará dando dinheiro para os políticos em troca de favores, só que agora os candidatos vigaristas irão colocar toda a grana no próprio bolso!
Fundo partidário é aquele que todo partido de acesso. Sendo assim, o que terá de gente criando partido...
Financiamento público de campanha é mais mordida no bolso do contribuinte, que já arca com o Fundo Partidário, simplesmente trplicado em 2015. É uma vergonha. Já não tem recursos para nada e querem tirar mais de nada ??? Chega!
Precisamos instituir o Parlamentarismo e o voto distrital puro.
Para gastar os políticos têm ideias. Mas para economizar e recuperar o país, não estão nem aí.
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