Muita gente não consegue entender o tremendo sucesso imobiliário dos condomínios horizontais instalados ao longo das praias do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Eles multplicam-se como filhotes de gato. O que ninguém entende é como é que tanta gente vai para condomínios totalmente murados e localizados muito, mas muito distantes das praias. É sobre isto que trata este artigo a seguir de David Coimbra, jornalista e escritor dos quadros de Zero Hora. O material está no jornal deste sábado. Vale a pena ler. Coimbra explica de maneira convicente o que justifica a opção dos gaúchos. Ela não tem nada de esquizofrênica, porque é apenas a aspiração de famílias civilizadas que gostariam de viver num País civilizado, mas sao obrigadas a permanecer num atrasado País como o Brasil.
12 de fevereiro de 2011
SONHOS DE VERÃO
A vida que todos deviam levarDavid Coimbra volta ao Litoral para contar suas experiências durante 30 dias em um condomínio fechado, uma escolha de veraneio cada vez mais frequente entre os gaúchos. A seção Sonhos de Verão será publicada às sextas, aos sábados e aos domingos.Tivemos um único dia de folga na Copa do Mundo de 2006. Um sábado. Os jogadores do Brasil saíram da concentração sob dispensa e não havia jogo para cobrir. Podíamos, enfim, fazer um pouco de turismo. Estávamos sediados em uma cidade de nome apetitoso: Bergish Gladbach (pronuncia-se Bergish Gladbach). Na verdade, nosso hotel ficava numa espécie de distrito de Bergish Gladbach, chamado Binsberg (pronuncia-se Binsberg).Nosso hotel era um castelo que no passado serviu como mosteiro. Havia histórias sobre as monjas que viveram ali. Histórias sinistras. O Roberto Alves, colega de Santa Catarina, jura que viu o espectro de uma delas vagando pelos corredores escuros do palácio, na última curva de certa madrugada. Eu mesmo, em determinada noite, saí do quarto para abastecer-me de água e deparei com um vulto alto, esquálido, espigado, murmurando maldições horrendas num canto escuro que julguei ser o antigo claustro de alguma freira que já passou para outro plano da existência. Arrepiei-me de horror, ia despencar na tal desabalada carreira, mas aí reconheci o vulto: era o Maurício Saraiva reclamando que a internet não funcionava.Mas enfim. O nosso dia de folga. Reunimo-nos em frente ao castelo para decidir o que fazer. Todos quiseram ir a Colônia, a metrópole próxima. Havia lá grandes atrações, como a igreja mais alta do mundo, 157 metros de piedade, e, em contraposição, o bordel mais alto do mundo, 11 andares de pecado. Tenho certeza de que todos foram à igreja e não ao bordel. Já eu preferi não ir em nenhum dos dois. Fiquei. Queria conhecer Binsberg.
– Conhecer Binsberg??? – desdenharam meus amigos.
– Iá! – rebati, em bom alemão. – Quero ficar por aqui.
E assim foi. Eles saíram em alegre bando e eu me quedei sozinho em Binsberg.Passei um dos melhores sábados da minha vida.A manhã estava ensolarada e fresca. Saí caminhando, observando as casinhas bucólicas, as ruas limpas e as casas bem cuidadas. Em uma das praças os alemães plantaram um monumento em homenagem a um velho prefeito de sobrenome Wagener. Wagener??? Meu sobrenome do meio é Wagener! Abordei os simpáticos nativos transeuntes, indaguei daqui e dali, e descobri que meu sobrenome é comum naquela região. Logo, sou descendente do velho e bom prefeito Wagener! Que alegria.Não muito longe da praça, descobri um restaurante pequeno dotado de uma varanda florida. Arrisquei-me e entrei. Quando o garçom apareceu, examinei seu rosto. Parecia um homem de autoridade. Olhei para ele e informei:
– Vou no menu confiança!
Não me arrependi. Foi, disparado, a melhor refeição daquele viagem. Saí do restaurante suspirando de prazer.
Logo ali adiante, vi que havia uma movimentação. Fui para lá como quem segue a luz. Siga a luz! Era um passeio, um calçadão onde eles haviam disposto quiosques que vendiam comida e chope. Ao lado, estava instalada uma pequena feira onde se podia encontrar frutas, legumes, peixes e doces. Os alemães andavam pelo lugar com cestas de vime penduradas no braço. Escolhiam uma compota de pêssegos em calda, provavam um naco de salamito, encontravam-se, cumprimentavam-se e riam. Alguns estavam sentados em mesinhas na calçada. Bebiam canecas de chope cremoso do tamanho de leiteiras, trinchavam salsichas bock temperadas com mostarda marrom e riam. Outros examinavam pilhas de CDs vendidos num balaio no meio da rua, sobraçavam livros que tinham comprado em uma barraquinha ao lado, comentavam sobre as notícias do dia e riam.Riam, riam, riam também as crianças que brincavam no entorno, livres, arteiras como devem ser as crianças saudáveis, riam as mães despreocupadas com a arte de seus filhos, riam os velhos e os adultos. Todos riam.Pensei que aquela vida que levam os alemães de Binsberg, uma vida colorida porém pacata, divertida porém segura, aquela vida é a vida que todos deviam levar.Agora, na minha segunda temporada praiana em 2011, compreendi por que há tantos condomínios fechados no litoral, contei 30 entre Capão e Xangri-lá. Porque as pessoas querem viver como se vive hoje em Binsberg, como se vivia ontem no Brasil. Querem, pelo menos nos dias quentes do verão, viver a vida que todos deviam levar.
DAVID COIMBRA
16 comentários:
Continuo discordando e acho que não vou mudar esta opinião Políbio. Se é para comprar casa num condomínio assim para que me incomodar com a tranqueira da freeway? Melhor comparar uma casa na zona sul da cidade. Mas daí não tem glamour né hehe
Gaúcho gosta de aparecer. Gaúcho anda de terno importado e cueca "freada", sapato caro e meia furada no dedão. A grossura dos gaúchos (principalmente os ricos e neo-ricos) sempre foi piada no Brasil.
David Coimbra esta certo. Só mesmo se aprisionando em condomínios fechados (tabas muradas) que os botocudos cucarachas brazucas podem ter uma vaga noção do que é viver entre e como seres humanos civilizados.
BELEZA!
Mas se é justamente essa classe média o problema, a falta de civilidade, o desrespeito às leis e às coisas públicas, estacionar em cima da calçada, não parar em sinal vermelho, sonegação de imposto, jeitinho, especulação, apatia, desinteresse, consumismo, desfaçatez, ignorância, tv e zero hora etc. Não vivem em um país melhor porque colaboram, diariamente, na construção de um país de m*&5@, com o perdão da palavra. Queriam o quê?
Pode ter começado pelo glamour, mas quem tem criança sabe que da portaria elas não passam.
Os arrombamentos caem drasticamente nos condomínios.
Fora de temporada deixo de ir a praia pois temo ficar na única casa do quarteirão com pessoas para serem assaltadas, sequestradas.
Para ir comprar pão e leite chaveia-se a casa, garagem, portão. Antes de dormir liga-se o alarme.
Quando estão em casa os vizinhos também ficam atrás das suas grades e cercas.
Há 25 anos quando compramos a casa ela tinha um muro simbólico de 40 centimetros, assim como todo resto de Xangrilá.
Hoje temos quilometros continuos de casas com cercas de mais de 2 metros.
Eu e minha mulher vivemos o ano inteiro em Garopaba e não temos nem carro, não precisa. Nós moramos em Binsberg
É gostoso de ler as crônicas do David coimbra...ele tem razão...todos nós queremos viver num lugar assim...no Brasil do PT, até os pequenos lugares estão sem segurança, as pessoas se fecham em casa com grades. Aki onde moro, beira de praia, pouco mais de 8/9 anos era uma calmaria, só velhos, estudantes e cachorros nas ruas, hoje...bem, deixa prá lá...é triste tudo isso. O lugar é na praia do Cassino.
AS PRAIAS, PRINCIPALMENTE, AS CATARINENSES ESTÃO UM HORROR. TERCEIRO MUNDO.
CASAS DE VERANEIO SUJAS, COLCHÕES PODRES, TALHERES E LOUÇA UM LIXO.
AS PESSOAS COM UM POUCO MAIS DE PODER AQUISITIVO NÃO QUEREM MAIS ESTA TORTURA ARGENTINA.
Davi deveria ter ficado na Alemanha.
Para construir um país civilizado, sem passar por querras, mister se faz necessário a colaboração de todos, deixar de ser individualista é o primeiro passo.
Vão ao encontro dos brasileiros necessitados que eles não os procurarão.
O problema é que enquanto bandidos não forem presos, fica neste negócio de "responder em liberdade", penas pequenas, com direito a "progressão", prisão sem trabalho forçado, a coisa só vai piorar. Já somos caçados nas ruas, ainda chegaremos ao ponto do sujeito levar o filho no centro para "matar um qualquer", como uma espécie de iniciação no crime. E não dá nada, a gente sabe.
PERDÃO IRMÃO ANÔNIMO DAS 22:52.
FALOU EM INDIVIDUALISMO COMO UMA COISA RUIM.
INDIVIDUALISMO É A EXPRESSÃO MÁXIMA DA DEMOCRACIA, EM QUE O CIDADÃO TEM IDÉIAS PRÓPRIAS E, CONTRIBUI COM A SOCIEDADE E,NÃO "TEM ESPÍRITO DE GADO" COMO OS PARTIDOS ESQUERDISTAS GOSTAM.
NÃO CONFUNDIR INDIVIDUALISMO COM EGOÍSMO, QUE QUER DIZER VIVER EXPLORANDO A SOCIEDADE.
A gauchada nao pode se enganar, pois ja estao em guerra civil a anos. Basta so ver estes dois episodios de assalto seguido de morte em frente ao Shopping Total. Nas praias e seus condominios luxuosos e a mesma coisa, experimentem darem banda com seus carroes, joias e tudo o mais com os bandidos fora das cercas os esperando!!!! E tiro na cabecinha certo!!! Este e "O Pais que ja virou potencia"!!!
Individualismo como negação do coletivo.
São os capitalistas quem combatem no mundo a miséria, socialismo pratica o individualismo e vende utopias, fato verificável pelas atitudes. Aprendí não analisar romance.
Podemos discordar enquanto democracia.
Saudações ao anonimo das 11:09, do anonimo das 22:52.
Cada um faz o que quiser com seu dinheiro. Experimente uns dias nesses condomínios e entenderá.
Anônimo da 15:18h de 12 de fev/2011. Discordo. Gaúcho não é grosso, ele na verdade não é 'sabonete'. Diz o que deve ser dito e não fica nessa (tenho que aguentar isso todo dia na terra dos pseudo educados) de dizer o que o oponente quer ouvir e depois 'sacanear' o cara pelas costas. Gaúcho está perdendo a identidade, isso é fato. Porto Alegre está descaracterizada e entregue a própria sorte (já disse aqui: suja, depredada, horrível).
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