Veja já tinha demonstrado que o problema não é só a presidente Dilma.
De certa forma, trata-se de uma proeza: o governo da
presidente Dilma Rousseff (PT) chega ao período eleitoral com a pior combinação
entre crescimento (pífio) e inflação (alta) dos últimos anos.
Políticos de variados matizes sabem que a eles convém,
embora não seja do interesse público, apertar os cintos no início do mandato
com vistas a fomentar a economia no ano do pleito. Devido a seu
intervencionismo atabalhoado, e não por causa de elevadas considerações morais,
nem isso a administração petista conseguiu fazer.
Economistas estimam que o PIB avançará menos de 1% em
2014; os preços dão pouca trégua; a indústria se retrai; a confiança de
empresários e consumidores despenca. Não era difícil antever esse cenário, mas
só agora a equipe da presidente emite sinais de que ela reconhece equívocos e
pretende corrigi-los se for reconduzida ao cargo.
Se o mea-culpa tardio for sincero, que seja bem-vindo.
Com o país à beira da recessão, porém, a estratégia não parece denotar súbito
arroubo de lucidez. Antes, soa como uma tentativa quase desesperada de
reconquistar apoios ou, no mínimo, reduzir a rejeição a Dilma.
Tenta-se passar a impressão de que as intenções, sempre
boas e corretas, foram comprometidas na fase da execução. O caso mais citado é
o do setor elétrico. Segundo a narrativa oficial, o governo apenas queria
reforçar a competitividade da indústria e errou na mão.
A realidade, contudo, é menos rósea. Num gesto populista,
a presidente decidiu que as tarifas deveriam cair 20%. Todas as decisões
subsequentes tiveram de se adaptar a essa premissa.
O "erro" desorganizou o setor e deixou a
Eletrobrás em situação falimentar. A conta, que já chega a dezenas de bilhões
de reais, um dia será repassada aos consumidores.
Até a desoneração da folha de pagamento começa a ser vista
como um benefício excessivo. Estendida a uma infinidade de segmentos, pesou
demais para o Tesouro. Se o governo se arrepende da iniciativa, no entanto, por
que a presidente decidiu torná-la permanente a poucos meses do pleito?
Perdeu-se, ademais, muito tempo em debates ideológicos
sobre regras dos leilões de concessões. Disso resultou a estagnação dos
investimentos em infraestrutura –que deveriam ter sido fonte importante de
dinamismo econômico.
Longe de ser acidental, o acúmulo de problemas decorre da
falta de compreensão acerca dos reais desafios a enfrentar. Evidenciou-se, há
muito, que o governo nunca teve um plano; perdeu-se nas emergências do dia a
dia.
Mais do que se desculpar, Dilma Rousseff precisa mostrar
que tem algo de novo a dizer –e a fazer.