O editorial a seguir é da Folha deste sábado. Leia a íntegra:
O governo federal lançou o Mais Médicos para resolver o
problema da falta de profissionais em cidades como Anamã, Barbalha, Camaragibe,
Canindé, Cascavel, Coari, Jeremoabo, Lábrea, Nova Soure, Santa Bárbara e
Sapeaçu. Nos gabinetes refrigerados do Planalto, porém, talvez não
se faça muita conta do que realmente se passa nessas localidades do Amazonas,
da Bahia, do Ceará e de Pernambuco. Ou em qualquer outro Estado do Brasil. Como mostrou esta Folha, prefeitos das 11 cidades
citadas já demitiram ou pretendem demitir profissionais contratados para
substituí-los pelos bolsistas do Mais Médicos. O motivo era previsível: quem
paga os R$ 10 mil mensais do programa federal é Brasília. Razão irresistível
para alcaides oportunistas se livrarem de despesa sem se indisporem com
eleitores. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou há duas
semanas que sua pasta monitoraria as prefeituras para impedir essa manobra, tão
deletéria para o programa quanto a hostilidade de associações médicas aos
bolsistas. A esse respeito, é incompreensível que um profissional cubano tenha
sido vaiado e chamado de "escravo". O programa Mais Médicos é uma iniciativa que enfim busca
solução para a inaceitável carência de médicos e tenta pôr para funcionar a
atenção básica de saúde onde ela se apresenta mais necessária.
Importar profissionais tem sido recurso usual noutros
países, e não haveria por que descartá-lo no Brasil. A rejeição a esse
expediente resulta de puro corporativismo --a luta por melhores condições de
atendimento não muda com a presença desses médicos.Isso não significa, é claro, que o Planalto esteja
conduzindo bem todo o processo. Antes o contrário.Encenou-se em Brasília um primeiro ato de prioridade para
profissionais brasileiros --formados aqui ou no exterior-- e para os
interessados de Portugal e Espanha. Nos bastidores, descortinou-se no segundo ato, eram 4.000
cubanos que se preparavam para adentrar o proscênio. O terceiro ato se abre agora com as farsas municipais,
comprovadas em 11 prefeituras. Decerto são representativas de muitas outras
Brasil afora. Falta o público descobrir se o governo federal de fato
vai desligar essas e outras cidades do programa, como agora promete em tom
dramático. Ou, então, se tolerará esse barateamento da saúde pública para não
melindrar possíveis aliados nas eleições de 2014.
CLIQUE AQUI para ler "Médico cubano vê vinda ao Brasil como chance de fazer pé-de-meia", da Folha deste domingo. A reportagem é ilustrada com informações corretas sobre a medicina em Cuba.
CLIQUE AQUI para ler "Médico cubano vê vinda ao Brasil como chance de fazer pé-de-meia", da Folha deste domingo. A reportagem é ilustrada com informações corretas sobre a medicina em Cuba.