A revista IstoÉ desta semana publica ampla reportagem de capa, intitulada "Propina de Renan", na qual revela que o inquérito da Polícia Federal sobre o presidente do Congresso mostra desvios de R$ 100 milhões nos fundos de pensão dos Correios e da Petrobrás, dos quais o senador teria desviado pelo menos r$ 30 milhões.
O caso também envolve o senador Lindbergh Farias, do PT do Rio.
E, pasmem: envolve o próprio relator da CPI da Petrobrás, o ex-ministro de Dilma e deputado do PT, Luiz Sérgio.
Leia a reportagem completa:
Propina de R$ 30 milhões para Renan
Inquérito da PF revela desvio de R$ 100 milhões nos
fundos de pensão Postalis e Petros. Delator acusa o presidente do Congresso de
receber quantia milionária. Os parlamentares petistas Lindbergh Farias e Luiz
Sérgio teriam ficado com R$ 10 milhões cada
Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
Um golpe perpetrado recentemente contra os fundos de
pensão Postalis e Petros começa a ser desvendado pela Polícia Federal.
Inquérito sigiloso obtido com exclusividade por ISTOÉ traz os detalhes de um
esquema que desviou R$ 100 milhões dos cofres da previdência dos funcionários
dos Correios e da Petrobras. Parte do dinheiro, segundo a PF, pode ter irrigado
as contas bancárias do presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), do
senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e do deputado federal e ex-ministro de Dilma,
Luiz Sérgio (PT-RJ), atualmente relator da CPI do Petrolão. Prestes a ser
enviado ao Supremo Tribunal Federal, devido à citação de autoridades com foro
especial, o inquérito traz depoimento de um funcionário do grupo Galileo
Educacional, empresa criada pelo grupo criminoso para escoar os recursos dos
fundos. Segundo o delator identificado como Reinaldo Souza da Silva, o senador
Renan Calheiros teria embolsado R$ 30 milhões da quantia paga, Lindbergh R$ 10
milhões e o deputado Luiz Sérgio, o mesmo valor.
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Para desviar os recursos dos fundos de pensão, os
acusados, segundo a investigação da PF, montaram o grupo Galileo Educacional a
fim de assumir o comando das Universidades Gama Filho e UniverCidade, ambas no
Rio de Janeiro, que passavam por dificuldades financeiras. Para fazer dinheiro,
o grupo Galileo lançou debêntures que foram adquiridas pelo Postalis e pelo
Petros. De acordo com a PF, a operação foi feita apenas por influência política
e sem nenhum critério técnico. O dinheiro, em vez de ser aplicado nas
universidades, teria sido desviado para um emaranhado de empresas e depois,
segundo o delator, remetido a Renan, Lindbergh e Luiz Sérgio. Em pouco menos de
um ano, o MEC descredenciou boa parte dos cursos de ambas universidades e os
fundos arcaram com o prejuízo.
Nas seis páginas de denúncia, o delator cita, além dos
parlamentares, os supostos operadores desses políticos e de seus partidos,
imbricados numa rede de empresas de fachada que teriam servido para lavar os
recursos dos fundos de pensão. Até agora, PF e Ministério Público já ouviram
mais de 20 pessoas, pediram o indiciamento de algumas delas e chegaram a
cogitar prisões cautelares e a apreensão de passaportes. “Os envolvidos
montaram todo um simulacro com aparato administrativo, financeiro e jurídico
para angariar recursos em uma estrutura que não tinha qualquer comprometimento
com a proposta educacional”, afirma o delegado Lorenzo Pompilio, que comanda o
inquérito. Em relatório encaminhado ao MPF, ele fala em “ciclo criminoso”,
considerando a incursão dos acusados nos crimes de peculato, formação de
quadrilha e estelionato. Segundo o delegado, as atas de reuniões, assembléias,
contratos e outros registros financeiros indicam “ações delineadas e
orquestradas a pretexto de desenvolvimento de atividade acadêmica”, mas que
tinham o único intuito “captar recursos que desapareceram”.
Sem poder avançar na apuração do núcleo político, além do
que já foi descoberto, evitando assim que o processo seja enviado
prematuramente ao STF, os investigadores dissecaram a ação de seus operadores.
Quem capitaneou o esquema foi o advogado Marcio André Mendes Costa, responsável
por criar o grupo Galileo e montar a engenharia para drenar recursos dos fundos
de pensão – tudo feito com aparência de legalidade e auxílio de conhecidos
executivos do mercado financeiro. Em pouco tempo, Mendes Costa conseguiu
acessar os cofres do Postalis e da Petros, assumiu o controle da Universidade
Gama Filho e da UniverCidade, instituições tradicionais do Rio de Janeiro.
Toda essa influência não surgiu do nada. Ex-conselheiro
da OAB-RJ, o advogado circula com desenvoltura no meio político. Advoga para
Furnas e trabalha há anos para a família do ex-senador Wellington Salgado, do
PMDB mineiro, antigo aliado de Renan Calheiros. Também é parceiro do
peemedebista Hélio Costa. Foi o ex-ministro das Comunicações quem indicou
Adilson Florêncio da Costa como diretor financeiro da Postalis. Ao sair,
Florêncio da Costa deixou em seu lugar Ricardo Oliveira Azevedo, outro
apadrinhado de Renan. Azevedo levou ao comitê financeiro do fundo, em abril de
2011, a proposta de investimento no grupo Galileo. Em seu relatório, ele
avalizou o projeto e o negócio acabou aprovado por todos os integrantes. Uma
vez concluído o negócio, Florêncio da Costa tornou-se conselheiro da Galileo.
Aqui está o que a Polícia Federal definiu como aprovação por influência
política, sem critério técnico.
O dinheiro do Postalis, cerca de R$ 80 milhões, foi usado
para adquirir 75% do total de debêntures emitidas pelo grupo. O restante foi
comprado pela Petros e pelo Banco Mercantil do Brasil, responsável por
estruturar a operação. Segundo depoimentos, dentro do banco o negócio foi
encaminhado pelo irmão de Mendes Costa, Marcus Vinícius, acionista minoritário
do BMB. As debêntures do Galileo tiveram como lastro as mensalidades do curso
de medicina da Universidade Gama Filho, que naquele momento já passava por
dificuldades financeiras e risco de descredenciamento pelo Ministério da
Educação. Comprá-las era uma decisão temerária e só uma gestão política poderia
garantir a aplicação milionária num negócio pra lá de suspeito.
Mas os dirigentes dos fundos desconsideraram o risco,
assim como se comportaram o banco BNY Mellon, contratado pelo Postalis como
administrador dos investimentos, e a consultoria Planner Trustee, agente
fiduciária da operação. Ao todo, o Postalis investiu R$ 81,4 milhões em
debêntures. Para receber os recursos, Márcio Costa criou a empresa Galileo
Gestora de Recebíveis S.A, também controlada por ele. Como se as garantias das
mensalidades do curso de medicina já fossem frágeis, o advogado ainda decidiu
trocá-las pelas de engenharia mecânica e elétrica – sem avisar ao Postalis. O
escândalo veio à tona em 2012 e foi até alvo de uma CPI na Assembléia
Legislativa do Rio, mas as investigações foram abafadas. O relatório final da
CPI responsabilizou Márcio Costa, sem considerar suas relações políticas e
societárias.
Em depoimento à PF, a advogada Beatris Jardim, nomeada
por Márcio Costa como diretora financeira, revelou novos nomes que participaram
do esquema. Ela disse, quando assumiu o cargo, que já não havia mais o dinheiro
das debêntures no caixa. E apontou como verdadeira tesoureira do grupo Aline
Cristina Duarte Gonçalves, pessoa de confiança de Costa. “Quando eu perguntava
sobre o dinheiro, eles me respondiam com evasivas”, disse Jardim, que já foi
indiciada. Outro diretor, Samuel Dionizio entregou à PF extratos bancários que
mostram um depósito de pouco mais de R$ 50 milhões do Postalis numa conta vinculada
ao recebimento das mensalidades dos alunos. O dinheiro depois foi transferido
para outra conta da empresa administradora, sem passar na conta principal da
Galileo. Em seguida, os valores “foram pulverizados em uma série de operações
com destinação que não pode ser identificada de forma mais clara”. A PF e o
Ministério Público, que também atua na investigação, desconfiam que a
dinheirama circulou pelas contas das empresas dos sócios do grupo Galileo,
depois por outras empresas fantasmas e até doleiros, antes de chegar aos
políticos citados.
Uma das empresas que recebeu os recursos pertence,
segundo a PF, ao empresário Milton de Oliveira Lyra Filho, conhecido como
Miltinho, outro operador importante do esquema. Dono de várias companhias, a
maioria de fachada, Lyra Filho é apontado em Brasília como o lobista de Renan.
Ligado ao PTB e ao PMDB, o nome de Lyra surgiu na Polícia Federal em 2011 no
âmbito da Operação Voucher quando uma empresa sua foi identificada como
beneficiária de recursos repassados pelo Ministério do Turismo num convênio com
o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Infraestrutura Sustentável
(Ibrasi), uma espécie de ONG. Um ano antes, com aval do PMDB, Miltinho
conseguiu que dois cunhados seus comprassem o edifício-sede da Postalis e depois
o revendessem, embolsando no negócio mais de R$ 1,2 milhão. Depois da venda, o
Postalis passou a pagar aluguel de R$ 139 mil para continuar no mesmo lugar.
A relação com os peemedebistas aproximou Miltinho de
Renan Calheiros e os dois passaram a jantar em restaurantes de Brasília.
Elementos da investigação da PF sugerem que, por influência do presidente do
Congresso, o lobista entrou de cabeça no negócio da Galileo. Figurou
primeiramente com 5% no quadro societário do grupo, por meio de sua empresa IDTV
Tecnologia e Comunicação. Depois, trocou a IDTV pela Euro America
Participações, que funciona no mesmo endereço numa sala no subsolo de uma
galeria comercial do Lago Sul em Brasília. Para a Polícia Federal, o fato de
Miltinho estar envolvido no esquema é mais um forte indício – além do
depoimento do funcionário da Galileo – da participação de Renan Calheiros no
esquema. A PF agora quer quebrar o sigilo financeiro dessas companhias. Na Euro
América, Miltinho tem como sócio o investidor Arthur Pinheiro Machado. Ele é
investigado pelo Ministério da Previdência pois estaria por trás de falcatruas
envolvendo R$ 300 milhões do próprio Postalis.
Além de Miltinho, o lobista de Renan, a PF desconfia que
o dinheiro do Postalis possa ter ido parar nas contas das empresas de Ricardo
Magro, dono da Refinaria de Manguinhos. Ele aparece como diretor do grupo
Galileo, apesar de não possuir qualquer afinidade com a área educacional. Magro
sempre atuou no setor de combustíveis e responde processo por sonegação de impostos.
Se a presença de Ricardo Magro nos quadros de um grupo
educacional chama a atenção da PF, tampouco se pode desprezar a relação com
Marcelo Sereno. Ex-assessor do ex-ministro José Dirceu e figura de proa do PT
carioca com reconhecida atuação nos fundos de pensão, Sereno candidatou-se a
deputado federal no ano passado, mas não foi eleito. É atribuída a ele a
estratégia de arrecadação da campanha de Lindbergh Farias para o governo do
Estado, que também fracassou. Na mesma chapa, o único que teve sucesso foi o deputado
Luiz Sérgio, que saiu fortalecido com a reeleição e assumiu papel importante na
Câmara como relator da CPI da Petrobras. Sua função agora é evitar
constrangimentos a Lindberg, que já é alvo de investigação no Supremo por
suposto envolvimento no Petrolão. Todos são suspeitos de usar dinheiro desviado
de contratos da Petrobras para financiar campanhas políticas. Com as
descobertas do caso Galileo, MPF e PF acreditam que o mesmo esquema possa ter
ocorrido nos desvios do Postalis, da Petros e de outros fundos de pensão.
Renan nega propina
Leia aqui a resposta do presidente do Senado a respeito
das acusações de que teria recebido propina