O repórter Thiago Bronzatto, conta na revista eja desta semana o que pretende a cineasta Petra Costa com o seu documentário, que
retrata os bastidores do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff
Leia a entrevista completa:
A cineasta Petra Costa, da produtora Busca Vida Filmes e
diretora do premiado documentário Elena, fala sobre o projeto
intitulado Impeachment.
Quando e como surgiu a ideia de fazer um documentário
sobre o impeachment?
É interessante porque eu achava, ingenuamente, que no
Brasil já tínhamos passado pelos momentos mais significativos da nossa
história, aqueles em que se sente a história tremer sob seus pés. Achava que se
quisesse fazer um filme tratando de questões políticas, meu olhar deveria estar
direcionado para o passado ou para aqueles países que estavam vivendo momentos
conturbados. Desde 2014, o cenário brasileiro começou a mudar numa velocidade
incomum a partir do avanço das investigações da Operação Lava-Jato e da
crescente crise econômica e política. No dia 13 de março deste ano, saí para
filmar as manifestações e percebi que as ruas tremiam. Nunca vi a sociedade
brasileira tão polarizada, uma sociedade que foi sempre celebrada (com razão ou
não) por seu ímpeto conciliador. Senti necessidade de entender mais
profundamente as razões por trás dessa polarização. Naquele momento, percebi
que um filme precisava ser feito. Paralelamente, a comissão de impeachment teve
início na Câmara dos deputados e, ao me aproximar do Congresso, me vi diante de
um universo complexo, fascinante e extremamente cinematográfico, que interfere
tanto nas nossas vidas, e eu conhecia tão pouco. Um Congresso no centro de um
processo de impeachment e com a polarização das ruas refletida nos seus
corredores. Não existe nenhum documentário sobre o impeachment de Collor, o que
acho uma lacuna para nossa memória cinematográfica. Um país sem documentários,
como diz o cineasta Patrício Guzman, é como uma casa sem álbuns de retrato.
Você se inspirou em algum projeto estrangeiro?
Diversos filmes me inspiraram nesse processo, entre eles
está o filme Primary, de Robert Drew, que acompanha as primárias de Kennedy e
Hubert Humphrey.
Você é a responsável pelo roteiro do documentário? Qual
será a principal linha do roteiro?
Por enquanto, sou responsável pelo roteiro, mas ainda
vamos formar a equipe definitiva. O documentário busca adentrar com
profundidade nas nuances por trás dessa crise política. Quero mostrar como os
bastidores da política, tão distantes do dia a dia do brasileiro (fisicamente,
inclusive), estão impactando nossa sociedade, e vice-versa. Há cinco meses
estamos acompanhando as manifestações a favor e contra o impeachment e o
processo de votação na Câmara e no Senado. Entrevistamos parlamentares,
advogados e ativistas dos mais diferentes espectros. A ideia é que o filme
mostre as diversas etapas dessa crise, seus aspectos shakespearianos, maquiavélicos
e épicos.
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