A troika do mal. -
O jornalista Reinaldo Azevedo, Veja, nem de longe faz a defesa do deputado Eduardo Cunha, mas cobra coerência dos deputados, políticos e jornalistas safados que pedem a cabeça do presidente da Câmara e nem de longe assinam sequer uma linha para exigir cadeia para Lula e Edinho, denunciados como bandoleiros que patrocinaram e receberam propinas milionárias, tudo pela voz de uma dúzia de delatores ouvidos na Lava Jato.
Eles também poupam Dilma, que volta e meia é até tratada como vítima e não como algoz.
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O que mais me encanta em setores da imprensa é a lógica
dos sacripantas petistas disfarçados de puros e isentos. Eles querem a cabeça
de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. E olhem aqui: se confirmado
que as tais contas na Suíça, que ele dizia não ter, são mesmo suas, eu também
quero. E digo assim, com todas as letras. Cunha, um excelente presidente da
Câmara, não é da minha turma. Eu não tenho turma.
Mas por que esses mesmos não pedem a cabeça de Edinho
Silva, contra quem já há um inquérito aberto? Mensagens de WhatsApp trocados por
Ricardo Pessoa com um diretor da UTC sugerem com muita clareza que as doações
feitas pelo empreiteiro para a campanha de Dilma à reeleição saíram da
conta-propina. Ora vejam vocês: então Eduardo Cunha, o peemedebista, no texto
dos sacripantas, merece ser enforcado, mas Edinho continua no ministério — e,
agora, atenção!, não apenas como um dos homens fortes da presidente, mas também
de Lula?
Eis a lógica petralha na sua mais explícita e arreganhada
pureza asquerosa. Cunha, então, mereceria o paredão porque, afinal de contas,
se tem mesmo aquela dinheirama toda, ele a teria roubado dos cofres públicos em
proveito próprio.
A ser verdade o que se diz de Edinho Silva, não foi para
se beneficiar que ele teria extorquido Ricardo Pessoa, mas para financiar o partido.
Eis o escarro que passa para a história como a moralidade petista: o roubar
para si faz os ladrões; o roubar para o partido, os heróis.
Se Eduardo Cunha não conseguir evidenciar que as tais
contas não são suas, acho que ele tem de deixar, sim, a presidência da Câmara —
ou, então, de chamar, quando menos, de mentirosos o governo e o Ministério
Público da Suíça. Como está, a coisa não pode continuar. Mas é impressionante
que, na reforma ministerial de Dilma, feita para evitar o impeachment, Edinho
continue como um dos homens fortes da República, agora amparado também por Luiz
Inácio Lula da Silva.
E eis que Lula surge como o condestável da República e
figura forte da reforma no dia em que vem a público a informação de que uma MP
assinada por ele em 2009 foi objeto de uma frenética mobilização de lobbies,
que acabou encontrando, por uma dessas vicissitudes do destino que sempre
marcam o petismo, um de seus filhotes.
Ora bolas! Chega a ser meio nojento ler, na pena de
alguns “coleguinhas” da imprensa, o regozijo com o fato de Lula ser a mão que
balança do berço da reforma, como a dizer: “Ah, finalmente, o governo volta
para as mãos de profissionais”.
Bem, eu não tenho dúvida de que Lula, de fato, é um
profissional em certas artes nas quais Dilma ainda é amadora, se é que vocês me
entendem.
Não! Cunha, um excelente presidente da Câmara, reitero,
não é o meu guia moral. Se não conseguir explicar a história das contas, digo:
tem de renunciar ao posto de comando na Casa — não estou me referindo ao
mandato. Mas e Edinho Silva? Vai continuar lá, como se a delação de Ricardo
Pessoa não existisse?
Então há vigaristas na imprensa que aplaudem a prisão de
empreiteiros — inclusive a do próprio Pessoa, que já foi em cana —, mas acham
legítimo que um dos alvos da delação permaneça como figura forte do governo?
Essa gente perdeu a vergonha de vez?
Não é para responder. A pergunta é meramente retórica.