As jornalista Natuza Nery e Marina Dias, contam na Folha de S. Paulo deste domingo que a crise faz presidente Dilma Rousseff demonstrar irritação. Eis o que ela disse, ao se dirigir ao ministro da Justiça, referindo-se à viagem que ela, Dilma, faria aos EUA, depois de reclamar que Cardozo poderia amolecer Teori Zavascki, "Isso é uma agenda nacional, Cardozo, e você fodeu a minha viagem", acrescentou a presidente. Dilma embarcou no dia seguinte para os Estados Unidos, onde passou cinco dias e se encontrou com o presidente Barack Obama.
Na reportagem a seguir, as duas repórteres contam em detalhes como foi a reunião do dia 20 entre a presidente e seus auxiliares no Palácio da Alvorada, tudo para discutir as últimas delações premiadas de Ricardo Teixeira. Le
Agitada, andando em círculos e gesticulando muito, a
presidente Dilma Rousseff olhou para os auxiliares e bradou, indignada:
"Não sou eu quem vai pagar por isso. Quem fez que pague".
Ela estava furiosa. "Não devo nada para esse cara,
sei da minha campanha", afirmou, referindo-se às suspeitas lançadas pelo
empresário Ricardo Pessoa sobre as doações à sua campanha à reeleição.
Batendo com força a palma de uma mão na outra, Dilma
insistiu: "Eu não vou pagar pela merda dos outros". Ela não disse a
quem se referia, e ninguém achou que era conveniente perguntar.
A explosão de fúria da presidente ocorreu na noite da
última sexta-feira de junho, dia 26, na biblioteca do Palácio da Alvorada,
durante uma reunião convocada às pressas por Dilma para discutir as revelações
de Ricardo Pessoa.
Dono da empreiteira UTC, ele aceitou colaborar com as
investigações da Operação Lava Jato em troca de uma pena menor. O empresário
diz que pagou propina e fez doações eleitorais para facilitar seus negócios com
a Petrobras.
Pessoa deu R$ 7,5 milhões para a campanha de Dilma no ano
passado. Foi tudo declarado à Justiça Eleitoral, mas ele disse que só fez a
contribuição porque tinha medo de perder seus contratos na estatal se não
ajudasse o PT.
O empreiteiro afirmou que tratou da doação com o então
tesoureiro da campanha de Dilma, o petista Edinho Silva, hoje ministro-chefe da
Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto.
Pessoa também lançou suspeitas sobre uma doação eleitoral
feita em 2010 a outro ministro de Dilma, Aloizio Mercadante, chefe da Casa
Civil, que naquele ano concorreu pelo PT ao governo do Estado de São Paulo.
Edinho confirma que se encontrou com Pessoa para tratar
de doações na campanha, mas nega ter feito qualquer ameaça ao empreiteiro.
Mercadante diz que todas as doações que recebeu de Pessoa foram declaradas à
Justiça.
CULPA
Na noite de 26 de junho, a presidente reuniu-se no
Alvorada com Mercadante, Edinho, o assessor especial Giles Azevedo e o ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo, o auxiliar sobre quem recaiu quase toda a
culpa na reunião.
As revelações de Pessoa contribuíram para aprofundar a
crise política enfrentada por Dilma. Nesta semana, ele deve depor ao Tribunal
Superior Eleitoral, que conduz uma investigação sobre a campanha da reeleição.
Os relatos da conversa que a presidente teve com seus
auxiliares em 26 de junho foram colhidos pela reportagem com testemunhas do
encontro e petistas que souberam depois o que aconteceu.
Dilma cobrou Cardozo por não ter impedido que as
revelações de Pessoa viessem a público dias antes de sua visita oficial aos
Estados Unidos, num momento em que a presidente buscava notícias positivas para
reagir à crise.
"Você não poderia ter pedido ao Teori [Zavascki]
para aguardar quatro ou cinco dias para homologar a delação?", perguntou,
referindo-se ao ministro que conduz os processos da Lava Jato no STF (Supremo
Tribunal Federal).
"Isso é uma agenda nacional, Cardozo, e você fodeu a
minha viagem", acrescentou a presidente. Dilma embarcou no dia seguinte
para os Estados Unidos, onde passou cinco dias e se encontrou com o presidente
Barack Obama.
Cardozo tem sido cobrado por petistas por não controlar a
Polícia Federal, que atua na Lava Jato e é subordinada ao Ministério da
Justiça, mas tem autonomia operacional.
'VAZAMENTO SELETIVO'
Na reunião com Dilma no Alvorada, um dos ministros
reclamou que ninguém, nem a PF, nem o Ministério Público, parecia ter
questionado Ricardo Pessoa sobre suas doações eleitorais ao PSDB.
Surgiu daí uma orientação para levantar nos registros da
Justiça Eleitoral os valores das doações recebidas pelos tucanos, além da
palavra de ordem adotada pelos petistas nos dias seguintes: "Vazamento
seletivo".
A presidente voltou a exibir irritação em outros momentos
desde então. Nos Estados Unidos, ela comparou os delatores da Lava Jato a
presos políticos que traíram os companheiros após sofrer tortura na ditadura militar.
Na última segunda-feira (6), em entrevista à
Folha, Dilma insistiu na comparação, desafiou os