* Carlos Augusto Fernandes dos Santos - General
Por ter vivido na cidade uma quadra inesquecível de minha
vida profissional, associo-me a imensa tristeza e desabafo ao colocar no papel a revolta e a
perplexidade que me assaltam, em ser obrigado a ouvir pífias
declarações de diversas “autoridades”
e de ter de assistir a mais uma tragédia, entre
tantas, que ocorrem em nosso país,
consequência da maneira permissiva e negligente
em nossa cultura, de encaminhar e resolver questões substantivas, com a
irresponsabilidade e a omissão do nosso conhecido “jeitinho” . Fica no ar,
entretanto, uma pergunta que precisa ser respondida: Quem inspecionou o local, e autorizou o funcionamento daquela arapuca apelidada de
boate ? Não precisa ser especialista nem técnico experiente, para verificar a
inadequação do indigitado local em abrigar uma pequena multidão - de mil ou mil
e quinhentos indivíduos- numa área restrita com somente uma porta de acesso. Quem forneceu o ALVARÁ de
funcionamento ?
Pelo que se ouviu, “tudo estava de acordo com as leis e as normas em vigor e será
devidamente apurado”.
As ridículas declarações dos integrantes da cadeia de responsáveis ( diretos e
indiretos) tangenciam a ironia e o
sarcasmo: a Prefeitura ( fiscais e o setor de engenharia), o Corpo de Bombeiros
e os outros órgãos que tinham por tarefa a liberação do local, fornecem
capengas explicações, na tentativa de justificar o injustificável. A nossa
indignação se potencializa quando
tomamos conhecimento que:
- Uma autoridade judiciária, de qualquer instância, fornece liminar , autorizando o funcionamento temporário de estabelecimentos , mesmo depois que a inspeção realizada neles
contraindique essa concessão, sob a frágil alegação de cerceamento da liberdade
de investir ou se corrompe, vendendo sentenças, em troca de dinheiro sujo e mal
havido pelas máfias. Assim procedendo
ela colabora negativamente com a prática dessa cultura permissiva e
irresponsável e denigre o poder judiciário.
- Uma autoridade
executiva, ferindo os princípios da
moralidade administrativa e da ética , se corrompe ou participa de negócios e
tratativas escusas e governa como se o cargo fosse de sua propriedade,
atendendo exclusivamente aos desejos do partido político ao qual pertence. Assim procedendo ela fere a liturgia do cargo e o fragiliza.
- Parlamentares eleitos para representar o povo em suas
legítimas aspirações, se deixem corromper ao participarem de negociatas com o
intuito de atender aos apelos dos governos de ocasião ou seus interesses
menores, conspurcando seus mandatos e
desmoralizando a Instituição a que pertencem.
- Parlamentares do
Congresso Nacional , de qualquer das suas Casas (Senado e Câmara), aceitem ser chefiados por colegas cujo passado e histórias de vida não os recomendam para o exercício de tão
dignificante tarefa ou reajam a decisões emanadas da mais alta corte do país,
quando se posicionam contrários à condenação de seus pares, julgados culpados
por crimes cometidos no exercício de suas atividades políticas. Assim procedendo colaboram, ainda
mais, para desmoralizar a
Instituição a que pertencem.
Infelizmente, há longos anos, a nação convive com essa corrente perversa constituída de elos importantes, mas
lastimavelmente frágeis. Em todas as esferas do poder (
Executivo, Legislativo ou Judiciário ) ,
e nos diferentes âmbitos da federação (Federal, Estadual ou Municipal ),
constatamos, com irritante frequência,
desvios de conduta, omissões e negligência de autoridades , revelando, assim,
o baixo nível e a evidente falta de compromisso com princípios, e com a solidez ética e cultural de nossa
gente. Enquanto isso, como sói acontecer e pelas declarações das nossas
autoridades, as investigações caminham na busca de um “ Bode Expiatório” palatável, capaz
de assumir a culpa por toda essa lastimável tragédia.