Crônica de sexta, Vitor Bertini - Ernesto, dizem, é um perigo

Quando perguntavam sua idade, Ernesto dizia seu nome.

Quando a polícia chegou com o mandato, ele não pode fugir do flagrante – sua casa tinha palavras por todos os cantos. Ernesto, dizem, escrevia.

Sem explicar nada, dizem que ele não gostava, contou que sentava para trabalhar todos os dias; os personagens, às vezes, é que não apareciam. Sem donos, as palavras ficavam soltas e, como baratas, multiplicavam-se e escondiam-se nos cantos.

Mesmo inconformado com a situação, Ernesto não falou nenhum palavrão. Disse que era um recurso pobre, ou genial. Também disse que tentava fugir da pobreza e negou conhecer a tal genialidade.

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