Está chegando a hora. -
Preocupado com os efeitos da Operação Lava Jato sobre o
governo, que já enfrenta grave crise política, o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva se reuniu na terça-feira, 14, com a presidente Dilma Rousseff e
ministros, no Palácio da Alvorada, para montar a estratégia de reação. No
diagnóstico de Lula, o estrago foi grande com as buscas e apreensões realizadas
em casas de políticos da base aliada, como o senador Fernando Collor (PTB-AL),
e o cenário previsto é de mais dificuldades.
"Preparem-se porque as coisas vão ficar
piores", afirmou o ex-presidente, segundo relatos obtidos pelo jornal
"O Estado de S. Paulo". O encontro começou por volta de meio-dia, com
um almoço, e terminou às 16h30. Lula estava furioso com a forma como a Polícia
Federal vem agindo e disse a Dilma que ela precisa sair logo dessa agenda
negativa.
"Você não tem que ficar falando de Lava Jato",
esbravejou Lula, de acordo com dois participantes da reunião no Alvorada.
"Você tem que governar, ir para a rua, conversar com o povo, divulgar os
seus programas. Não pode ficar só nessa agenda de Lava Jato e ajuste
fiscal."
Antes de se reunir com Dilma, Lula esteve com o ministro
da Fazenda, Joaquim Levy. Pediu a ele que insista em divulgar as medidas para a
etapa seguinte ao ajuste porque, na sua avaliação, o governo deve
"vender" esperança. Para o ex-presidente, a aprovação de Dilma e
mesmo a dele desmoronaram muito mais por problemas na economia do que por
denúncias de corrupção na Petrobras.
Lula disse a Levy que o governo ainda erra na
comunicação. "O ajuste fiscal não pode ser apresentado como um fim em si
mesmo", insistiu. "O que nós temos que mostrar para as pessoas é onde
queremos chegar."
A conversa entre os dois foi cordial. Tanto que, no
Alvorada, Lula afirmou que as divergências entre Levy e o ministro do
Planejamento, Nelson Barbosa, sobre a redução da meta fiscal precisam ser
contornadas. O ex-presidente cobrou unidade no governo e chegou a elogiar o
vice Michel Temer, que comanda o PMDB e é articulador político do Planalto.
Dilma concordou com o padrinho, mas não escondeu a
insatisfação com as últimas críticas feitas por ele. Afirmou, ainda, nada poder
fazer em relação às investigações da PF. Nos bastidores, políticos dizem que os
próximos alvos são os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Quebrando o gelo
Lula não conversava com Dilma havia quase um mês, desde
que criticou a estratégia do Planalto para sair da crise. Num encontro com
religiosos, o ex-presidente disse que ele e a sucessora estavam no "volume
morto".
O receio do governo é que o novo movimento da PF provoque
ainda mais tensão no relacionamento com a base, no momento em que Dilma que
sofre ameaças de impeachment. Há quem avalie, porém, que, se Cunha e Renan
forem denunciados, o discurso pró-saída de Dilma perde consistência no
Congresso.
Além de Lula, participaram da reunião no Alvorada os
ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social),
Jaques Wagner (Defesa), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), o governador de
Minas, Fernando Pimentel, e o presidente do PT, Rui Falcão. Pimentel é alvo de
operação da PF que apura arrecadação ilegal de dinheiro em suas campanhas. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo