Nesta ampla reportagem de Julia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo, intitulada "Dono de empreiteira confirmou ‘comissões’ em contrato do
pré-sal", o jornal O Estado de S. Paulo desta segunda-feira vai fundo nas denúncias sobre a reedição do Petrolão também nos contratos do Pré-Sal. O Jornal Nacional, à noite, amplificou tudo e disse que o MPF investiga tudo
A reportagem parte da afirmação de Gerson Almada, da Engevix (foto ao lado), de que pagou até
0,9% para Milton Pascowitch por negócio de sondas de exploração de petróleo da
Petrobrás, com a Sete Brasil, pesou em prisão de lobista. O gaúcho Milton, que é de família de Rio Grande, segundo um dos donos da Engevix Engenharia, Gerson de Mello
Almada, recebeu “comissões” que chegaram a “0,9%” dos contratos – ainda em execução
– que o Estaleiro Rio Grande, controlado pela empreiteira, fechou para
construção de sondas do pré-sal, para a Petrobrás.]
Leia tudo:
Pascowitch – dono da Jamp Engenheiros Associados – é um
dos cinco acusados pela força-tarefa da Lava Jato de serem operadores de
propina nos contratados de construção de 29 sondas para exploração de petróleo
em águas profundas, pela Petrobrás, via empresa Sete Brasil S.A..
A confirmação do empresário de que Pascowitch recebia “comissões”
pelo “lobby” que fez nos contratos do Estaleiro Rio Grande foi um dos elementos
que levaram a Justiça Federal a decretar a prisão preventiva do lobista, na
última semana.
“Vinculado a esse negócio foi firmado um contrato de
consultoria com a Jamp (Engenharia Associados) de Milton Pascowitch, o qual foi
calculado em torno de 0,75% a 0,9% do valor do contrato das sondas, que girou
em torno de US$ 2,4 bilhões, estando o contrato ainda em execução”, declarou
Almada.
A Sete Brasil foi criada pela Petrobrás, em parceria com
fundos de pensão públicos e privados e com três bancos. Em 2011, a empresa
fechou um contrato com estatal para viabilizar um grandioso projeto de
construção de sondas no Brasil, no valor de US$ 25 bilhões.
Peça central na criação da Sete Brasil e primeiro diretor
de Operações da empresa, nomeado para cuidar do projeto das sondas, foi Pedro
Barusco. Ele é ex-gerente de Engenharia da Petrobrás e confessou, em delação
premiada com a Lava Jato, receber propina no esquema.
“Sobre o valor de cada contrato firmado entre a Sete
Brasil e os estaleiros, deveria ser distribuído o percentual de 1%,
posteriormente reduzido para 0,9%”, revelou Barusco.
Leia as denúncias sobre a Sete Brasil:
Almada, admitiu que foi procurado por Barusco para os
contratos das sondas. O Estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul, foi
contratado para construir três das sondas marítimas de perfuração da Sete
Brasil.
Pré-sal. Cinco estaleiros, formados por empresas do
cartel em parceria com as gigantes mundiais do setor, foram contratados nesse
pacote de equipamentos para o pré-sal.
Procuradores da Lava Jato sustentam que as “comissões”
que Almada confessou ter pago à PF e à Justiça Federal – em processo em que é
réu – para Pascowitch no negócio das sondas era “propina”.
Os contratos das 29 sondas da Sete Brasil são um dos
pontos de partida da força-tarefa da Operação Lava Jato na ofensiva para
comprovar que o esquema de cartel e corrupção nas obras de refinarias da
Petrobrás, entre 2004 e 2014, foi reproduzido em contratos do bilionário
mercado do pré-sal.
A prisão de Pascowitch nesta semana é fruto desse
aprofundamento de produção de provas no setor que orbita o pré-sal. Ele foi o
terceiro operador de propina apontado como representante dos estaleiros
contratados pela Sete Brasil a ser preso pela Lava Jato.
Barusco apontou em sua delação o nome de cada um dos
operadores: Ildefonso Colares Filho (executivo da Queiroz Galvão, preso e
liberado) em nome do Estaleiro Atlântico Sul; Zwi Zkornicki pelo Estaleiro
BrasFels, controlado pela Kepell Fels; Guilherme Esteves de Jesus (preso em
Curitiba), pelo Estaleiro Jurong Aracruz, Rogério Araújo (executivo da
Odebrecht) pelo Estaleiro Enseada do Paraguaçú, e Milton Pascowitch pelo
Estaleiro Rio Grande.
Em fevereiro, a Procuradoria chegou a pedir a prisão de
Pascowitch, mas ela foi negada pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz os
processos da Lava Jato. O pedido baseava-se apenas nos apontamentos de Barusco
em sua delação.
Após a confirmação de um dos sócios da Engevix sobre seu
papel nos contratos com a Petrobrás e do encontro de provas em buscas feitas na
casa do lobistas e de outros investigados – como contratos de “falsas
consultorias” e registro dos recebimentos de valores no exterior -, o juiz
Sérgio Moro decretou sua prisão preventiva, cumprida na quinta-feira.
Em março, a Lava Jato prendeu também o lobista Guilherme
Esteves de Jesus. Ele é acusado de ter pago US$ 8,2 milhões em propinas em nome
do Estaleiro Jurong Aracruz pelos contratos para construção de sondas de
exploração do pré-sal da Sete Brasil.
Ildefonso Collares já havia sido preso, em novembro,
junto com Almada – na sétima fase da Lava Jato. Ele é acusado de ser um dos
executivos da Queiróz Galvão envolvidos com a corrupção na Petrobrás.
Leia depoimento de Pedro Barusco sobre o caso:
CLIQUE AQUI para conhecer ]
a decisão do juiz Sérgio Moro sobre a prisão de Milton Pascovitch.
Operadores do pré-sal. É a partir do núcleo de cinco
operadores de propina ligados aos estaleiros, que foram contratados pela Sete
Brasil, que a Lava Jato deu início à tentativa de comprovação de que a
“corrupção sistematizada” que vigorou nas obras de refinarias avançou nos
contratos que orbitam o pré-sal.
Será seguindo rastro do dinheiro movimentado por esse
núcleo de operadores de propina e das provas até agora encontradas, que
investigadores da Lava Jato acreditam que atingirão novos nomes do grupo de
agentes públicos corrompidos.
Eles seriam os elos dos partidos na Petrobrás. Três já
foram presos: Paulo Roberto Costa (delator, em regime domiciliar), Renato Duque
e Nestor Cerveró. As denúncias apontam que o esquema era coordenado pelo PT,
PMDB e PP – mas beneficiou também legendas da oposição, como o PSDB.
COM A PALAVRA, AS DEFESAS
SETE BRASIL
A Sete Brasil, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma
que não se considera como “empresa investigada pela Operação Lava Jato” e que
desde que foi deflagrado o caso tem adotados as medidas internas.
“Não há até o momento nenhuma acusação de existência de
irregularidades ou existência de um ‘operador de propina’ nos contratos da Sete
Brasil”, informa.
“Como vem esclarecendo desde o início do ano, a Sete
Brasil informa que o ex-presidente e o ex-diretor citados por delações
premiadas divulgadas pela imprensa não são mais executivos da Sete Brasil desde
início de 2014, quando houve mudança da presidência e de toda diretoria da
empresa.”
A atual direção da Sete Brasil informou que auditorias
externas iniciadas depois de maio de 2014, feitas em todos os contratos,
chegaram à conclusão de que eles “estavam dentro da legalidade e com preços
praticados pelo mercado”.
A empresa informou ainda que está em curso um “plano de
reestruturação”, autorizado pelo acionistas, para ser apresentada aos credores
até o final de junho.
MILTON PASCOWITCH
O advogado criminal Theo Dias, que defende Milton
Pascowitch disse que não vê a presença dos requisitos necessários para o
decreto de prisão preventiva de seu cliente.
“Ele (Pascowitch) já prestou depoimento recentemente,
houve busca e apreensão na residência dele, houve até sua condução coercitiva,
em fevereiro. Desde então, o cenário não mudou. Ele continua no mesmo endereço,
suas atividades todas estão paradas.”
Theo Dias, o defensor de Pascowitch, ressalta que, há
cerca de três meses, o juiz federal Sérgio Moro indeferiu um primeiro pedido de
prisão preventiva de seu cliente. “Não vejo nenhuma mudança de fevereiro para
cá que justifique agora a ordem de prisão.”
O advogado assinala. “Ainda que o Ministério Público
Federal entenda que tenha provas de envolvimento de Pascowitch em atividades
ilícitas isso não é suficiente para a prisão preventiva. Não havia risco de
fuga, ameaça à testemunha. O que me surpreende é um decreto de prisão sem nada
que autorize tal medida, a não ser a metodologia de prender para forçar as
pessoas a falarem.”
“Estamos trabalhando minuciosamente nessas respostas e no
nosso prazo, que vence na próxima segunda-feira. No meio desse prazo, porém,
ocorre o decreto de prisão. Nessas últimas semanas temos tido frequentes
contatos com o delegado da Polícia Federal para agendamento de depoimento do
Milton (Pascowitch), são contatos assíduos com o delegado da operação.”
RENATO DUQUE
O ex-diretor Renato Duque, preso em Curitiba, negou o
envolvimento em pagamento de propinas. Tanto sua atuação na Petrobrás, como
posteriormente na empresa própria de consultoria, foram dentro da legalidade.
ZWI SKORNICKI
Zwi Skornicki nega qualquer tipo de envolvimento em
atividades relacionadas a Operação Lava Jato. O engenheiro informa que está
sendo investigado e vem cooperando com a Justiça. Aproveita para ressaltar que
presta serviços para empresas multinacionais e transnacionais que seguem
rígidas normas anticorrupção.
PETROBRÁS
Procurada, a Petrobrás informou que não iria comentar o
assunto.