O jornal Zero Hora de hoje revela que o deputado gaúcho intercedeu pela Fidens junto à Diretoria
de Abastecimento da Petrobras, segundo apuração da Operação Lava-Jato, o deputado confirma ter feito isto, mas nega pagamento de propina ao diretor responsável pela área na Petrobrás. A Fidens integrou o consórcio que construiu o sistema de abastecimento de água Marrecadas, obra realizada durante as duas administrações do então prefeito José Ivo Sartori, caxias do Sul.
Leia toda a reporgtagem:
Com dificuldades para assinar contratos na Petrobras, a
Fidens Engenharia recorreu ao apoio de deputados do PP, partido que colocou
Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da estatal. Amigos e membros
da Comissão de Minas e Energia da Câmara, Luiz Fernando Faria (MG) e José
Otávio Germano (RS) trataram com Costa, em 2008, a situação da construtora, de
fora do clube de empreiteiras que dominava as licitações.
Após ganhar obras na petroleira, a Fidens teria enviado
R$ 200 mil a Costa por meio de Faria e José Otávio. O suposto pagamento
transformou os parlamentares em investigados em um dos inquéritos da Operação
Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
José Otávio se reuniu no prédio-sede da estatal, no Rio de
Janeiro, com o então diretor de Abastecimento em dezembro de 2008, como explica
em entrevista a ZH. Conforme o jornal O Globo, o formulário da Petrobras que
registra entradas no edifício mostra que o gaúcho se identificou como
representante da Fidens. No encontro, estariam Faria e Rodrigo Alvarenga
Franco, executivo da empreiteira.
Com sede em Belo Horizonte, a Fidens tinha em Faria,
também mineiro, seu contato. Em 2008 ele presidia a comissão de Minas e
Energia, ao suceder José Otávio no cargo. O deputado procurou o amigo gaúcho e,
juntos, levaram Rodrigo Franco até Costa. O executivo detalhou a capacidade de
sua empresa e questionou o andamento de concorrências para obras.
Em depoimento, o ex-diretor diz que os parlamentares
solicitaram a inclusão da Fidens em licitações sem ofertar propina. A
construtora entrou na lista de convidadas e levou a construção dos edifícios
administrativos do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
A partir de 2010 a Fidens ampliou negócios com a estatal.
Além dos prédios, trabalhou nos sistema de tochas e na torre de resfriamento do
Comperj. Em consórcios, ganhou licitações da unidade de manuseio de coque na
Refinaria Abreu e Lima (PE) e da terraplenagem da refinaria Premium I (MA),
contratação que, segundo o doleiro Alberto Youssef, teve ingerência de Faria.
Para retribuir, a empreiteira teria enviado, conforme
Costa, os R$ 200 mil repassados em espécie por Faria e José Otávio ao
ex-diretor entre 2010 e 2011 no hotel Fasano, no Rio de Janeiro — segundo o
hotel, nos registros de hóspedes não constam os deputados e Costa.
Investigados juntos na Lava-Jato, Faria e José Otávio
contrataram o mesmo advogado, Marcelo Bessa. Amigos, eles são colegas na Comissão
de Minas e Energia desde a década passada, e costumam sentar lado a lado no
plenário da Câmara. Em 2013, o gaúcho recebeu a Medalha da Inconfidência, maior
comenda mineira, por intermédio de Faria.
O trabalho na comissão da Câmara gerou a amizade e apresentou
José Otávio ao círculo empresarial da mineração. Em 2014, o gaúcho e Faria
estavam entre os políticos de diferentes partidos que prestigiaram a festa de
60 anos de Fernando Coura, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de
Mineração e que até 2012 integrava o conselho de administração da Fidens.
Pelo salão também circularam Carlos Henrique e Fernando
Frauches, empresários que controlam a construtora. As relações em comum e o
auxílio na Petrobras não renderam aos deputados doações de campanha feitas pela
Fidens nas últimas eleições (2010 e 2014), mas resultaram no inquérito no STF.
Procurada por Zero Hora, a empreiteira não se manifestou.
Empresa entrou em dificuldades financeiras
Empreiteira de médio porte, tradicional na mineração e
construção pesada, a Fidens entrou em derrocada depois de ampliar sua presença
na Petrobras. Em crise financeira, responde processo administrativo na
Controladoria-Geral da União (CGU) e foi impedida de firmar novos contratos na
estatal. Com sede em Belo Horizonte e filiais na África, a companhia nasceu em
1968 com o nome Tercam e ganhou espaço no setor rodoviário. Em 2003, foi
desmembrada, o que originou a Fidens, que integrou o consórcio que ergueu a
barragem Marrecas, em Caxias do Sul.
Em 2007, a empreiteira tinha 1.351 funcionários e faturou
R$ 274 milhões, com lucro líquido de R$ 35 milhões. Em 2012, com a Petrobras a
responder por mais da metade de sua receita, a Fidens saltou para 7.410
funcionários, faturou R$ 985 milhões e teve lucro líquido de R$ 21,2 milhões. A
crise na estatal e um calote de mineradora MMX Sudeste complicaram a empresa.
A empreiteira é controlada pela família Frauches. O
engenheiro Carlos Henrique Frauches aparece como atual diretor-superintendente,
conforme a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais. Já Rodrigo Alvarengo
Franco, citado na Lava-Jato, é registrado na função de diretor.
Franco era visto com frequência no Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes (Dnit), onde é definido como um executivo
discreto. A boa imagem no Dnit durou até 2011, quando a Polícia Federal indicou
fraudes na construção da BR-429, em Rondônia — a empresa integrava o consórcio
da obra. Em setembro de 2014, a Fidens foi impedida por dois anos de participar
de licitações e de firmar contratos. A punição foi suspensa por decisão
judicial.