Marice Corrêa de Lima faz depósito na conta da
irmã e mulher de Vaccari, Giselda Rousie de Lima, em agência do Itaú, em São
Paulo(Reprodução/VEJA)
A reportagem a seguir é do site www.veja.com.br
A força-tarefa da Operação Lava Jato pediu nesta
segunda-feira a conversão da prisão temporária de Marice Corrêa de Lima, cunhada
do ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, em prisão preventiva - o prazo se
encerraria nesta terça-feira. Os procuradores da República encontraram uma
série de depósitos fracionados, realizados até o mês passado, feitos por Marice
na conta da irmã Gisela Rousie de Lima, mulher de Vaccari. O Ministério Público
Federal diz que se trata de uma mesada com recursos ilícitos. O pedido ainda
precisa ser analisado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na 13ª
Vara Federal de Curitiba (PR). Se for aceito, Marice ficará presa por tempo
indeterminado.
"Tudo indica que Giselda [mulher de Vaccari] recebe
uma espécie de 'mesada' de fonte ilícita paga pela investigada Marice, sendo
que os pagamentos continuam sendo feitos até março de 2015. Nesse contexto, a
prisão preventiva de Marice é imprescindível para a garantia da ordem pública e
econômica, pois está provado que há risco concreto de reiteração
delitiva", escrevem os procuradores.
A quebra do sigilo bancário de Marice revelou que ela
depositou 322.900 reais, de maneira parcelada, sem origem identificada na conta
da irmã, entre 2008 e 2014. Segundo o Ministério Público Federal, entre 2008 e
2012, ocorreram diversos depósitos acima de 10.000 reais, e também não
identificados. Eles somam ao todo 260.500 reais.
O uso de depósitos divididos em valores menores é um
expediente comum em crimes de lavagem de dinheiro para não despertar suspeita
das autoridades de controle do sistema financeiro nacional (Sistema de
Investigação de Movimentação Bancárias - Simba), que monitoram transações
bancárias de grande monta. Como os depósitos eram feitos nos caixas
eletrônicos, os valores ficavam restritos ao limite de 2.000 reais, para os
quais não há necessidade de identificação do depositante. No Brasil, os
depósitos em dinheiro vivo acima de 10.000 reais só podem ser feitos nos caixas
convencionais, que exigem o registro de quem efetua o crédito.
Vídeo - A pedido do MPF, o Banco Itaú enviou imagens
de Marice em agências bancárias da capital paulista realizando os depósitos na
conta da irmã. As imagens foram feitas em março por câmeras de segurança em
agências bancárias nos bairros Saúde e Planalto Paulista, que ficam próximas à
casa de Vaccari. Questionada pela Polícia Federal durante interrogatório nesta
segunda-feira, Marice negou ter feito quaisquer depósitos para Giselda neste
ano.
No pedido de prisão preventiva, os investigadores
descreveram os depósitos de Marice flagrados pelo videomonitoramento. "O
primeiro depósito foi efetivado no dia 2 de março de 2015. Das imagens enviadas
pelo banco, é possível verificar Marice esperando na fila da agência. No exato
momento da operação bancária identificada, as câmeras de segurança capturaram a
imagem de Marice realizando o depósito em um dos caixas automáticos da agência.
O segundo depósito foi efetivado no dia 6 de março de 2015. Analisando as
imagens enviadas pelo banco, também restou possível identificar Marice
realizando um depósito em favor de Giselda."
Marice Corrêa de Lima era apontada como uma operadora
auxiliar de propinas para Vaccari e o PT. Ela recebia remessas de dinheiro até
em casa, conforme documentos apreendidos pela Polícia Federal e depoimento do
doleiro Alberto Youssef. Mas agora os procuradores já indicam que suas
atividades iam além disso: Marice também era a responsável por receber
vantagens pessoais indevidas destinadas a Vaccari. A mulher do petista e a
filha do casal, Nayara Vaccari de Lima, já eram investigadas por lavagem de
dinheiro e enriquecimento ilícito.