O PSDB anda dividido sobre o impeachment da Presidenta
Dilma. Uma parte queria ver o partido na vanguarda dos protestos de rua, outra
preocupa-se com os “elementos jurídicos”. O Partido também se divide no tema
das terceirizações. Uma parte apoia o projeto, outra recua, sob pressão das
redes sociais. O PSDB parece sempre assim, dividido. Alguns dizem que isso é
bom para a democracia. Ao menos temos um partido “ponderado”. Alguns dizem que
é ruim, que seria bom ter uma oposição mais efetiva. Todos, porém, parecem
concordar que isto é muito bom para o governo.
O Brasil vive uma situação curiosa. O governo parece
viver uma crise cada vez mais aguda, o tesoureiro do PT vai preso e a maioria
da população se diz favorável à abertura de um processo de impeachment. Há,
inclusive, algo impensável, tempos atrás: movimentos de massa contra o petismo.
O que parece faltar é uma oposição. O PSDB não parece vocacionado a cumprir
este papel. Há muita gente impaciente com isso, vociferando na internet. Mas
parece não ter jeito. O PSDB não fará o que o PT fez, na época em que era
oposição. Não é da sua natureza, simplesmente isso.
O PSDB é um “estado de espirito”, costuma dizer o
ex-Presidente Fernando Henrique, com bom humor. Tem muita simpatia, economistas
de primeira linha, mas pouca militância. Tem um bom programa, mas baixa
organicidade. Xingado de “neoliberal”, durante anos, pelo petismo, é hoje
atacado como “de esquerda”, pelos grupo radicais que andam pelas ruas. Partido
líder da oposição, elogia o ministro da fazenda e se preocupa com a
governabilidade do País. Talvez um partido cheio de dedos demais para a selva
política brasileira.
Consta que o embrião PSDB nasceu em uma reunião de
Prefeitos, nos idos de 1985, num escritório na Avenida São João, no centro
velho de São Paulo. Eram 40 prefeitos da ala progressista do PMDB paulista. Ato
seguinte, o Partido tomou forma nas cisões internas do PMDB, na constituinte.
Pesou o debate sobre o sistema de governo, a rejeição ao mandato de cinco anos
para o Presidente Sarney, e mesmo a ruptura com o quercismo, em São Paulo.
O partido nasceu oposicionista, a partir de uma base de
princípios – a socialdemocracia, o parlamentarismo, a ideia do “estado
necessário’’. Nasceu com o apoio de intelectuais de alto calibre republicano,
como Afonso Arinos, Bresser Pereira e José Arthur Giannotti. Mas nasceu como um
partido parlamentar. Nada de sindicatos, movimentos sociais. Nada também de
instâncias de base, prévias ou muita democracia partidária. Basta observar a
composição das direções partidárias, desde o início: nunca houve dúvidas de que
o PSDB seria um partido de quem tinha mandato. Um partido de baixa intensidade,
meio sem graça até, feito sob medida para uma “democracia madura”. O que nunca
foi o caso, definitivamente, da democracia brasileira.
O partido nasceu sob os ventos de mudança, que varreram o
planeta, no final dos anos 80. A queda do muro de Berlin, o fim do socialismo
real, a redemocratização da América Latina. Mas não apenas isto. Foi o tempo de
revolução tecnológica, em que as fronteiras se abriram, o comércio global
explodiu e o velho welfarestate europeu subitamente envelheceu. Na Espanha,
Felipe Gonzalez conduz a abertura econômica; na Itália, Acchille Occhetto fecha
as portas do velho PCI, e na Inglaterra gesta-se o novo trabalhismo, sob a
batuta intelectual de Antony Giddens e a ainda jovem liderança de Tony Blair.
Nesse contexto, inútil tentar compreender o surgimento do
PSDB com uma “dissidência à esquerda” do PMDB. Por esta lógica, a
“não-dissidência à direita” governaria o País, há 12 anos, em aliança com o PT.
O Brasil é um curioso Pais em que duas palavrinhas do proselitismo político –
esquerda e direita - se tornam conceitos acadêmicos. O PSDB foi o partido que
levou à frente, junto com figuras isoladas, como Roberto Freire e Fernando
Gabeira, as intuições da chamada “terceira via”. Reforma do Estado,
responsabilidade fiscal, abertura ao mercado e políticas inclusivas. De um modo
geral, o receituário da “Concertação” chilena, de Ricardo Lagos, transformada
em “neoliberalismo”, no calor dos trópicos.
Desde o início, é impossível pensar o PSDB dissociado da
figura de Fernando Henrique Cardoso. É ele que escreve, que dá o tom ao debate,
que recebe os aplausos mais demorados, já no primeiro encontro do partido.
Fernando Henrique, o Professor de Daniel Cohn-Bendit, em Nanterre, o ideólogo
discreto do MDB que conduziria o País à abertura, nos anos 70, até tornar-se o
grande estadista – talvez único – da quinta república brasileira.
Fernando Henrique, o político bossa nova. Suave na fala,
sempre disposto à convergência, e fazendo parecer que tudo é muito fácil, mesmo
quando de fato não é. Sua personalidade definiu, de certo modo, o DNA do novo
partido. A turma “em cima do muro”, no humor político. Não tanto pela indecisão,
mas por ter feito da moderação uma virtude.
A ausência que se fez tornou um predicado: o afastamento
dos sindicatos. Presos ao Estado, dependentes do imposto sindical, os
sindicatos há muito tornaram-se âncoras do conservadorismo brasileiro. Reforma
da previdência? Contra. Reforma da legislação trabalhista? Contra. Meritocracia
no setor público? Nem pensar. Em parte, sindicatos são assim, em toda parte.
Opõem-se à inovação social, recusam a destruição criativa schumpeteriana. No
Brasil, porém, parecem viver inteiramente fora do tempo. Sua folha corrida
inclui a oposição ao plano real e à lei de responsabilidade fiscal. A distância
dos sindicatos foi, para o PSDB, a via da modernização programática (hoje quem
sabe ameaçada), e também a privação de extensos aparelhos de suporte político,
usados à exaustão por parte de seu maior rival político.
Com apenas seis anos de existência, o PSDB chega ao
governo, em 1994. Na sua gestão, criam-se as agências reguladores e executa-se
um amplo programa de desestatização da economia. O número de funcionários civis
da União cai de 630 mil para 530 mil (voltaria a 630 mil no final do governo
Lula). Consolida-se o poder civil, com a criação do ministério da defesa, e o
ensino fundamental é universalizado, sob a gestão do Ministro Paulo Renato de
Souza.
A história dirá sobre seus grandes erros. De minha parte,
aponto dois: o relativo abandono do Plano Diretor da Reforma do Estado,
conduzido pelo Ministro Bresser Pereira, no primeiro mandato, e a relativa
demora na implantação dos programas sociais. Basta dizer que o Bolsa Escola
surgiu apenas em 2001, o que ajudou a gerar o estigma – não de todo equivocado
– de um partido pouco voltado à questão social.
Uma vez na oposição, o PSDB submerge. Lula captura para
si a agenda da estabilidade econômica e dedica seus melhores esforços à
desconstrução sistemática da obra e da imagem dos tucanos. No discurso oficial,
a história do Pais é dividida em duas partes: antes e depois de 2003. E a
estratégia funciona. O PSDB se vê acuado e perde sucessivas eleições
presidenciais. Pior: aceita o jogo, e mesmo recua na defesa das reformas
empreendidas em seu governo. Em uma década, sua bancada na Câmara Federal é
reduzida à metade.
No início de 2011, após a terceira derrota seguida do
partido, nas eleições presidenciais, Fernando Henrique publica um artigo sobre
os rumos da oposição, na Revista Interesse Nacional. Seu argumento é simples:
surgiu uma nova classe média urbana, no País, nos últimos anos, e deve ser este
o alvo preferencial da oposição. É inócuo, na visão do ex-presidente, tentar
dialogar com o setor sindical, atrelado ao Estado, e difícil penetrar nas áreas
mais pobres do País, igualmente mantidas sob controle do governo, via programas
de transferência de renda.
O artigo produz certa repercussão. Lula, malandro,
compara Fernando Henrique ao General Figueiredo, que dizia preferir cheiro de
cavalo ao do povo. Demagogia a parte, o artigo toca no ponto certo.
Não que a oposição tenha subitamente começado a dialogar
com a classe média, mas o acaso parece fazer o seu trabalho. O início da década
assiste ao fim do boom das commodities e do crescimento fácil, à base da
expansão do gasto público e dos incentivos ao consumo e endividamento das
famílias. O Governo perde o mão, na política econômica, e a corrupção se torna
manchete diária nos jornais. O ponto de inflexão ocorre com as grandes
manifestações de junho de 2013. Grandes e efêmeras. Surto de indignação difusa
dos cidadãos, nestes tempos de internet. O fato é que a classe média urbana
gravitou, naturalmente, para a oposição. Sem que esta tenha feito lá grande
esforço, nem entendido grande coisa.
Resultado disso é a eleição renhida de 2014. Os 48% de
votos de Aécio Neves, sua vitória inconteste nos grandes centros urbanos, e o
inédito início de mandato de um chefe de estado com 78% de desaprovação
popular. E o PSDB segue como sempre: contundente no Congresso e observando
discreto as passeatas. Chamado de “partido de bananas” pelos ativistas mais
jovens e radicais, encaminha uma consulta jurídica sobre a hipótese do
impeachment, e apresenta uma nova proposta de reforma política.
Para onde vai o PSDB? Intuo que resistirá, até onde der,
à tese do afastamento da Presidenta. Foi assim também à época do Mensalão, com
Lula. Apenas fatos novos e de altíssima gravidade farão o partido mudar de
rumo. Ainda assim, não imagino que se colocará na vanguarda. Quando muito,
seguirá, relutante, o movimento das ruas, que por agora parece ter esfriado.
Para chegar ao poder, a oposição terá que ganhar as eleições. Primeiro em 2016,
depois em 2018.
Weber definiu a política como o “lento perfurar de tábuas
duras”. Arrisco dizer que é esta a intuição que anda na cabeça de muita gente,
no PSDB. Depois de perder quatro eleições, quem sabe tudo dê certo, na quinta.
O partido parece não ter pressa, nem desejar tanto assim o poder, como se
poderia imaginar. Nesses últimos anos, o partido tem sido o príncipe encantado
da classe média oposicionista, Brasil afora. O risco é, qualquer dia desses,
aparecer algum tipo menos comportado, e lhe roubar a noiva, na beira do altar.
Há muito tempo já escrevia ao PSDB, cobrando uma oposição forte ao PT. Sugeri, inclusive, que contratassem uma empresa estrangeira para orientá-los. Escrevi tantas vezes, até que desisti.
ResponderExcluirmj
2018, continuar assim, teremos Caiado ou Bolsonaro, o pessoal encheu o saco com o Psdb mole do jeito que é !
ResponderExcluirÉ o melhor partido e melhor forma de Governo.
ResponderExcluirSe o PSDB está dividiodo em relação ao Impeachment é sinal de que ou são covardes ou não tem a cara de pau suficiente como teve o PT quando oposição.
ResponderExcluirO PSDB nunca foi oposição ao partido petralha, mas o PT sempre foi oposição ao PSDB, inclusive neste doze anos de governo continua chamando os tucanos para a briga, mas estes são entonados demais (a maioria) para reagirem. Socialdemocracia é só um nome bonito que inventaram para esquerdismo do final do século XX. A diferença dos sociais democratas para os comunistas/socialistas, é que os primeiros estudaram um pouco mais e concordam com a alternância no poder.
ResponderExcluirO principal problema do PSDB são o FHC, o Serra e o Alckmin, que são as vozes e mandam no partido.
Não li todo o artigo pois e muito chato mas nas entrelinhas fez como o BOLSONARO pediu desfiliação do PSDB ou não se não esta expondo as vísceras do mesmo sera punido ou como ele mesmo diz o PSDB é dúbio.
ResponderExcluirC candidato da direita será o Caiado, que não tem problemas psiquiátricos; o Bolsonaro, não tem a menor chance, enquanto não buscar tratamento numa clínica psiquiátrica ...
ResponderExcluirFHC TRAÍRA?CUMPANHEIRO DO FORO DE SÃO PAULO, AGORA SABEMOS
ResponderExcluirAGORA PELA SEGUNDA VEZ FHC SE MOSTRA, PARCEIROS DE TRATADOS DO FORO DE SÃO PAULO COM LULA E OS PETRALHAS.
AGORA SABEMOS COM CERTEZA.
-É...CHEGAMOS AQUI POR CAUSA DO FHC
NUM ASSALTO, UM PARCEIRO DO ASSALTANTE FAZ DE CONTA QUE VAI AJUDAR A PEGAR O LADRÃO,NA VERDADE APENAS VAI ATRAPALHAR.
QUALQUER COINCIDENCIA COM O COMPORTAMENTO DO FHC,AGORA SABEMOS NÃO,NÃO É MERA COINCIDÊNCIA,SABEMOS QUE É APENAS AJUDA PARA OS LADRÕES CONTINUAREM NO PODER ROUBANDO
VACILÃO,FHC SOCORREU E DEIXOU A COISA CORRER NO MENSALÃO.
UM SUJEITO ASSIM MAIS PARECE "QUINTA COLUNA",TRAÍRA" E COISAS DO GÊNERO.
O BRASIL FOI SAQUEADO,ROUBADO E ESTUPRADO PELOS PETRALHAS AJUDADOS PELO FHC, TRAÍRA POSANDO DE SÁBIO E SANTO...
É PIOR TER TRAÍRA NA TRINCHEIRA,POIS OS INIMIGOS,OS BANDIDOS JÁ IDENTIFICAMOS,JÁ TEMOS PROVAS, ALGUNS ESTÃO PRESOS.
INIMIGOS NA TRINCHEIRA POSANDO DE SANTOS É MAIS DIFICIL.
BARBARIDADE,BARBARIDADE, TODOMUNDO QUE PINTAVA SER OPOSIÇÃO AGORA VEMOS ERAM "CUMPANHEIROS" E PARCEIROS DE FALCATRUAS.
"O Brasil é um curioso Pais em que duas palavrinhas do proselitismo político – esquerda e direita - se tornam conceitos acadêmicos"
ResponderExcluirTai uma parte do texto que concordo e acho realmente um besteirol esquerda/direta. Isto não existe no Brasil. Faltou ao ilustre colunista dizer também que SOMOS TODOS MERCANTILISTAS!
Fernando Schuller, gaúcho, formado em História pela FAPA, já foi petista de carteirinha. Como não conseguia subir na estrutura do partido, já que começava a manifestar sua índole burguesa, bandeou-se para o PSDB, agarrado ao saco do Francisco Weffort. Agora cospe no segundo prato em que comeu.
ResponderExcluirProvavelmente já preparando seu desembarque em algum partido que despontar para 2018. Enquanto isso, faz pequenos favores para grandes empresas. Não sei se tem toda essa isenção para criticar o PSDB.
É uma moderação de quem tem o rabo muito bem preso, quem não tem
ResponderExcluirculpa no cartório é livre, o FHC
é oposição apenas para coisas sem importância, mais naquelas explosivas, importantes, age como
mero serviçal, como advogado de defesa dos petralhas.
Pesquisem na internet:
ResponderExcluirPACTO DE PRINCETON e descubram quem é FHC e o PSDB.
PT e PSDB farinhas do mesmo saco.
DEIXA SANGRAR, JÁ SABEMOS NO Q. VAI DAR. PROBLEMA DO PSDB, É DE -- AVE-- NÃO SÃO TUCANOS, SÃO PAVÕES, COM RABO MAOIR Q. O CÉREBRO.
ResponderExcluirSchueller é ex-petista. Trabalhou na Prefeitura, na Administração Tarso Genro como Coordenador do Livro e Literatura, na SMC.
ResponderExcluirDepois foi trabalhar com F. Weffort, no Ministério da Cultura, num governo FHC e filiou-se ao PSDB.
É tido como bom quadro teórico.
Faz bem o PSDB de manter Dilma Roussef e seu PT no poder enquanto o pior do ajuste fiscal é implantado. O desemprego urbano vai subir, os salários reais vão cair, não teremos investimentos privados nos próximos 2 anos, e a população vai aprender que "a nova matriz econômica" e o jeito bolivariano de administrar a economia é um fracasso. Se o PT já tivesse saído do poder o fracasso seria vendido como se fosse das políticas dos oposicionistas. O PSDB tem tempo para ganhar eleições, vai dar uma surra no PT em 2016 e em 2018.
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