No verão, Mário morava sozinho na cidade, pintava paredes, cometia versos e bebia; no inverno, morava na praia.
Na praia, pintava paredes, cometia versos, bebia e, à tardinha, fazia esculturas de areia à beira-mar.
– Doutor, o que atrasa o progresso é a tortura da parede – sentenciava com um olhar morno, sempre que precisava justificar um pedido de mais tinta ou uma mudança de data na entrega dos serviços. Quando havia alguma insinuação ou queixa envolvendo a hipótese da bebida, Mário zombava, abusando da frase de Frida Kahlo:
– Eu nunca pinto sonhos ou pesadelos. Pinto a minha realidade.
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