Texto extraído de "O Drible", romance de Sérgio Rodrigues. Editora Schwarcz S.A., 2013.
O lance não deve ter mais de dez segundos, mas com as interrupções de Murilo enche minutos inteiros enquanto ele narra sem pressa, play, pause, rew, play, o que na época foi narrado com assombro.
O que você vê primeiro é uma imagem parada que logo identifica como da Copa de 1970 pelo short da seleção brasileira, que é de um azul mais claro que o habitual, além de escandalosamente curto para os padrões de hoje. Tostão, cabeçudo inconfundível, número 9 às costas, conduz a bola observado a certa distância por um sujeito de camisa azul-claro e calção preto. Murilo solta a imagem por três segundos, Tostão conduz a bola e, quando volta a congelá-la, Pelé aponta no canto superior direito do quadro e você sente um tranco na barriga como se a velocidade do mundo desse de repente um arranque, alguém ligando um acelerador de partículas. O velho segue na sua narração caseira, aí então, diz, olha só, nós vemos aquilo que o Tostão também acaba de ver, Pelé se projetando da meia-direita feito um bicho, uma pantera com sangue de guepardo.CLIQUE AQUI para ler tudo.
Mas Pelé não se notabilizou pelo gol mais bonito que deveria ter feito e não deu conta de fazer, o de reconhecer como sua filha a senhora Sandra, moradora de Santos e que tinha na sua face a escrita da face de Pelé. Ele foi apenas um homem simples como qualquer um mortal o qual Deus, caprichosamente, dotou com incríveis características de aptidão para o futebol. Só isso.
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