Nesta reportagem de capa do jornal Zero Hora deste domingo, intitulada "Mercado de Ocupações", assinada por Cleidi Pereira, o leitor tomará conhecimento com uma realidade que quase ninguém de Porto Alegre percebe no dia a dia, mas que envolve 20,7% da população (289 mil pessoas) que vivem em áreas invadidas. Nos últimos três anos, um grupo composto por líderes comunitários profissionais, amparados por advogados que chegam a faturar R$ 100 mil por cada uma das 40 mais recentes ocupações e que contam com apoio do PT e do PSOL, foram tomadas enormes áreas urbanas. Até satélite e GPS são usados para mapear as operações, invasões e ocupações. O negócionão enriquece apenas advogados, mas também os líderes profissionais e um ativo mercado de compra e venda de habitações construídas em territórios invadidos, que usam até a internet para seus negócios.
Leia tudo. A arte ao lado, à esquerda, também é de Zero Hora.O editor recomenda também a compra do jornal, porque esta é apenas uma das 5 reportagens sobre o assunto.
Porto Alegre viu nascer pelo menos uma ocupação urbana a
cada 45 dias no último ano. Nestes terrenos incertos, há quem deposite
esperanças e economias de uma vida. São, na maioria dos casos, pessoas humildes
- algumas vivendo em situação de pobreza extrema - que se arriscam em áreas
insalubres e carentes de infraestrutura, movidas pelo sonho da casa própria. Um
sonho que pode virar pó a qualquer momento, bastando apenas a Justiça dar a
ordem para a reintegração de posse.
A explicação para o boom de invasões verificado
especialmente nos últimos três anos vai muito além do déficit habitacional,
calculado em 38,6 mil unidades na Capital. Percorrendo comunidades e
conversando com dezenas de líderes e moradores nas últimas semanas, ZH
constatou que este pode ser um negócio bastante lucrativo: o mercado das
ocupações tem potencial para movimentar milhões de reais com a venda ilegal de
lotes - feita inclusive através de anúncios na internet - e contratos com
escritórios de advocacia, que chegam a R$ 100 mil em uma única invasão. Cada
família chega a desembolsar R$ 200 por mês para bancar o serviço.
Por trás da bandeira da luta pela moradia, um grupo
composto por supostos líderes comunitários, amparado por advogados, capitaneia
a tomada de áreas públicas e privadas sob o argumento de que seriam
"vazios urbanos", o que, segundo eles, legitimaria as invasões.
Organizado, o grupo trabalha com fila de espera e faz a
divisão dos lotes com o auxílio de imagens de satélite. Fundadores do Fórum das
Ocupações Urbanas da Região Metropolitana são os principais responsáveis por
constituir novas invasões nos últimos anos, agindo inclusive por encomenda.
Eles atuam com o suporte da Defensa Assessoria, dos advogados Paulo René Soares
Silva e Rafael Menezes. O escritório, apesar de se apresentar como
"voltado para a prestação de assessoria empresarial", diz ter mais de
40 ocupações como clientes.
De acordo com um levantamento do Departamento Municipal
de Habitação (Demhab), 289 mil pessoas residiam em áreas invadidas em 2009, o
equivalente a 20,7% da população de Porto Alegre. Na época, existiam 486
ocupações irregulares na Capital - algumas delas com décadas de existência. O
órgão não dispõe de dados atualizados, mas ZH apurou que, nos últimos três
anos, surgiram pelo menos 17 novas ocupações - dessas, os líderes atuaram em 10
-, onde moram quase 4 mil famílias.
É o caso de Gian Cunha, 24 anos. Pai de seis filhos e
vivendo de bicos, ele e a mulher, Patrícia, 30 anos, vinham enfrentando
dificuldades para pagar os R$ 500 de aluguel. Quando soube que famílias estavam
construindo casas em um terreno baldio no seu bairro, também resolveu arriscar.
Financiou por R$ 9 mil uma casa pré-fabricada. O sonho durou pouco. Depois de
seis meses na invasão batizada de Cruzeirinho, veio a reintegração de posse.
Pouco sobrou da residência de dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Sem ter
para onde ir, a família encontrou abrigo na ocupação Três Pinheiros, em
Alvorada. Lá, com a ajuda de vizinhos, Cunha ergueu um casebre de duas peças
com materiais doados e algumas poucas tábuas que restaram da casa que já não
existe, mas que terá de pagar pelos próximos quatro anos.
Em julho de 2014, o grupo que viria fundar o Fórum das
Ocupações Urbanas da Região Metropolitana - uma entidade que formalmente não
existe - foi procurado para invadir uma área em Capão Novo, praia de Capão da
Canoa. Um dos líderes, o aposentado Silvonei Almeida, conhecido como Gateado,
conta que foi acionado por uma mulher chamada Rose, que comandava uma ocupação
nas proximidades, com cerca de 400 famílias:
— Essa menina
estava desesperada, porque ela tinha outra área para ocupar, mas não tinha
gente - conta.
Gateado pediu ajuda de líderes de três áreas ocupadas em
Porto Alegre: Leandro Otenir Ribeiro Ribas, o Careca, e Maria Helena Alves, a
Índia, ambos da São Luiz; Arduíno Balduíno, da 21 de Abril (hoje Treze de
Abril); e Neusa Souza Mattos, da Dois Irmãos. Conseguiram encher um ônibus, que
seguiria para o Litoral assim que o terreno fosse invadido.
Advogado dessas três ocupações, Paulo René Soares Silva
acompanhou de perto a tentativa em Capão Novo, a qual acabou sendo contida pela
Brigada Militar, que soube dos planos com antecedência. Fontes que acompanharam
a operação relatam que, munido de documentos, o advogado tentava convencer os
policiais de que a área que queriam invadir faria parte da mesma matrícula do
local já ocupado por famílias, do outro lado da rua. René confirma a
informação. Logo após esse episódio, René e lideranças, orientados por um
assessor do PT, decidiram criar o Fórum.
— Conversando com o Avelange (Antônio Avelange Bueno,
assessor da bancada do PT), pela expertise de articulação e de movimento,
resolvemos criar uma identidade para essas ocupações transitarem. Era uma luta
em comum — disse René durante reunião do Fórum acompanhada por ZH em abril.
Avelange conta que sugeriu a criação de um
"mecanismo de contato, um espaço de discussão", pois as ocupações
estavam desorganizadas. Ele afirma que participa do Fórum como militante da causa
e nega que a entidade promova a invasão de áreas. Segundo Avelange, "quem
faz as ocupações são lideranças que eventualmente estão no Fórum".
O caso de Capão Novo não foi a única tentativa frustrada
e de invasão por encomenda. Em fevereiro, Lucineia Alves, outra líder, foi
detida enquanto ajudava a desmatar um terreno que o grupo havia invadido a
pedido de uma igreja de Alvorada. Segundo Gateado, um pastor "entrou em
contato com o Fórum" porque queria fundar uma comunidade com 48 famílias de
fieis. Os planos não deram certo, mas o projeto não chegou ao fim.
— Agora, (o
pastor) achou uma área, me ligou para pesquisar. Vou ajudar - diz Gateado.
Perdão, Políbio, mas não vou comprar o jornal, não. Se estão (o grupo RBS)interessados no assunto, deve ser porque tiveram algum dos seus imóveis invadidos.
ResponderExcluirTriste da cidade que 1/4 da população se sujeita viver dessa forma, como massa de manobra nas mãos de safado.
ResponderExcluirÉ sim uma realidade que o povo de Porto Alegre sente, mas indiretamente: nos assaltos, nos furtos, nos sequestros, latrocínios...
Isso é o PT e o PSOL agindo para favelizar o país. Esses partidos são um cancro, uma desgraça. Me nego chamar esses bandidos de "adversários" eleitorais, são inimigos mesmo, devem ser destruídos de qualquer forma.
Nossa heim e depois chamam aí de Sul Maravilha.Assim, fica difícil na hora de avaliação de novos empreendimentos empresariais optarem por essa cidade.Quem perde o próprio povo. Enquanto alguns tentam agir corretamente outros vão pelo lado mais fácil, a pergunta que falta na matéria cadê a OAB.
ResponderExcluirse a Zero Hora denunciou, é porque a famiglia Sirotsky nao conseguiu entrar no esquema
ResponderExcluirSe não houver reação contraria eles vão tomando conta , depois fica tarde ......
ResponderExcluirPrezado Jornalista, isso vem ao encontro de uma conversa que tive com um pedreiro de alvorada que "votou na Stella do PT" porque essa prometeu que regularizaria todas as propriedades. Segundo ele, tudo foi regularizado e nem precisou pagar financiamento.
ResponderExcluirPegam as pessoas do interior, destas áreas, cobram taxas e votos e servem como uma administração paralela, com caixa paralelo, sem qualquer receio de serem pegos, porque o povo os idolatra. Tá na hora de colocar às claras essa situação.
O caso mais recente é agora em São Leopoldo, onde uma invasão do dia para a noite "foi regularizada" com demarcação de terrrenos, etc. e tal, ao lado de um grande condomínio minha casa minha vida, lugar onde seria um shopping. A investigar.
Por que a reportagem não foi PRODUZIDA no governo anterior?
ResponderExcluirPorto Alegre deixou de ser Sul Maravilha há 30 anos, quando o PTrevas ou PTrambique conquistou a prefeitura pela primeira vez. A cidade nunca mais se recuperou do estrago.
ResponderExcluirEsta indústria da invasão já existe há décadas em POA , apenas que agora na última dezena de anos se transformou em uma legítima indústria. No bairro Três Figueiras transformaram uma invasão destas em um assentamento quilombola, um autêntico estelionato contra dezenas de proprietários que pagaram impostos por dezenas de anos e uma invasão patrocinada por petistas e com apoio do senador Paim e fizeram um absurdo legal com a conivência e participação do judiciário e advogados, provavelmente de setores aparelhados por petistas, esta "nobre" classe de "querubins e serafins" ideológicos!
ResponderExcluirO QUE ACONTECEU? NÃO consultaram Rosane de Oliveira? OU tiveram algum terreno próprio invadido?
ResponderExcluirPago impostos em dia. E as ocupações fazem gato de luz e água. Quem fiscaliza???????
ResponderExcluirNeste país nada funciona, até juízes são enganados (?), gastaram milhões nas tais tornozeleiras eletronicas, e não "sabiam" que papel alumínio por cima, não deixa gps rastrear. stf libera corruptos com estas tornozeleiras.
ResponderExcluirTão rindo de todos nós.
Vejam o que acontece no Litoral, especialmente em Capão Novo. Vão matar a galinha dos ovos de ouro, quem vai investir em nossas belas praias para ainda ser ameaçado por invasores?
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