CLIQUE AQUI para ler o texto completo e também examinar o video com toda a reportagem do Fantástico, com ênfase para a entrevista de Glória Maria.
O Fantástico
mostrou ontem a noite, com exclusividade, por mais de 20 minutos, tempo que a Globo dificilmente usa para um só assunto, a entrevista com a principal personagem das novas
denúncias de corrupção que envolvem a Petrobras. A ex-gerente Venina Velosa da Fonseca diz que muitos
funcionários da empresa têm conhecimento das irregularidades. E convocou todos
eles a também denunciarem. Eis trechos selecionados pelo editor. Acima, no link, o material completo.
Glória Maria - Que tipo de irregularidades a senhora
constatou ou verificou nos contratos da Petrobras?
Venina Velosa - São vários tipos. Irregularidades de
pagamento de serviços não prestados, de contratos que aparentemente estavam
superfaturados. De negociações que eram feitas onde eram solicitadas comissões
para aquelas pessoas que estavam negociando e uma série de problemas que feriam
o código de ética e os procedimentos da empresa.
Glória Maria - A senhora informou a que funcionários, a
que pessoas da Petrobras sobre essas irregularidades?
Venina Velosa - A todos os meus superiores. Informei ao
gerente executivo, aos diretores e até a presidente da empresa.
Os nomes de quem
sabia de tudo, inclusive Lula.
Glória Maria - A senhora poderia dar nomes?
Venina Velosa – Com certeza. Num primeiro momento, em
2008, como gerente executiva, eu informei ao então diretor Paulo Roberto Costa.
Informei a outros diretores, como a Graça Foster. E, em outro momento, como
gerente geral, eu informei aos meus gerentes executivos, José Raimundo Brandão
Pereira e o Abílio, que era meu atual gerente executivo. Informei ao diretor
Cosenza. Tanto quanto diretor, como ele era meu par, como gerente executivo.
Informei ao presidente Gabrielli. Informei a todas a pessoas que eu achava que
podiam fazer alguma coisa para combater aquele processo que estava se
instalando dentro da empresa.
Entre os documentos a que Venina se refere, ela mostrou
ao Fantástico um e-mail que enviou a Graça Foster em outubro de 2011: “Eu
gostaria de estar aí, conversando com você, olhando direto nos seus olhos para
você sentir o que eu quero dizer, mesmo correndo o risco de chorar na sua
frente. Vou escrever mesmo sabendo que existe a possibilidade de você ir na
sala do diretor Paulo Roberto e de ele depois me questionar o que fui fazer na
sua sala. Vou falar em nome da mulher que exige respeito, e que vai lutar até o
fim, para que um dia suas filhas jamais digam: ela se cansou, ela desistiu no
meio do caminho”. No e-mail, Venina pergunta: você faria diferente? E
segue: hoje, eu posso dizer que estou
praticamente sozinha na empresa.
Dividir
para corromper
Glória Maria - O que é esquartejamento de projetos?
Venina Velosa - Você tem uma refinaria, são várias
unidades que são construídas. Então você tem várias formas de você fazer a
contratação. A depender da forma que você faz a contratação, você facilita ou
dificulta a fiscalização. Em nenhum momento, se não houve a compreensão do que
eu estava falando, fui chamada a dar esclarecimento a respeito do assunto.
Então teve esse momento e teve agora, no fim da minha gestão em Cingapura, onde
eu fiz um relatório de tudo que aconteceu na minha área de gestão. Os
resultados positivos. Os resultados que poderiam ser melhores.
Glória Maria - A senhora relatou também um encontro com o
atual delator de toda essa história de corrupção da Petrobras, Paulo Roberto,
no qual a senhora apresentou várias denúncias de várias irregularidades e que
ele teria tido a reação de dizer ‘você quer derrubar o governo’ e teria
apontado para uma foto do presidente Lula. O que a senhora quis dizer com isso?
O que aconteceu exatamente?
Venina Velosa - Esse evento aconteceu quando eu fui
apresentar o problema que ocorreu na área de comunicação. Eu cheguei na sala
dele e falei: olha, aqui tem só uma amostra do que está acontecendo na área.
Eram vários contratos de pequenos serviços onde nós não tínhamos conhecimento
do tipo de serviço, do que estava sendo prestado, mas mostrava esquartejamento
do contrato. Aí, naquele momento, eu falei: eu nunca soube nada disso, estou
sabendo disso agora e acho que é muito sério e temos que tomar atitude. Aí ele
pediu que eu procurasse o gerente responsável e pedisse para que ele parasse.
Aí eu falei: ele já fez, não tem como eu chegar agora e falar: vamos esquecer o
que aconteceu e vamos trabalhar diferente daqui para frente. Existe um fato
concreto que tinha que ser apurado e investigado. Aí, nesse momento, ele ficou
muito irritado comigo. A gente estava sentado na mesa da sala dele, ele apontou
para o retrato do presidente Lula, apontou para a direção da sala do Gabrielli
e perguntou: você quer derrubar todo mundo? Aí eu fiquei assustada e disse:
olha, eu tenho duas filhas, eu tenho que colocar a cabeça na cama e dormir. No
outro dia, eu tenho que olhar nos olhos delas e não sentir vergonha.
Ameaças até com
arma na mão
Glória Maria - A senhora diz que vem recebendo várias
ameaças, inclusive com arma apontada para sua cabeça, que as suas filhas vêm
sendo ameaçadas. O que está acontecendo?
Venina Velosa - Depois que eu apurei essa questão da área
de comunicação, durante esse processo todo da área de comunicação, a gente
recebeu várias ameaças por telefone. As minhas filhas deveriam ter 5 e 7 anos.
Eram bem novas. Teve outros momentos mais difíceis. A opção que eles fizeram em
2009 foi realimente me mandar para o lugar mais longe possível, isso está entre
aspas, onde eu tivesse o menor contato possível com a empresa. Aparentemente eu
estaria ganhando um prêmio indo para Cingapura, mas o que aconteceu foi que
realmente quando eu cheguei lá me foi dito que eu não poderia trabalhar, que eu
não poderia ter contato com o negócio, era para eu procurar um curso.
Glória Maria - Você tem uma família. Ou tinha. Foi para
Cingapura com filhos e marido? Depois disso tudo que aconteceu, como está a sua
vida agora?
Venina Velosa - Eu tinha uma família, sim. Um
apartamento, marido, duas filhas. A minha mãe, minha família. Simplesmente o
que eles fizeram foi me afastar do meu país, das empresas que eu tanto gostava,
dos meus colegas de trabalho.