Ao lado, o tenente-coronel Riccardi Guimarães. Ele denuncia o descaso e inaptidão do governo.
- O incêndio na boate Kiss, Santa Maria, já tinha demonstrado que o Corpo de Bombeiros do RS não possui pessoal e nem equipamentos em quantidade e qualidade suficientes para enfrentar ocorrências de grandes proporções. O caso repetiu-se neste sábado em Porto Alegre, apenas que desta vez sem vítimas, porque o incêndio ocorreu no sábado a noite. A frouxa legislação atual em execução e os demais órgãos públicos encarregados de fiscalizar as atividades dos empreendedores, ajudam a potencializar os danos. A Capital possui uma regulamentação específica de prevenção e combate a incêndios (Lei Complementar nº 420/98) e há outra estadual (Lei Complementar nº 10.987/97) em revisão na Assembleia Legislativa, tornando as regras mais rígidas. Posteriormente à revisão da Lei estadual, a municipal deverá ser também revisada, dirimindo quaisquer omissões existentes. O relatório efetuado pela Comissão Especial de Revisão e Atualização de Leis Contra Incêndio, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, aprovado no último dia 10 pela Comissão, recomendou o reaparelhamento do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar. Neste sábado a noite, o prefeito José Fortunati esteve no local do incêndio. Ali não esteve o governador Tarso Genro, que no momento estava em Portugal preparando-se para uma tertúlia cultural sem a menor importância para o RS.
A cidade de Porto Alegre está despreparada para ações de combate a incêndios e conta com menos de quatro bombeiros atuando simultaneamente para esse fim em cada região. É o que denunciou ao editor neste domingo de manhã o presidente da Associação dos Oficiais da Brigada Militar (ASOFBM), Tenente-Coronel RR José Carlos Riccardi Guimarães logo depois do incêndio do mercado público.
A capital possui 340 bombeiros. Destes, em torno de 130 são soldados que estão na linha de frente, ou seja, atuam diretamente no combate a incêndios e outros sinistros. Esses profissionais atuam em 4 turnos de 6 horas de trabalho no dia e estão distribuídos em dez quartéis de Porto Alegre, levando a uma média de menos de quatro profissionais por unidade a cada hora de serviço. Cada quartel atende uma região específica da cidade. Mesmo que uma unidade receba auxílio de outras, haverá o problema do tempo de deslocamento.
A International Organization for Standardization (ISO) estima que uma unidade de bombeiro deva atender uma área de 8 km2 para que possa chegar com rapidez, em torno de 5 minutos após o chamado.
Há a previsão de ingresso de mais 2 mil policiais militares até 2014, segundo informações do governo do Estado do Rio Grande do Sul. Porém, não há dados ainda de quantas dessas vagas serão para formação de bombeiros, quantos atuarão na Capital e quais tipos de atividades assumirão. A National Fire Protection Association (NFPA), no último estudo de 2011, avaliou, como número médio aceitável para cidades com mais de 1 milhão de habitantes, a proporção aproximada de 1 bombeiro na linha de frente para cada grupo de mil pessoas. Com base nessa estimativa, Porto Alegre deveria ter 1.500 bombeiros atuando no combate a incêndios.
. A cidade também não possui uma equipe especializada, no Corpo de Bombeiros, em atendimento de acidentes com produtos perigosos – agentes químicos, biológicos, radiológicos e nucleares. “A unidade foi desativada há dez anos”, conta TCel Riccardi.
. Embora possua dez quartéis de bombeiros, a capital gaúcha possui uma única autoescada mecânica (conhecida como “Magirus). “Não há condições de atender a eventualidade de ocorrer dois incêndios em edifícios altos”, pontua TCel Riccardi.
. Além disso, Porto Alegre, uma cidade portuária, também não possui embarcações de combate a incêndio e salvamento. Já existiram duas, uma dos anos 20 e outra de 30. Hoje, já desmontadas.
. Do mesmo modo, a cidade é desprovida de helicópteros de combate a incêndios no Corpo de Bombeiros. “Embora a Brigada Militar tenha recebido do Ministério da Justiça um helicóptero com tecnologia de ponta para reforçar a segurança durante a Copa do Mundo, esse dispositivo não está equipado para o combate a incêndios. Um dispositivo dessa natureza necessita ter a capacidade de despejar água sobre os incêndios através de tanques fixados na fuselagem, que podem ser reabastecidos”, comenta o especialista.