Entre janeiro e março, 247 companhias entraram com pedidos de recuperação judicial, o maior número desde que a nova Lei de Falências entrou em vigor
Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O número de pedidos de recuperação judicial
disparou no primeiro trimestre e levanta dúvidas sobre a velocidade de retomada
da economia brasileira em 2013. Segundo dados compilados pela Serasa Experian,
foram 247 pedidos entre janeiro e março, quantidade recorde desde que a nova
Lei de Falências entrou em vigor no País, em meados de 2005.
"É um momento pior que o de 2009, quando as empresas
brasileiras sofreram os efeitos da crise internacional", disse o advogado
Fernando De Luizi, sócio de um dos maiores escritórios do Brasil nessa área.
"Nós entramos com 27 pedidos até hoje (ontem), mais que o dobro se
compararmos com o mesmo período do ano passado."
A recuperação é um expediente ao qual uma empresa recorre
quando sua situação financeira chegou a um limite crítico. Caso seja deferida
pela Justiça, significa, entre outras coisas, que a companhia em questão tem
suspensas suas obrigações vencidas ou a vencer até a aprovação de um plano de
recuperação por parte de seus credores.
De Luizi e outros especialistas que acompanham o drama
dessas empresas explicam quais as principais razões por trás dos pedidos: baixa
demanda no mercado interno; dificuldade para tomar crédito nos bancos; fraqueza
dos clientes internacionais, no caso de exportadores; e inflação alta, que
aumenta os custos.
"Percebemos que os problemas enfrentados pelas
empresas brasileiras no ano passado persistem, na contramão das
expectativas", afirmou Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa
Experian.
Ele faz a ressalva de que, em 2012, o principal fator que
afetou a saúde financeira das empresas foi a alta da inadimplência. Neste ano,
observa, esse item pesa menos, pois os indicadores vêm apontando melhora nos
calotes (como ontem mesmo mostraram dados divulgados pelo Banco Central).
No entanto, um banqueiro consultado pelo Estado
relativiza essa melhora. "Na realidade, a inadimplência só vem caindo, e,
mesmo assim, lentamente, porque os bancos estão sendo muito mais cautelosos na
concessão de empréstimos", disse, confirmando, portanto, a maior
seletividade das instituições financeiras.
Segundo esse profissional, que dirige um dos maiores
bancos do País, o cenário para as pequenas e médias empresas, em especial, é
preocupante. "É triste, mas estamos assistindo a um filme muito parecido
ao de 2012", afirmou. "Estou certo de que vamos crescer mais do que o
0,9% do ano passado, mas não acredito que a alta do PIB chegue a 3%. Está mais
para 2,5%."
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