Artigo, Roberval Mostardeiro de Paula - Entenda as razões do espírito solidário e eficaz do povo de Santa Maria

Sou santa-mariense de coração,  pois fui morar lá em 1959 e fiquei até 1979,  quando me formei. Em 1983,  vim para Porto Alegre.

As manifestações de espanto  manifestada por outros povos, ao perceberem  a reação proativa da população de Santa Maria, são dignas de registro.  Vi uma repórter surpreender-se  com a forma com que tudo foi arranjado rapidamente parecendo que havia treinamento. Não. Nunca houve treinamento.

Aquela moça que disse que tinha fazer alguma coisa e foi para o ginásio coberto recolher o lixo os copinhos de plástico do chão, espelha bem nosso sentimento de solidariedade. Quem se surpreende somos nós, pela surpresa que nosso comportamento causa. A gente não entende como poderia ser diferente. Isso é assim por lá. Sempre foi assim. Um santa-mariense SEMPRE acha um jeito de ajudar em algo. Reparou que muitos que por lá passaram algum tempo, agora, diante da tragédia, foram para lá fazer "alguma coisa"... ver onde poderiam ajudar ? Acredite:  essa mobilização é muito rápida e não precisou dos celulares ou redes sociais. Por telefone fixo,  a coisa também funciona. A vizinha chama a vizinha para fazer alguma coisa, combinam-se e simplesmente vão.

Isso, a meu modesto ver, é explicável. Acompanhe.

Tudo começou por volta de 1960 quando fundaram a UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), tida então como a primeira Universidade fora das capitais. Isso transformou-a em "meca" dos estudantes do interior do Estado, porque os estudantes não precisavam mais vir para a "capital". Com isso, a cidade virou um "centro de solitários" que deixavam seu lar, muitas vezes no meio rural, para virem "estudar na faculdade" como diziam os orgulhosos pais de então. Não é dificil  concluir que isso criou uma cadeia de pessoas que se viram sozinhas e longe da família, criando um sentimento "materno-paternal" nas pessoas da cidade - os santa-marirenses. E isso tomou conta do "forasteiros" de então.  Ao cabo de alguns anos, essa cultura penetrou na sociedade como um todo,  incluindo-se os próprios "forasteiros" - os estudantes. Hoje, entre universidades e centros universitários, são oito instituições. Apenas na Ufsm, são 28 mil universitários.

Outro fato: lá está  o segundo contingente mais numeroso do Exército brasileiro. O  primeiro está no RJ. São muitas unidades militares. Militares, como se sabe, são treinados para trabalhar em conjunto. Sempre existe a preocupação da "ação conjunta". Da rapidez no agir diante de um imprevisto. Isso, acaba sendo transmitido pelo pai - e de alguns anos para cá, pela mãe, também - reforçando a cadeia solidária iniciada pelos estudantes.

Isso tudo combinado, deu nessa fantástica cadeia de solidariedade. 

2 comentários:

  1. O povo de SM deu inúmeras demonstrações de bravura, solidariedade e humanidade.

    No entanto, não passou despercebido o despreparo e ignorância das autoridades publicas, municipais e estaduais, que tem se pronunciado em rede nacional. E principalmente se tratando de cidade tida como culta... O ponto fora da curva e' o secretario de comunicacao Manica que tem tido uma postura impecável. O resto uns botocudos, que não estão a altura do povo que devem zelar.

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  2. Creio que Santa Maria deixou mais exposto o "lado" brasileiro de ser, o de sermos solidários. Parabéns a todos!

    Fábio A. F. de Campos Velho
    www.pensarnacama,blogspot.com

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