Entrevista - Serra ampliará as conquistas da sociedade industrial, repartindo resultados.

Roque Callage, Doutor em Ciências Sociais (Antropologia, Ciência Política e Sociologia).

Pela primeira vez nós temos um Presidente que se empenha de modo vigoroso na campanha do seu candidato. É isto que causa tanta estranheza na oposição e tanta euforia na situação ?Na Republica de 46, Vargas sinalizou amplamente que apoiava Dutra - que era um poste - e ele se elegeu por isto. O que ocorre agora é afronta às leis do País. A estranheza da oposição, decorre de sua incompreensão básica de como apontar esta ilegalidade para compreensão da população iletrada ou sub-letrada.

Até que ponto é bom ou ruim para a democracia, que presidentes do mesmo Partido prossigam dominando o governo por vários períodos ?
Não há mal nenhum quando governos parlamentaristas ficam vários anos até terem votos de desconfiança, até mesmo quando Roosevelt teve confiança da população por quatro mandatos.Mas isto é muito diferente, porque aí há vigilância constitucional.

O peso político de um presidente altamente popular, como é o caso de Lula, pode mesmo ser decisivo na eleição. Há limite de transferência ?
"O fato é que a oposição até agora não passou do percentual entre 35-37% semelhantes à ultima eleição (decididos a votar ) e Dilma anda em volta disto ( que decidiram votar nela). O resto é especulação."

Dá para dizer que Dilma e Serra são fiéis à sua origem e implementarão programas de esquerda no governo ?
Serra, sem dúvida avançou bem mais na compreensão de mundo a partir dos seus valores iniciais. Isto significaria uma esquerda pós-industrial,ambiental e laboratorial, ampliando conquistas da sociedade industrial, repartindo resultados.Dilma representa setores tradicionais corporativistas do antigo sindicalismo industrial e do antigo desenvolvimentismo de 1930, resistentes a enxergar o mundo pós-1990.

Os trabalhadores e os empresários devem temer algum deles e por que razão ?
Os trabalhadores de conhecimentos técnicos de segundo grau completo, os de conhecimento universitário e os empresários industriais poli-especializados, interessados em ampliar especializações e dividir resultados da produção, devem ver com preocupação uma eventual vitória de Dilma. Seria uma rota programática errada tanto para o que se chama de novo desenvolvimentismo pós-keynesiano, como para a revolução de capital humano que está transcendendo os limites tradicionais de luta de classes.







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