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O Estado de S. Paulo, página A3
Sábado, 11 de julho
O convescote em L'Aquila
Uma reunião de líderes das maiores economias do mundo poderia ser uma boa homenagem ao povo de L'Aquila, assolado este ano por uma série de terremotos. Se essa era a intenção do governo italiano ao escolher a cidade para os eventos desta semana, o plano fracassou. Os encontros de governantes do Grupo dos 8 (G-8), do Grupo dos 5 (G-5) e outros especialmente convidados não foram mais que um ameno convescote, sem compromissos firmes para a solução de qualquer dos graves problemas atuais. Sobre a recessão, os chefes de governo do mundo rico limitaram-se a repetir o diagnóstico e as conclusões de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).Há sinais de melhora na economia mundial, segundo os líderes, mas a crise não terminou, a recuperação será lenta e é preciso manter os estímulos. Só a chanceler alemã, Angela Merkel, insistiu na adoção de uma estratégia, desde já, para compensar o endividamento e as pressões inflacionárias causados pelas medidas adotadas até agora. A ideia foi aceita genericamente, mas sem acordo sobre como executá-la. Todos esses temas haviam aparecido na imprensa, no segundo trimestre, e foram reapresentados com mais detalhe e mais clareza pelo FMI, nesta semana, juntamente com os números atualizados de seu Panorama Econômico Mundial. Como de costume, foram reiteradas as promessas de respeito ao livre comércio e, como sempre, não há nenhuma razão para se acreditar nessa conversa. Decidiu-se retomar em breve a Rodada Doha de negociações comerciais, para concluí-la até o próximo ano, mas isso já havia sido combinado antes, sem nenhum resultado. Enquanto isso, resta a perspectiva de uma redução de 12,2% no volume do comércio global de bens e serviços, seguida de uma expansão de 1% em 2010, segundo o FMI. A nova projeção para 2009 é 1,2 ponto inferior à divulgada em abril.A proteção ambiental foi incluída na pauta como um dos grandes assuntos. Foram mobilizados para a discussão chefes de governo dos 17 maiores emissores de gases estufa. Uma das figuras mais importantes do encontro, o presidente chinês, Hu Jintao, teve de ir embora antes da primeira reunião do G-8 por causa dos conflitos entre duas etnias em seu país. Não perdeu nada nem deixou de contribuir com qualquer ideia importante. A reunião produziu uma vaga promessa de se conter o aquecimento global no limite de 2 graus acima do nível da era pré-industrial. Não foram fixadas metas intermediárias. O presidente americano, Barack Obama, disse ao colega brasileiro ter pouca margem para compromissos a respeito de metas ambientais para o período entre 2013 e 2020, a segunda etapa do Protocolo de Kyoto. A posição de seu governo, explicou, dependerá de como o Congresso tratar o projeto de lei sobre desenvolvimento limpo. Metas muito severas estimulariam a mudança de indústrias para a China, disse Obama, segundo informação do assessor de Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia. Os europeus, no entanto, continuarão a cobrar metas ambiciosas e a pressionar os emergentes, incluído o Brasil, para adotar padrões ambientais mais estritos, indicou o presidente da Comissão Europeia, José Durão Barroso. Na prática, isso poderá resultar em mais protecionismo - efeito especialmente perigoso enquanto não se conclui a revisão geral das normas de comércio. Apesar de sua pobreza de resultados, o encontro não serviu para a confirmação da morte do G-8, anunciada pelo governo brasileiro, nem para consagrar o G-20 como o novo diretório da economia e das finanças mundiais. O grande arauto da nova ordem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não fez nada mais notável que distribuir camisas da seleção brasileira aos companheiros do G-5. O resultado estético foi uma foto de cinco chefes de governo exibindo aquelas peças amarelas e imitando um varal de roupas. De resto, o presidente brasileiro comportou-se com surpreendente discrição, mantendo-se longe da imprensa durante a maior parte do tempo. Seus assessores adotaram a mesma atitude. Foi mais fácil, segundo enviados especiais, obter informações das outras delegações que da brasileira, apesar das bravatas do presidente Lula antes do convescote.
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