A curta história do dia em que o dr. Glênio acabou à bala com a reunião dos vereadores de Quaraí

- Não me mate dr. Glênio.

. Foi uma das poucas frases que o advogado Glênio Lemos conseguiu guardar na memória, logo depois que dissolveu à bala a reunião da Câmara, salvando o mandato do prefeito Carlos Alberto Vieira. Glênio não matou ninguém, mas atirou para valer. Ao apelo do vereador que pediu para não ser morto, ele respondeu, arma em punho:

- Então te abaixa !

. O vereador obedeceu a ordem, jogou-se no chão e o advogado atirou na sombra impressa que ficou contra a parede.

. Advogado do então prefeito de Quarai, RS, Carlos Alberto Vieira, o advogado Glênio Lemos resolveu interromper à bala a reunião da Câmara de Vereadores que se reuniu em janeiro de 1988 para cassar o mandato do seu cliente e amigo, também seu companheiro de luta estudantil (Vieira foi presidente do DCE da Ufrgs, poucos anos antes, quando comandou uma dura resistência à uma tentativa de invasão militar à Casa do Estudante, em Porto Alegre).

. Logo depois da reunião, preso e solto pela Brigada Militar, Glênio Lemos voltou para Livramento, a sua cidade, onde desfilou em carro aberto. O editor desta página estava ao lado do advogado, sobre a camioneta. Poucos meses depois, ele foi eleito prefeito. Mais tarde, voltou ao cargo. Numa terceira tentativa, resultou derrotado. Ele também foi deputado e vereador.

. Glênio Lemos morreu neste domingo, aos 66 anos. Viveu como quis viver.

- Nós nos conhecemos em 1969, quando resolvi me exilar no Uruguai e fiz uma parada em Livramento. Ali, conheci outros estudantes, como os jornalistas Osmar Trindade, na casa de quem me escondi (Osmar morava em Rivera, cidade gêmea de Livramento, mas do lado uruguaio), Elmar Bones, Danilo Ucha, Kenny Braga e o próprio Glênio Lemos. Todos tiveram passagens pelo jornal A Platéia, inclusive Glênio, que por algum tempo arrendou o diário. Na época, todos militávamos contra a ditadura militar. Somente Glênio não veio para Porto Alegre. Mais tarde foi tentar a vida em São Paulo, advogou para multinacionais, poderia ter ficado rico, mas decidiu voltar a Livramento para viver como queria viver: intensa e perigosamente.

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