No artigo a seguir, publicado no jornal Zero Hora deste domingo, o empresário gaúcho Jorge Gerdau fala sobre o conceito de "tolerância zero", cujo exemplo mais emblemático é a experiência levada a efeito em Nova Iorque para combater a criminalidade.
. No Brasil, o caso mais recente é o da lei seca, enquanto que no RS a manifestação mais em discussão é a que tomou boa parte do Ministério Público Estadual, uma grande parte de juízes e todo o comando da Brigada Militar, que decidiu acabar com as ilegalidades praticadas por grupos políticos criminosos, sobretudo o MST.
. Não é apenas em casos emblemáticos como estes que o conceito se aplica, mas o desejável é que a tolerância zero atinja os mais altos níveis de decisões políticas, partindo dos escalões superiores do governo federal e descendo para os governos estaduais e municipais, passando pelos legislativos e pelo judiciário. Os escândalos diários são um péssimo exemplo para uma sociedade que por si mesmo já chegou a altos níveis de permissividade.
. Jorge Gerdau, à frente dos seus negócios e também do PGQP, sabe bem sobre o que fala, porque a tolerância zero foi aplicada com rigor em todos os níveis de decisão, buscando o máximo de eficiência e resultado.
LEIA:
Artigo: Tolerância Zero, por Jorge Gerdau Johannpeter*
Por que somos tão tolerantes? Porque a complacência faz parte da nossa cultura. Isso vale tanto para as pequenas ações do dia-a-dia quanto para os grandes problemas públicos. Aceitar que alguém desrespeite uma lei ou um direito de outra pessoa é compactuar com o erro e também tornar-se responsável por ele. Coletivamente, esse comportamento restringe o nosso futuro, pois limita a capacidade de gerar desenvolvimento, reduz a credibilidade de nossas instituições, aumenta a incerteza quanto ao cumprimento de contratos e inviabiliza a criação de capital social.Mas, finalmente, começa a ganhar espaço no país o princípio da tolerância zero, buscando punir com mais rigor aqueles que descumprem as leis. Forjada pelo prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, durante a sua cruzada contra a criminalidade, a expressão passou a ser utilizada no Brasil em razão da nova legislação de trânsito, que proíbe o motorista de dirigir após a ingestão de bebidas alcoólicas.No Brasil, precisamos incorporar o princípio da tolerância zero ao nosso diálogo para, aos poucos, integrá-lo às atitudes da sociedade como um todo. Caso contrário, o que é fora da normalidade passa a se tornar banal, socialmente aceito, e o pior: muitos passam a praticá-lo. Quando toleramos que alguém jogue lixo na rua, por exemplo, significa que, no fundo, concordamos com o direito de jogarmos lixo em qualquer lugar. Trata-se de uma atitude de total desrespeito e que gera um custo para o Estado, o qual precisa direcionar recursos de outras áreas prioritárias para a limpeza urbana.Essa nossa complacência histórica resultou em uma falta recorrente de integridade comportamental, que se estendeu para a esfera política. Escândalos nacionais - como o do mensalão, das sanguessugas e do Detran - , somados ao descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, são sintomas de um profundo desrespeito com o patrimônio público, visando ao benefício de poucos e causando o prejuízo de muitos.O Rio Grande do Sul, que vivenciou o mais recente escândalo de corrupção no país, deve ser o primeiro a implantar medidas que evitem a ocorrência de novas situações no futuro. Um bom exemplo vem dos mercados de capitais, nos quais a transparência é essencial. Nos Estados Unidos, após escândalos contábeis de grandes corporações, foi criada a lei Sarbanes-Oxley, que regula as práticas das empresas de capital aberto e, hoje, serve como modelo mundial, evitando novos casos de fraude. Com a Sarbanes-Oxley, passou-se a exigir a co-responsabilidade de todos os executivos das empresas, exigindo que eles afirmem formalmente que não há qualquer tipo de desvio em sua área.Para as empresas, essa lei significou a adoção de uma nova cultura, justamente o que precisamos desenvolver em nossa sociedade. E, hoje, adotar uma postura de tolerância zero contra a corrupção e a falta de cidadania é o único caminho pelo qual poderemos retomar nossos valores. Sem eles, uma sociedade não se sustenta.Por que a experiência de erros e acertos do setor privado não é estendida para o Estado? Precisamos, antes de tudo, almejar que o Estado seja gerido por administradores profissionais, com plano de carreira. As melhores instituições são aquelas poucas em que essa prática é seguida, a exemplo do Itamaraty e do Exército, entre outros. Enquanto entregarmos a gestão do Estado para políticos, conduziremos esse processo ao amadorismo.Temos de aprender com os últimos acontecimentos e realizar uma mobilização contra interesses políticos e corporativistas, que buscam privilégios distorcidos e sem fundamento. O Estado e a sociedade como um todo precisam passar por um saneamento profundo, em benefício de todos. Afinal, dispomos de recursos escassos e, como cidadãos, não podemos permitir que um real sequer deixe de ser aplicado no desenvolvimento econômico e social do Rio Grande do Sul.
jorge.gerdau@gerdau.com.br
* Empresário, presidente do Conselho de Administração da Gerdau.
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